segunda-feira, outubro 17, 2005

DISCOGRAFIA DE PARADELA DE OLIVEIRA E RESPECTIVAS LETRAS

Por José Anjos de Carvalho

José Paradela de Oliveira (S. João da Pesqueira, 15-02-1904; Madrid, 18-09-1970) tinha já concluído o curso da Escola Normal de Vila Real quando se matriculou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Frequenta a Universidade durante quatro anos lectivos, entre 1924 e 1928, e seguidamente transita para a Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa onde, em 28 de Junho de 1930, conclui o respectivo curso.
Fez parte do Grupo de Fados da Tuna Académica na digressão desta pelo Brasil, no verão de 1925, grupo constituído por Artur Paredes e Paulo de Sá (guitarras), José Monteiro da Rocha Peixoto (viola) e Agostinho Fontes Pereira de Melo, José Paradela de Oliveira e Lucas Rodrigues Junot (cantores).
Em Maio de 1927 gravou cinco discos de 78 rpm para a His Master’s Voice, acompanhado à guitarra por Francisco da Silveira Morais e, à viola, por António Lopes Dias, discos esses que figuram no Catálogo para Portugal de Discos His Master’s Voice, referente a 1928, edição do Grande Bazar do Porto, impresso nas Oficinas de “O Comércio do Porto” (pág. 5/71).
No ano seguinte, em Outubro de 1928, volta a gravar mais um disco, novamente acompanhado por Francisco da Silveira Morais e por António Lopes Dias.
Três décadas mais tarde, em Outubro de 1960, em Madrid, já Paradela se aproximava do estatuto de “sexagenário”, voltou novamente a gravar, desta vez acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão Moisés (1921-1992) e José Maria Amaral (1919-2001) e, à viola, por Arménio Silva.
José Paradela de Oliveira é autor da música dos seguintes fados: Fado das Penumbras, Fado das Andorinhas, Fado do Fim, Nunca e Sempre e Fado da Desesperança.

Primeira Parte
DISCOGRAFIA de 78 rpm

Gravações de 1927:
Disco His Master’s Voice, E.Q. 40[1]
7-62159 – Amor de Estudante (Dizem que o amor dum estudante)
7-62160 – Fado do 5º Ano Médico de 1926 (Vida, que és o dia de hoje)

Disco His Master’s Voice, E.Q. 70
7-62166 – O Meu Menino (O meu menino é d’oiro)
7-62167 – Fado das Penumbras (À noite tudo comunga)

Disco His Master’s Voice, E.Q. 82
7-62174 – Um Fado de Coimbra (És linda mas… foras feia)
7-62175 – Um Fado Triste (Assim chego aos teus pés)

Disco His Master’s Voice, E.Q. 85
7-62170 – Fado Antigo (Saudades d’amor quem há-de)
7-62171 – Fado da Vida (Ao morrer os olhos dizem)

Disco His Master’s Voice, E.Q. 86
7-62172 – Fado da Sé Velha (Aquela moça de Aldeia)
7-62173 – Fado de Santa Cruz (Igreja de Santa Cruz)

Gravações de 1928:
Disco His Master’s Voice, E.Q. 174
7-62221 – Fado de Santa Clara (Eu ouvi de Santa Clara)
7-62222 – Fado das Andorinhas (Porque meus olhos se apartem)


LETRAS

AMOR DE ESTUDANTE (Dizem que o amor dum estudante)
Música: D. José Pais de Almeida e Silva
Letra: João Carlos Celestino Gomes (1927)
Edição musical: Desconheço a sua existência

Dizem que o amor dum estudante
(Ai) Não dura mais que uma hora;
Como é que eu, sendo estudante,[2]
Te amei d’outrora até agora?

As que amei foi tão-somente
(Ai) Pra te amar com mais ternura...
Quantos actos faz a gente
Pra uma só formatura?!...

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em Maio de 1927, por José Paradela de Oliveira (Disco His Master’s Voice, B 4702, posteriormente sob o n.º de catálogo HMV E.Q. 40); o disco foi reeditado nos Estados Unidos sob etiqueta Victor com o título “Student Love”, n.º de catálogo 81355.

Augusto Camacho gravou este fado, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis. Augusto Camacho altera o 1º verso para «Dizem que amor de estudante» (LP Cantar Coimbra, MBP 7010061, editado em 1988). No disco figura erradamente o nome de Paulo de Sá como autor da música e da letra.

