segunda-feira, outubro 10, 2005

DISCOGRAFIA DE ARMANDO GOES

Por José Anjos de Carvalho

Armando do Carmo Goes (Gândara, 01-03-1906; Lisboa, 27-06-1967) fez o liceu em Leiria, os Preparatórios no Porto e ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra em 1924, curso que concluiu em 1930.
Durante a frequência do curso gravou sete discos de 78 rpm todos para a His Master’s Voice, acompanhado sempre por Albano de Noronha e Afonso de Sousa, este à viola por vezes.
Armando Goes gravou o seu primeiro disco em Maio de 1927, com músicas de sua autoria e dos restantes seis, alguns deles também com música sua, quatro foram gravados em 1928 e, os últimos dois, em 1929.
Gravou 3 sonetos acompanhado exclusivamente à viola por Afonso de Sousa mas só um deles foi editado. Lamentavelmente, não há uma única gravação de Armando Goes que esteja vertida em CD e, nem sequer, em vinil.

DISCOGRAFIA:

Gravações de 1927:
Disco His Master’s Voice, E.Q. 32[1]
7-62161 – FADO DOS BUSOS (De ser Maria o teu nome)[2]
7-62162 – FADO DA PÁTRIA (Bandeira das cinco chagas)

Gravações de 1928:
Disco His Master’s Voice, E.Q. 139
7-62204 – FADO DOS CEGOS (Sou ceguinho de nascença)
7-62205 – NOITE DE LUAR (Eu tive um sonho, um sonho de encantar)

Disco His Master’s Voice, E.Q. 170
7-62223 – FADO DA VIDA (A vida é como o vento)
7-62224 – FADO HESPANHOL (Deixa-me olhar os teus olhos)

Disco His Master’s Voice, E.Q. 183
7-62227 – CANÇÃO DAS LÁGRIMAS (Lágrimas que a gente chora)
7-62228 – O MEU FADO (Esse ar da santa a brilhar)

Disco His Master’s Voice, E.Q. 192
7-62231 – FADO DA SAUDADE (Saudade, quem as não tem)
7-62232 – FADO ALENTEJANO (Fechei a porta à desgraça)

Gravações de 1929:
Disco His Master’s Voice, E.Q. 238
30-1725–FADO DE DESPEDIDA DO 5º ANO MÉDICO (Foram-se as fitas queimadas)
30-1726 – CHEIA DE GRAÇA (Teus olhos, contas escuras)

Disco His Master’s Voice, E.Q. 245
30-2092 – ASAS BRANCAS (Quando era pequenino, a desventura)
30-2093 – FADO DE COIMBRA (Nossa Senhora da Graça)

LETRAS:

FADO DOS BUSOS (De ser Maria o teu nome)
Música: Armando Goes
Letra: (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência
I
De ser Maria o teu nome,
Cometi uma heresia:
– Esqueci o Padre-nosso,
Rezo só Ave-Maria.
II
Quem me dera o Senhor-fora
Mais a hora da Agonia,
Se cantasses o Bendito
À minha porta, Maria.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por Armando Goes, em Maio de 1927, acompanhado à guitarra por Albano de Noronha e, à viola, por Afonso de Sousa (disco His Master’s Voice, B 4693, posteriormente sob o nº de catálogo HMV, E.Q. 32).
A música é a mesma do fado “São Tão Lindos os Teus Olhos”, gravado em 1960, em Madrid, por Paradela de Oliveira (EP Saudades de Coimbra Nº 1, Philips, 431 901 PE).
No «Catálogo para Portugal de Discos His Master’s Voice» referente a 1928, só figura este disco de Armando Goes (Fado dos Busos e Fado da Pátria); no dito catálogo vem Fado dos Busios e, não, dos Busos.
Os busos são instrumentos de corda, o Senhor-fora é o viático, o sacramento da comunhão ministrado aos enfermos em sua casa e, o Bendito, é uma oração religiosa que tem por incipit «Bendito e louvado seja…».

