terça-feira, maio 24, 2005

Nasceu um novo instrumento português
(Texto de Isabel Damião, do jornal "O Primeiro de Janeiro")
(Artigo enviado por João Paulo Sousa do grupo "Toada Coimbrã")


Carlos Paredes idealizou-o, Gilberto Grácio construiu-o e António Eustáquio é o homem que tem a missão de o apresentar oficialmente. Trata-se do Guitolão, o novo instrumento musical português – uma extensão da guitarra portuguesa. Criar um instrumento que valesse por si só, sem necessidade de ter a viola, ou outro qualquer instrumento para o acompanhar foi a ideia a partir da qual Carlos Paredes idealizou a Guitarra Portuguesa Barítono, posteriormente designada Guitolão, pelo construtor Gilberto Grácio. O objectivo, conforme explica o músico António Eustáquio, era “conseguir um instrumento com uma grande tacitura, com uma extensão de sons graves e agudos, que tivesse um leque bastante grande em termos de frequências”.
Posto isto, Carlos Paredes falou com o seu construtor, Gilberto Grácio, “e disse-lhe que gostava de ter um instrumento com determinado tipo de características – uma guitarra portuguesa, mas mais grave, que tivesse um tipo de sonoridade que lhe permitisse tocar outro tipo de música”, esclarece António Eustáquio. “Entretanto – continua – Gilberto Grácio fez um protótipo, isto é, uma guitarra de Coimbra com um braço maior e o Carlos Paredes ainda gravou uma música com esse instrumento, com a cantora Sofia de Melo e o poeta Manuel Alegre, divulgada na colectânea «O mundo segundo Carlos Paredes – Integral 1958-1993»”.
Passado pouco tempo Carlos Paredes adoece e Gilberto Grácio desiste do projecto.Um dia António Eustáquio é surpreendido com um telefonema da companheira de Carlos Paredes que lhe diz que gostava de lhe mostrar um instrumento que lá estava em casa, “e eu fiquei fascinado com os sons, gravámos logo uma cassete que ela levou ao Sr. Grácio. Ele entusiasmou-se novamente com a ideia e construiu o guitolão com madeiras que lá tinha há muitos anos”, recorda o músico.
Aquando do funeral de Carlos Paredes, António Eustáquio encontra-se com o construtor de guitarras e falam uma vez mais do novo instrumento que estava na forja, nesse dia [no dia 23 de Julho] “reiniciámos a conversa e a partir daí começou todo um trabalho de construtor e de equipa até que chegou às minhas mãos o que é o novo instrumento português idealizado pelo Carlos Paredes”, confessa com uma ponta de orgulho.
Apresentação oficial
António Eustáquio, detentor do primeiro exemplar deste novo instrumento, vai apresentá-lo publicamente, no dia 18 de Junho, em Marvão, acompanhado pelo Quarteto Iberoamericano, do qual faz parte António Miranda, seu companheiro no projecto Camerata Lusitana [ver texto inferior]. Um espectáculo que será gravado em DVD, o qual, posteriormente, integrará um DVD promocional de Marvão para divulgação da cidade, candidata a Património Mundial, servindo também para divulgar este novo instrumento.
O reportório de apresentação do guitolão já está pronto. “É composto por originais de minha autoria e algumas músicas de Carlos Paredes”, adianta António Eustáquio.
Curiosidade
Parceria entre as famílias Paredes e Grácio.
“O avô de Carlos Paredes, Gonçalo Paredes, ainda teve guitarras do avô de Gilberto Grácio [construtor de Carlos Paredes]. Ou seja, as famílias Paredes e Grácio tiveram sempre uma grande parceria nesta história da guitarra portuguesa – uma tradição que já não perdura, uma vez que os descendentes do Sr. Grácio não deram continuidade a esta arte”, refere António Eustáquio.

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