Existe uma outra versão deste fado, gravada por José Afonso, acompanhado à guitarra por António Portugal e Eduardo de Melo e, à viola, por Manuel Pepe e Paulo Alão (EP Balada do Outono, Rapsódia, EPF 5 085, editado em 1960). No disco figura erradamente como autor o nome de Paradela de Oliveira, o cantor que gravou este fado pela primeira vez. Possivelmente devido a aprendizagens de outiva, esta versão, além de literariamente ser diferente da original, da que foi gravada por Paradela de Oliveira, também é algo diferente em termos musicais. A letra que canta é a seguinte:

Dizem que amor de estudante
(Ai) Não dura mais que uma hora;
Só o meu é tão velhinho
Inda se não foi embora.

A Cabra da Velha Torre
(Ai) Meu amor chama por mim...
Quando um estudante morre
Os sinos tocam assim...

A gravação de José Afonso encontra-se disponível no LP Coimbra Serenade, Rapsódia, LDF 006, editado em 1967, e no LP Baladas e Fados de Coimbra, Edisco, ELD 18.020, em 1982 e, também em compact disc (CD Coimbra Serenade, Edisco, ECD 5, editado em 1992 e em Um Século de Fado/Ediclube, CD N.º 4/Coimbra, editado em 1999).


FADO DO 5º ANO MÉDICO DE 1926 (Vida, que és o dia de hoje)
Música: Maestro Álvaro Teixeira Lopes
Letra: 1ª Quadra: (?)
2ª Quadra. António Correia de Oliveira (1915)
Edição musical: Tipografia da Coimbra Editora, Lim. (versão literária original)

Vida, que és o dia de hoje,
No bem que de ti se alcança,
Ou passa porque nos foge,
Ou passa porque nos cansa.

Toda a ventura é Saudade,
Fantasma da minha porta;
– É morta, e finge de viva!
É viva, e finge de morta! –

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em Maio de 1927, por José Paradela de Oliveira (Disco His Master’s Voice, B 4702, posteriormente sob o n.º de catálogo HMV E.Q. 40); o disco foi reeditado nos Estados Unidos sob etiqueta Victor com o título “Fado of the Medical Students”, n.º de catálogo 81355.

António Bernardino gravou este fado em 1967 com esta letra e sob o título «Fado do 5º Ano Médico», disco que foi o primeiro que gravou, acompanhado à guitarra por António Portugal e Francisco Martins e, à viola, por Jorge Moutinho (EP Orfeu, ATEP 6184). Talvez por causa da prosódia, ou por deficiência da aprendizagem de outiva, António Bernardino, nos dois últimos versos da 2ª quadra, omite a conjunção «e» (Cf. António Correia de Oliveira, A Minha Terra – I. Caminhos, Aillaud e Bertrand, 1915, pág. 36). No disco vem a indicação de D.R. indicativa de que os participantes do disco não conheciam quem eram os autores da música do fado, nem das quadras. Aliás, nos quatro fados deste disco vem em todos a indicação “D.R.” (Direitos Reservados).

Na sua versão original, este fado é o “Fado da Récita de Despedida do 5º Ano Médico de 1926”, cantado pelo quintanista José dos Santos Malaquias na récita levada à cena no Teatro Avenida nas noites de 25 e 26 de Maio de 1926, cuja peça se intitulava “Esculápio em Cuecas”. A letra, da autoria de Carlos Alberto Dias Costa, também Quintanista, é a seguinte:

Nesta vida, francamente,
Há tanta contradição!
Fumo negro sobe ao Céu
Água pura cai no chão.

Minha capa, coitadinha,
Vou deixá-la, na verdade;
Vai ficar a pobrezinha
Toda negra de Saudade.

Há duas coisas que eu guardo
Co’uma avareza sagrada:
Os beijos de minha Mãe
E as cartas da minha Amada.

Minha capa tão velhinha...
Hei-de guardá-la também
Co’as cartas do meu Amor
E os beijos de Minha Mãe.

A edição musical do “Fado da Récita” foi impressa na Tipografia da Coimbra Editora, Lim., Avenida do Arnado, Coimbra.


O MEU MENINO (O meu menino é d’oiro)
Música: Alexandre de Rezende (dedicada a seu filho José)
Letra: 1ª quadra: Popular (<1880)>Sassetti & C.ª (c/capa de Stuart de Carvalhais)

O meu menino é d’oiro,
É d’oiro o meu menino,
Hei-de levá-lo ao Céu
Enquanto for pequenino.