FADO DA PÁTRIA (Bandeira das cinco chagas)
Música: Armando Goes
Letra: António Correia de Oliveira (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência
I
Bandeira das cinco chagas,
Se Deus a visse no chão
Viria do céu à terra
Erguê-la por sua mão.
II
É tão cheiinha de encantos
A minha terra natal,
Que o Tejo, que nasce em Espanha,
Vem morrer em Portugal.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por Armando Goes, em Maio de 1927, acompanhado à guitarra por Albano de Noronha e, à viola, por Afonso de Sousa (disco His Master’s Voice, B 4693, posteriormente sob o nº de catálogo HMV, EQ 32)
Quanto ao autor da letra, foi-me em tempos referido que era o poeta António Correia de Oliveira mas não encontrei ainda comprovativo algum.

FADO DOS CEGOS (Sou ceguinho de nascença)
Música: (?)
Letra: João Bastos e Bento Faria
Edição Musical: Desconheço a sua existência
I
Sou ceguinho de nascença!
Isto assim não é viver!
A minha dor é imensa!
Quem me dera já morrer!...
II
Porque assim fui condenado
Sem fazer mal a ninguém?
Vivo em trevas sepultado,
Não conheço pai nem mãe!

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por Armando Goes, em Outubro de 1928, acompanhado exclusivamente à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (disco His Master’s Voice, E.Q. 139).
Trata-se de uma adaptação da Canção da Ceguinha (Sou ceguinha de nascença), da opereta em 4 actos «O FADO», de João Bastos e Bento Faria, cuja estreia teve lugar no Teatro Apolo, em 27 de Novembro de 1910. A Canção da Ceguinha foi cantada na dita opereta por Zulmira Miranda (1894-1977). A canção compreendia um total de seis quadras, cujas primeiras duas são as seguintes na sua versão original:

Sou ceguinha de nascença!
Isto assim não é viver!
Minha tristeza é imensa,
Quem me dera já morrer!

Porque assim fui condenada,
Se não fiz mal a ninguém?
Vivo em trevas sepultada.
Não conheço pai nem mãe.

Anteriormente, na Primavera de 1928, já António Menano tinha gravado este mesmo fado sob o título Fado do Ceguinho (discos Odeon, 136.817 e A 136.817, master Og 653). A letra da gravação de António Menano difere ligeiramente da de Armando Goes, encontra-se disponível em compact disc (CD António Menano – Fados) e é a seguinte:

Sou ceguinho de nascença!
Isto assim nem é viver!
Minha tristeza é imensa!
Quem me dera a mim morrer!....

Vivo em trevas sepultado
Sem fazer mal a ninguém;
Sou ceguinho de nascença
Não conheço pai nem mãe.

(NOITE DE LUAR (Eu tive um sonho, um sonho de encantar)
Música: D. José Paes de Almeida e Silva
Letra: António de Sousa
Edição Musical: Desconheço a sua existência

Eu tive um sonho, um sonho de encantar,
Um sonho medieval, de trovador...
Sonhei, Senhora, que era o vosso amor
Em certa noite branca de luar.

Namorado leal e cavalheiro,
Por minha Dama fui-me a batalhar,
Em certa noite branca de luar
Jurei sua beleza ao mundo inteiro.

Depois... o sonho morre. E, quem morreu
Já não é bem da terra, nem do céu...
Saudoso adeus, dum lenço à luz do luar...

Seguimos cada qual o nosso rumo...
Desfez-se aquele sonho como o fumo
Em certa noite branca de luar.

Informação complementar:
O soneto canta-se todo de seguida, e apenas se repete o último verso.
Gravado pela primeira vez por Armando Goes, em Outubro de 1928, acompanhado exclusivamente à viola por Afonso de Sousa (disco His Master’s Voice, E.Q. 139); no disco figura apenas o nome de D. José Paes, indicativo de ser o autor da música.

