sexta-feira, março 18, 2005

Jorge Tuna - A Guitarra de Coimbra. Disco gravado em 1989 e reeditado em CD no ano de 1997 pela etiqueta Jorsom. É um disco com Jorge Tuna novamente no seu esplendor.
Travei conhecimento com as suas primeiras peças, quando andava ainda no Liceu. Como é possível tocar e compor assim, pensava eu! Era um arrebatamento ouvir Jorge Tuna. Com uma dedilhação a raiar a perfeição, era um espanto ouvi-lo, na rádio, tocar aquelas variaçõres do Artur Paredes, como o Ré maior, por exemplo. Soavam-me melhor que tocadas pelo autor! Estavam revestidas de punhos de renda, sem no entanto lhes faltar a força e a garra do Artur Paredes. Que pena não as ter gravado em disco. E as gravações da Emissora Nacional, onde estão? Ouçam-se as "Variações de Coimbra" de Afonso de Sousa. O próprio autor não se coibia de declarar que as tocava melhor que ele. Mas o "Mi menor", o "Lá maior", o "Si menor" e a "Rapsódia de Fados" eram monumentos à Criação. Estava a nascer uma nova “escola". E veio para ficar.
Hoje é vulgar ouvir dizer-se: "toca à Jorge Tuna". E tem três aspectos esta afirmação: pode referir-se ao conteúdo, à maneira de tocar, ou às duas premissas em simultâneo.
Neste disco saliento “Música Breve”; é uma daquelas peças que me faz abstrair de tudo e escutá-la somente. Excitante de início, tranquiliza-nos numa notável passagem a menor e acaba levando-nos ao século dezoito e aos seus alaudistas. Em “Os Saltimbancos” saliento o belíssimo trabalho do meu grande amigo Durval Moreirinhas. Por vezes até se pensa estar perante um guitarrista de formação clássica.
Muito mais haveria para dizer. Estes vinte anos de silêncio de Jorge Tuna não o fizeram perder qualidades. Continua a ser a mesma “escola”. Só os temas são agora mais românticos, mais descritivos.

Vou transcrever o que António Almeida Santos anotou para este disco:

A guitarra portuguesa está longe de um ponto de chegada. É, de facto, um filão por descobrir. Quando tentar a travessia da música clássica, que a homóloga espanhola conseguiu com êxito, pode atingir os longes que atingiu a harpa. Faltou-lhe, até agora, esse mínimo que se deve a um instrumento, que é o ser tocado por quem sabe música e não apenas a sente. Salvo excepções contadas, a guitarra portuguesa tem feito o seu caminho à revelia do solfejo.
Mas quando se a ouve gemer pela mão e pela alma do Jorge Tuna, percebe-se que está nela um “velo de ouro” a conquistar. Não há, neste disco, uma asperidade; nem uma só concessão ao êxito fácil da forma sobre o fundo; nem a tentação do já ouvido, tão frequente na criação musical.
Contribuinte deste resultado é o acompanhamento do Durval Moreirinhas, que trata por tu a viola e conhece como poucos o segredo da sua subalternização à guitarra. A ausência das praxísticas segunda guitarra e segunda viola, se adelgaça o volume dos sons, reforça~lhes a justaposição.
Repete-se, com este disco, o milagre de Orfeu: por momentos, rouba-nos aos infernos da vida. E não menos o milagre sinalagmático do Dr. Fausto: no equador da vida, este professor – médico dos corações – rebela-se contra as rotinas da profissão e cura as resignações do próprio. Só que a coramina é outra: sacode o pó da velha guitarra, desenferruja os dedos e, com surpresa, reencontra intacta a alma.
O que agora criou é do melhor de sempre. E também do melhor de sempre que em Coimbra se fez. Há composições neste registo que vieram para ficar.
Não põem problemas? Não derrubam Bastilhas? É verdade que não! Aquietam revoltas? É verdade que sim!
Mas que ninguém se iluda: a beleza é sempre subversiva.

Biografia de Jorge Tuna (Tirada da capa do disco): Jorge Tuna é Licenciado em Medicina pela Universidade de Coimbra, cidade de onde é natural. Reconhece em Artur Paredes a figura tutelar fundadora da moderna guitarra de Coimbra; inicia em meados de cinquenta a aprendizagem e estudo do instrumento. Sempre acompanhado pelo Durval Moreirinhas, rapidamente atinge, no campo da composição e da execução, níveis pouco comuns no panorama artístico nacional.Enquanto estudante foi membro do Orfeão e da Tuna Académica.; inúmeras digressõe por terras de além fronteira, acompanhando os nomes mais representativos da canção de Coimbra – Zeca Afonso, Sutil Roque, Machado Soares, Adriano Correia de Oliveira e outros. Totalmente absorvido pela sua actividade profissional – professor da Universidade de Lisboa – aceita o desafio de alguns amigos e põe termo a um interregno de 20 anos; quebrado o silêncio, aqui vos deixo a presente obra.

Biografia de Durval Moreirinhas (tirada da mesma capa): Durval Moreirinhas é natural de Celorico de Basto. Com a ajuda e apoio de seu pai, grande amante e conhecedor da música coimbrã, bem cedo se iniciou no campo musical que ainda hoje é o seu – a viola de acompanhamento de fado, balada ou guitarra. Nomes grandes da canção de Coimbra foram por si acompanhados – Luís Goes, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Machado Soares, António Bernardino, e tantos outros. Também os maiores solistas de guitarra, com maior ou menor incidência temporal, foram por si acompanhados: Jorge Tuna, Eduardo Melo, António Portugal, António Andias, João Bagão, Octávio Sérgio, Fontes Rocha, etc. Fez parte dos grupos de fado que a seu tempo pontificaram nos organismos Académicos – Orfeão e Tuna – actuando em algumas das mais célebres salas de concerto mundiais.: Lincoln Center (N. York), Olympia (Paris), tendo até hoje colaborado em dezenas de gravações de discos e actuado em programas de rádio e televisão nacionais e estrangeiras.

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