sábado, junho 25, 2005

Bloco de Notas (15)

1981 ... De 17 a 21 de Fevereiro gravei o meu primeiro disco de guitarra a solo, acompanhado por Armando Luís de Carvalho Homem. Foram dez peças de minha autoria. A mistura vai ser a 6 de Maio. Não estou a gostar muito da gravação. Em algumas peças notam-se muitos ruidos estranhos que não sei donde vêm. É certo que este disco foi elaborado muito sobre o joelho. Não houve amadurecimento das peças, coisa que só se obtém depois de muito tocadas em público e criticadas. Os ensaios também foram em reduzido número. Será que na mistura se pode fazer alguma coisa para melhorar? Vamos esperar para ver. Ainda vamos repetir a Fantasia “A Espanhola”, pois o Armando Luís não gostou do que lá fez. Em princípio o disco sairá no início do Verão.
Fui comemorar o Carnaval para casa da esteticista Maria de Lurdes. Foram a Isabel, Durval Moreirinhas e Inês, António Bernardino e Eugénia, Rui Gomes Pereira e José Tito Mackay. Saímos de lá às seis da manhã, embora, pelo meio, tenhamos ido ao “Painel do Fado”. Daqui levámos connosco Arménio de Melo, o guitarrista desta Casa de Fados que possui uma dedilhação já de alto nível, e que executa uns acompanhamentos bastante originais. Na mesma Casa actua Martinho d’Assunção e o neto Vital Assunção.
Vou fazer dois cortes numa das peças gravadas, “Ensaio nº 1”. Tem uma duração de mais de cinco minutos e, por isso, corto uma repetição que fiz com uma execução um pouco fraca e ainda uma subida em tons a anteceder o final, que não ficou bem tocada. Eu não gosto de repetir as gravações; só mesmo sendo obrigado, como é o caso da Fantasia.
Fernando Albuquerque, o homem de negócios do Arnaldo Trindade, etiqueta onde gravei, perguntou-me se não queria acompanhar José Afonso no disco que este quer gravar utilizando temas cantados por Edmundo de Bettencourt. É claro que não me neguei. Para mim será um prazer e uma honra. Não será a primeira vez que o acompanho, pois fiz uma tournée com ele e com o Coral das Letras por terras algarvias, quando ainda estudante. Gostou dos meus acompanhamentos. Dizia que comigo não tinha problemas, era só anunciar o fado e logo sabia o tom, e a introdução a fazer; não era complicado como os outros! Não sei a quem se referia! Com efeito, na altura tinha um conhecimento muito profundo do que se cantava e tocava em Coimbra.
Fui convidado pelo meu amigo e companheiro de Liceu, Pedro Valente dos Santos a ir tocar a Paris. Como o Durval Moreirinhas não pode ir, convidei Carlos Teixeira, do Porto - que além de tocar viola também canta - e Rui Gomes Pereira. A partida será a 17 de Abril.
Nasceu uma filha de Armando Luís de Carvalho Homem a que pôs o nome de Constança Isabel. Vai ser uma companheira para Gustavo, o irmão mais velho.
Fui ao Porto buscar uma guitarra que tinha encomendado na casa António Duarte – que por sinal não me agradou – e aproveitei para ir a casa de Alexandre Brandão, um ilustre guitarrista. Fiquei pasmado com a sua execução. Não seria fácil, posto ao lado de Artur Paredes, saber quem estaria a tocar. Além de peças de Artur Paredes, tocou algumas de Carlos Paredes. A guitarra com que tocou tem uma boa sonoridade. Toquei algumas peças minhas e pareceu-me que gostou delas.
Fui a Paris a 17 e voltei a 26 à noite. Fui de avião.Os espectáculos correram bem. Só me posso queixar do último pelo facto do recinto estar superlotado e a aparelhagem ser fraca. Quando assim é, aparecem os inevitáveis ruídos. Actuámos em Asnières, Montigny-Les-Cormeilles e Vicky. O meu amigo Pedro e a esposa Claude, foram incansáveis.
Fui ao IV Seminário sobre o “Fado de Coimbra” que decorreu no último fim de semana de Abril. Na sessão da tarde, toquei duas peças minhas, acompanhado por Armando Luís de Carvalho Homem e tivemos um êxito inesperado.Nunca imaginei que isso pudesse suceder. Na primeira, Fantasia “A Espanhola”, recebemos uma salva de palmas, extraordinária. Fiquei admiradíssimo, dado o tipo de música que é. Seguidamente tocámos Flores em Abril, que obteve outro êxito semelhante. Toquei com a guitarra de António Portugal, de construção Kim Grácio e, na verdade, penso que dei bastante expressão, principalmente à Fantasia. Claro que fui ajudado pela belíssima sonoridade da guitarra embora, como não estava habituado a ela, me fosse difícil obter uma execução óptima. No final e durante o jantar, a maioria dos presentes veio dar-nos os parabéns. Na generalidade gostaram mais de Flores em Abril. Os acompanhamentos de Carvalho Homem foram muito apreciados.
À noite, junto à porta da casa de Raúl Diniz, tocámos Entreacto, Nas Linhas de Torres e Capricho em Lá. Utilizei a guitarra de David Leandro. A última peça teve um sucesso tremendo. Estavam a ouvir-nos Mário de Castro, pai e filho. Este disse que ficou maluco com o que tocámos, que ia deixar de tocar viola, ele que é um exímio tocador de guitarra clássica, verificação feita depois desta actuação, nas escadas da Faculdade de Letras, onde tocou mais de meia hora para me deliciar! Enfim, na altura não o conhecia mas, agora, sei que são reacções naturais, sempre que ouve algo fora do vulgar.
António Brojo e António Portugal apresentaram cada um sua peça, de muito bom gosto ambas mas, o que mais me impressionou, foi o tipo de acompanhamento que lhes fizeram, em harpejos. Dava-lhes um efeito lindíssimo.
Álvaro Aroso também tocou uma peça em Fá #, muito interessante, embora lhe conheça outras melhores. Brindou-nos ainda com Danças Portuguesas de Carlos Paredes, muito certinha e com muito bom som.

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