FADO DA VIDA (A vida é como o vento)
Música: Armando Goes
Letra: (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência
I
A vida é como o vento,
Toma todas as feições,
Ora parte em sofrimento,
Ora traz desilusões.
II
A vida é longa resenha
De riso, de pranto e dor;
É pra que a morte não venha
Revelar-se um mal maior.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por Armando Goes, em Outubro de 1928, acompanhado exclusivamente à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (disco His Master’s Voice, E.Q. 170); no disco vem a indicação de a música ser de Armando Goes.

FADO HESPANHOL (Deixa-me olhar os teus olhos)
Música: (?)
Letra: (?)
Edição musical: Sassetti & C.ª (com capa de Stuart de Carvalhais)
I
Deixa-me olhar os teus olhos
Que são a vida dos meus;
Nesta vida só de abrolhos
Nos teus olhos vejo o céu.
II
Se toda a água do mar
Fosse espalhada na terra,
Não chegava pra lavar
Toda a mágoa que ela encerra.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por Armando Goes, em Outubro de 1928, acompanhado exclusivamente à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (disco His Master’s Voice, E.Q. 170); no disco, por baixo do título, vem o nome Menano entre parêntesis, indicativo de que a música seria de um deles, provavelmente de António Menano, que também gravou este fado. Tenho fortes dúvidas que tal indicação esteja correcta.
A música deste fado foi efectivamente editada com uma outra letra, copyright de 1927, pela Sassetti e nessa edição não vem a indicação que a música seja de António Menano. O seu nome figura na capa e no interior (como factor de promoção), sem indicação expressa da autoria da música, o que significa apenas ser mais um fado cantado por António Menano. Além disso não contém qualquer dedicatória, como acontece sempre que a música é dele, o que vem confirmar ser apenas um fado por ele cantado e nada mais.

Efectivamente, António Menano gravou este fado ainda antes de Armando Goes, em Maio de 1927, em Paris, e mais tarde em Berlim, em Dezembro de 1928, cantando a letra que figura na edição musical da Sassetti (Discos Odeon, 136809 e A 136809, master Og 575, e LA 187815, master Og 1014).

Este mesmo fado, com o mesmo título mas uma outra letra e tendo por incipit a quadra do poeta e jornalista Bernardo Rodrigues de Passos (1876-1930) – Eu não sei quem fez o fado – foi também gravado pela mezzo soprano D. Luiza Baharem com acompanhamento de guitarra e viola (Disco Columbia, 1032-X, master P.145, edição americana); no disco vem a indicação de “Folksong” e pelo número do master, a gravação deveria ter ocorrido em Maio de 1927. Esta quadra de Bernardo de Passos é a 1ª quadra do Fado da Récita de Despedida dos Quintanistas de 1903-1904, além de também ter sido gravada por Chico Caetano como 2ª quadra do Fado Hilário (Disco Odeon, 136.336, master Og 716).

O mesmo fado foi também gravado em 1965 por Fernando Gomes Alves, acompanhado à guitarra por Eduardo de Melo e Ernesto de Melo e, à viola, por Durval Moreirinhas, mas com uma outra letra e sem indicação de autorias (EP Fados de Coimbra, Ofir, AM 4.068), sob o título Fado Antigo (Eu passo noites inteiras).

CANÇÃO DAS LÁGRIMAS (Lágrimas que a gente chora)
Música: Armando Goes
Letra: (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência
I
Lágrimas que a gente chora
E sufocam nossos ais…
Deixemo-las ir embora…
Que elas vão… não voltam mais.
II
Tanta dor, tanta amargura
A sulcar faces tão belas…
E tanta água que é pura
A lavar sujas vielas.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, canta-se o 2º e só se repete o 2º.
Gravada pela primeira vez por Armando Goes, em Outubro de 1928, acompanhado exclusivamente à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (disco His Master’s Voice, E.Q. 183); o disco trás a indicação de a música ser de Armando Goes.

Desconheço de quem sejam as quadras. Com o passar do tempo a 1ª quadra foi “burilada” no 3º verso com melhoria da prosódia (Deixai-as lá ir embora) e passou-se a cantar e a repetir sempre o 1º dístico de cada quadra.
Na 2ª quadra tenho dúvidas quanto ao 2º verso e admito que a versão original possa ser «A ocultar faces tão belas», apesar do verso passar a hipercatalético (Cf. Divaldo de Freitas, EMUDECEM ROUXINÓIS DO MONDEGO, pág. 66).
A mesma 2ª quadra é cantada por Fernando Machado Soares (CD Fernando Machado Soares, Philips, 808-108-2, e CD n.º 2 de Tempo(s) de Coimbra,) que, tal como Armando Goes, canta «sulcar», e não «ocultar». Em contrapartida, na 1ª quadra, canta o 3º verso na versão modificada mas altera o verso final para «Que elas vão, nem voltem mais».

A letra gravada por Alcindo Costa é a mais generalizada (CD Saudades de Coimbra/Grupo Serenata de Coimbra, Videofono, VCD 50004, editado em 1993). Canta a 1ª quadra na versão modificada e, como 2ª quadra, a seguinte:

De tantos beijos que demos,
Que tu me deste e eu te dei,
Tanto trocámos as bocas
Que eu nem da minha já sei.

José Mesquita canta a 1ª quadra na versão modificada e substitui a 2ª quadra pela primeira quadra do Fado da Récita de Despedida do 5º Ano Jurídico de 1905-1906 (Terra de Amores), cantado por Custódio José Vieira na dita Récita, e que é a seguinte, da autoria de Camilo de Castelo Branco:

Ó fonte que estás chorando,
Não tardarás a secar;
Mas os meus olhos são fontes
Que não param de chorar.

O MEU FADO (Esse ar de Santa a brilhar)
Música: Armando Goes
Letra: 1ª Quadra: (?)
2ª Quadra: António Botto (modificada)
Edição musical: Desconheço a sua existência
I
Esse ar de santa, a brilhar,
Que do teu rosto esvoaça,
Põe meus lábios a rezar:
– Maria, cheia de graça.
II
Não me peças mais cantigas
Que eu a cantar vou sofrendo,
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por Armando Goes, em Outubro de 1928, acompanhado exclusivamente à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (Disco His Master’s Voice, E.Q. 183).
Desconheço quem é o autor da 1ª quadra. A quadra de António Boto apresenta-se modificada, presumo que por razões de prosódia

Luiz Goes gravou este fado em 1967, acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão e Aires Máximo de Aguilar e, à viola, por António Simão Toscano e Fernando Neto Mateus da Silva (LP Coimbra de Ontem e de Hoje, e CD Coimbra de Ontem e de Hoje).
Luiz Goes não canta a letra original do fado; como primeira quadra canta a segunda na versão original de António Boto e, como segunda, canta uma outra quadra de António Boto que para o efeito lhe fora arranjada por Leonel Neves. Eis a letra que canta:

Não me peças mais canções
Porque a cantar vou sofrendo,
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

Tem quatro letras apenas
A triste palavra amor,
Menos uma do que a morte,
Mas mais uma do que a dor.

José Mesquita também gravou este fado, mas com duas outras quadras, a primeira de António Ferreira Guedes e, a segunda, de Eugénio Sanches da Gama, acompanhado à guitarra por António Brojo e Jorge Gomes e, à viola, por Aurélio Reis e Manuel José Dourado (LP Dr. José Mesquita – Fados e Baladas de Coimbra, Roda, SSRL 9001).
A letra é a seguinte:

Tenho saudades do mundo,
Tenho saudades da vida,
Mas mais saudades eu tenho
Por te saber já perdida.

Não choram os meus pecados
Os meus olhos a chorar;
Choram ainda, coitados,
Com saudades de pecar!

Numa outra gravação, disponível em compact disc (CD Nº 1 de Tempo(s) de Coimbra), José Mesquita, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Luis Filipe, utiliza a referida segunda quadra como primeira e, como segunda, canta esta outra de António Ferreira Guedes:

Nós somos na despedida
Duas saudades à espera
Que a morte venha e nos traga
Um resto de primavera.

Há ainda quem cante este fado com as duas quadras de António Ferreira Guedes “Tenho saudades do mundo” e “Nós somos na despedida”.

Noutras gravações este fado aparece sob o título “Não me peças mais cantigas”, ou “Nunca chores junto à Nora” e, também, como “Fado da Nora”. A diferença entre os dois primeiros títulos reside na ordem das quadras. Arrisco-me a afirmar que este “novo fado” era mais conhecido e esteve mais em voga que O Meu Fado (Esse ar de santa a brilhar), entre meados dos anos 30 e princípios dos anos 40.
Mas o mais curioso é que Carvalho de Oliveira gravou este mesmo fado sob o título «Não Me Peças Mais Cantigas» uns anos antes da gravação de Armando Goes, tendo como 2ª quadra «Nunca chores junto à nora», de José Marques da Cruz (disco Pathé, n.º 4047, master 201012).
Com o chamado Fado da Nora (Nunca chores junto à nora) cantava-se habitualmente a quadra de António Boto modificada, como 2ª quadra, mas por vezes esta era substituída por uma outra do antigo estudante de Coimbra Domingos Garcia Pulido (Vidigueira, 1892; Lisboa, 1973), menos conhecida, e que é a seguinte:

A saudade faz lembrar
A melopeia da nora;
Se a uns parece cantar,
Parece a outros que chora.

FADO DA SAUDADE (Saudade, quem a não tem)
Música: Armando Goes
Letra: (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência
I
Saudade, quem a não tem
Dum amor que foi bem seu?
(Ai1) Ter saudade é querer bem
A alguém que a gente perdeu.

Passo em rezas noite e dia
Sem delas me aperceber,
(Ai1) Rezar não é só dizer
Padre-nosso, Avé-Maria.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por Armando Goes, em Outubro de 1928, acompanhado exclusivamente à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (disco His Master’s Voice, E.Q. 192).
A música é a mesma do chamado Fado das Saudades (Saudades de alguém ausente), gravado em 1969 por Luiz Goes com letra de Leonel Neves. Segundo me comunicou o Dr. Leonel Neves, no verão de 1996, na sua casa de Odeáxere, no Algarve, esta nova letra foi feita propositadamente por ele, por volta de 1940, a pedido de Armando Goes, para substituir a do referido fado gravado em 1928.

FADO ALENTEJANO (Fechei a porta à desgraça)
Música: Armando Goes
Letra: 1ª Quadra: Popular (séc. XIX)
2ª Quadra: Silva Tavares (1923)
Edição musical: Desconheço a sua existência

Fechei a porta à desgraça,
Entrou-me pela janela:
Quem nasceu para a desgraça
(Ai2) Não pode fugir a ela!

Tanto a desgraça me alcança,
Que já me sinto cansado
Da vida que não se cansa
(Ai2) De me fazer desgraçado.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 3º verso, canta-se o 2º dístico e repete-se o 2º dístico.
O fado foi gravado por Armando Goes, em Outubro de 1928, acompanhado à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (Disco His Master’s Voice, E.Q. 192).
A autoria musical deste fado foi confirmada por Luiz Goes na entrevista conduzida por Carlos Carranca, inserta no livro intitulado Luiz Goes de Ontem e de Hoje, edição da Universitária Editora, Lisboa, 1998, pág. 12.
A 1ª quadra é popular e encontra-se em variadíssimos cancioneiros, tais como Mil Trovas Populares Portuguesas e em António Tomás Pires, Leite de Vasconcelos e outros. A 2ª quadra é do poeta João Silva Tavares, e encontra-se no livro Quem Canta, editado em 1923.

Este fado foi gravado por António Bernardino em 1966, acompanhado à guitarra por António Portugal e Manuel Borralho e, à viola, por Rui Pato (EP Fados de Coimbra, Alvorada AEP 60817); está disponível em long play (LP Coimbra, Alvorada ALV-04-19 e LP Aquila, AQU 02-49) e em compact disc (CD Nº 45/O Melhor dos Melhores, Movieplay, MM 37.045 e CD Nº 30/Clássicos da Renascença, Movieplay, MOV. 31.030).

Gravado também por Victor Silva, em 1986, do Grupo Académico Serenata, do Porto (LP Fados de Coimbra, Orfeu, LPP 44).
Com um outro título e uma outra letra, foi gravado por Raul Dinis, acompanhado à guitarra por Jorge Gomes e António Ralha e, à viola, por Manuel Dourado, intitulado Um Fado (Ó vida, que mais queres), letra da autoria do cantor (CD Coimbra de Sempre, Discossete, DDD CD 971000, de 1993).

FADO DA DESPEDIDA DO 5º ANO MÉDICO (Foram-se as fitas queimadas)
Música: Manuel Raposo Marques e Eduardo Vaz Craveiro
Letra: Eduardo Vaz Craveiro
Edição musical: Desconheço a sua existência
I
Foram-se as fitas queimadas
E o fumo subiu no ar;
Ao ver o fumo das fitas
Senti a alma a chorar.
II
Oh meu amor pobrezinho!
Oh minha esguia andorinha!
Toma lá, faz o teu ninho
Na minha capa velhinha.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por Armando Goes, em Setembro de 1929, acompanhado à guitarra por Albano de Noronha e, à viola, por Afonso de Sousa (Disco His Master’s Voice, E.Q. 238).
Segundo informação de Eduardo Dinis Gomes Vaz Craveiro, filho do autor da letra, a música foi feita por Raposo Marques de parceria com seu pai e não apenas e só por Raposo Marques. Tanto quanto julgo saber, na discografia só figura apenas o nome de Raposo Marques como autor da música.
Trata-se do “Fado da Récita de Despedida do V Ano Médico de 1927-1928”, récita levada à cena no Teatro Avenida na noite de 25 de Maio de 1928 e cuja peça, constituída por um prólogo, dois actos e cinco quadros, da autoria dos quintanistas José de Matos Braz e Eduardo Vaz Craveiro, se intitulava «O Veneno das Seringas».
A letra completa do Fado da Récita é constituída por quatro quadras pela ordem por que se indicam:
I
Guitarras!... Nossas guitarras,
De voz troveira em saudade;
Chorai mansinho, chorai
Num adeus à Mocidade.
II
Foram-se as fitas queimadas
E o fumo subiu no ar;
Ao ver o fumo das fitas
Senti minh’alma a chorar.
III
E o fumo sempre subindo
Foi a perder-se nos Céus,
Como a dizer que partia
A pedir por nós a Deus.
IV
Oh meu amor pobrezinho!
Oh minha esguia andorinha!
Toma lá, faz o teu ninho
Na minha capa velhinha.

Armando Goes canta a 2ª e a 4ª quadras mas altera o 4º verso para «Senti a alma a chorar».
Fernando Rolim gravou este fado em 1958, sob o título Fado de Despedida (Ó meu amor pobrezinho), acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Mário de Castro (EP Fernando Rolim, Parlophone, LMEP 1028), invertendo a ordem das referidas duas quadras.
O fado foi cantado na Sé Velha, na Serenata Monumental da Queima das Fitas de 1989 pelo Grupo Académico de Fados e Canções de Coimbra.

CHEIA DE GRAÇA (Teus olhos, contas escuras)
Música: Albano de Noronha
Letra: 1ª Quadra: Augusto Gil (1898)
2ª Quadra: Popular
Edição musical: Desconheço a sua existência
I
Teus olhos, contas escuras,
São duas Ave-Marias
Dum rosário de amarguras
Que eu rezo todos os dias.
II
Esse ar de santa, a brilhar,
Que do teu rosto esvoaça,
Põe meus lábios a rezar:
– Maria, cheia de graça!

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado pela primeira vez, em Setembro de 1929, por Armando Goes, acompanhado à guitarra por Albano de Noronha e, à viola, por Afonso de Sousa (Disco His Master’s Voice, E.Q. 238).
No disco, por baixo do título, vem a indicação de a música ser de Albano de Noronha.
A 1ª quadra vem no livro VERSOS, de Augusto Gil, cuja 1ª edição veio a lume em 1898. A 2ª quadra é considerada Popular e vem no Colecção dos Mais Lindos Fados e Canções, da Livraria Barateira, Rua do Duque, 34-36, Lisboa.
Desconheço quem mais tenha gravado este fado de Albano de Noronha.

ASAS BRANCAS (Quando era pequenino a desventura)
Música: Afonso de Sousa
Letra: Afonso de Sousa (sobre um tema de Almeida Garrett)
Edição musical: Desconheço a sua existência.
I
Quando era pequenino, a desventura
Trazia-me saudoso e triste o rosto,
Assim como quem sofre algum desgosto,
Assim como quem chora de amargura.
II
Um anjo de asas brancas, muito finas,
Sabendo-me infeliz mas inocente,
Cedeu-me as suas asas pequeninas,
Para me ver voar e ser contente.
III
E as asas de criança, o meu tesoiro,
Ao ver-me assim tão triste iam ao céu…
Tão brandas, tão macias – penas de oiro –
Tão leves como a aragem… como eu!
IV
Cresci. Cresceram penas juntamente,
Já grandes são as mágoas mais pequenas!
As asas brancas vão-se… ficam penas!
Não mais subi ao céu, nem fui contente.

Informação complementar:
Composição com duas partes musicais. As estrofes cantam-se duas a duas, sem repetir verso algum.
Gravada pela primeira vez, em Setembro de 1929, por Armando Goes, acompanhado à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (Disco His Master’s Voice, E.Q. 245). Este disco, porém, ainda não consegui arranjá-lo.
A letra consta nos livros de Afonso de Sousa, Do Choupal até à Lapa, pág. 65 da 2ª edição, e em Roteiros Subjectivos na Minha Terra, mas verificam-se pequenas discrepâncias ou variantes literárias entre os dois textos.
António Bernardino gravou esta canção em 1967, acompanhado à guitarra por António Portugal e Manuel Borralho e, à viola, por Rui Pato (EP Fados de Coimbra, Alvorada, AEP 60817).
Mais tarde foi gravada por Luiz Goes (Canções do Mar e da Vida) e por José Mesquita (Tempo(s) de Coimbra).

FADO DE COIMBRA (Nossa Senhora da Graça)
Música: Paulo de Sá
Letra: 1ª quadra: Popular
2ª quadra: (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência
I
Nossa Senhora da Graça,
Que tantos milagres fazes,
‘stou de mal com o meu amor,
Senhora, fazei as pazes.
II
Falas de amor só as sabem
Os cegos de olhar profundo;
Há palavras que não cabem
Em toda a luz deste mundo.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em Setembro de 1929 por Armando Goes, acompanhado à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (Disco His Master’s Voice, E.Q. 245).

A música deste fado é a mesma do Fado da Mágoa (Fiz uma cova na areia), anteriormente gravado por António Menano, na Primavera de 1928, em Lisboa (discos Odeon, 136.819 e A136.819, master Og 691), e é também a do fado Olhos Verdes (Teus olhos verdes, gaiatos), gravado em 1968 por Manuel Branquinho, acompanhado à guitarra por si próprio e por Francisco Dias e, à viola, por Manuel Dourado (EP Manuel Branquinho, Orfeu, ATEP 6409).

Como já disse, ainda não consegui arranjar este disco. Segue-se que a letra que apresento pode não estar correcta, pelo que optei por transcrever a letra gravada em 1967 por António Bernardino, acompanhado à guitarra por António Portugal e Manuel Borralho e, à viola, por Rui Pato (EP Fados de Coimbra, Alvorada, AEP 60817), na presunção que a letra cantada por Armando Goes possa ser a mesma.
A 1ª quadra é popular e vem em diversos cancioneiros, Geral dos Açores, Popular Português e outros.

Lisboa, 04 de Outubro de 2005

[1] Este disco era, inicialmente, o His Master’s Voice, B 4693
[2] Este fado é, com uma outra letra, o fado São Tão Lindos os Teus Olhos.

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