Por causa de três meninas
Eu passo a vida entre abrolhos;
Uma és tu – as outras duas
As meninas dos teus olhos.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em Maio de 1927 por José Paradela de Oliveira, (Disco His Master’s Voice, E.Q. 70); o disco foi reeditado nos Estados Unidos, sob etiqueta Victor, n.º de catálogo 81357.
O filho de Alexandre Rezende chamava-se José de Sousa Mendes de Rezende. A 1ª quadra é popular e anterior a 1880. O Cancioneiro Popular Português, de José Leite de Vasconcelos, contém cerca de trinta de variantes literárias desta primeira quadra.

Divaldo de Freitas (Emudecem Rouxinóis do Mondego, 1ª série, pág. 28) diz que a 2ª quadra seria esta outra:

À Mãe de Nosso Senhor,
Hei-de pedir, com carinho,
Que nunca leve a tristeza
Aos olhos do meu filhinho.

Porém, a 2ª quadra mais generalizada é a que tem por incipit o último verso da quadra anterior (o antigo processo leixa-prem que ainda subsiste nas quadras ao desafio), quadra que é a seguinte:

Enquanto for pequenino,
Tão puro como o luar,
Hei-de levá-lo ao Céu
Hei-de ensiná-lo a cantar.

António Menano gravou este fado em Paris, na mesma altura que Paradela, em Maio de 1927, mas com uma outra letra (discos Odeon, 136.805 e A136.805, master Og 594) e no ano seguinte em Berlim, em Dezembro de 1928 (disco Odeon LA 187.801 master Og 1006). A gravação de Paris encontra-se disponível em vinil (Álbum de Fados de Coimbra – António Menano, Vol. I, disco 2, editado em 1985) e, desde Dezembro de 1995, em compact disc (CD António Menano – Fados, Vol. II).
A letra cantada por António Menano é extraída do poemeto “Embalando o Menino”, de António Correia de Oliveira (A Minha Terra, IX. Um Lenço de Cantigas, Livrarias Aillaud e Bertrand, 1916, págs. 19 e 20). Ao que parece, António Menano terá preferido não utilizar a letra original, tendo optado por esta em intenção do seu recém-nascido filho Nuno. A letra gravada por António Menano é a seguinte:

O meu filho é pequenino:
Três palmos, e pouco mais;
Com tão pequena medida,
Mede-se a alma dos pais!

O meu filho é pequenino...
Diz a morte: - “Ai nem o quero!”
E a vida, a rir de contente:
– “Eu é que sei quanto espero...”

Esta letra é a que acompanha a pauta da edição musical da Sassetti, editada em 1927. Tem capa de Stuart de Carvalhais e a indicação «Por António Menano», mas no interior diz «música de António Menano», o que não está correcto, tendo dado origem a uma séria questão entre Alexandre de Rezende, que é o autor do fado, e António Menano.

Manuel Branquinho (EP Orfeu, ATEP 6302) também gravou este fado mas substitui a 2ª quadra pela seguinte variante de uma quadra Silva Tavares:

A cama do meu menino
Faço-a eu e mais ninguém;
Quem me dera que o destino
Eu fizesse assim também.

Gravado em 1985 por Alexandre Herculano e, numa variante musical, também por Luiz Goes, ambos acompanhados à guitarra por Francisco de Vasconcelos e Luis Plácido e, à viola, por João Alpoim e Álvaro Bandeira (LP De Coimbra para a Unicef – Grupo Serenata de Coimbra, Videofono, VLP-2010). Disponível em compact disc (CD Saudades de Coimbra/Grupo Serenata de Coimbra, Videofono, VCD 50004, editado em 1993).

Alguns CD’s entre muitos outros:
CD Coimbra Serenade, Edisco, ECD 5, editado em 1992 (canta Casimiro Ferreira);
Tempo(s) de Coimbra, Disco 1, editado em 1992, canta Alfredo Correia;
CD Nº 45/O Melhor dos Melhores – Fados de Coimbra, Movieplay, MM 37.045, editado em 1994, canta Manuel Branquinho;
CD Fernando Machado Soares, Philips, 838-108-2, compilação de gravações de 1986 e 1988;
CD Clássicos da Renascença – Manuel Branquinho, Movieplay, MOV 30.029, sob o título «Menino de Oiro», editado em 2000;
CD Victor Almeida e Silva – Coimbra enCanto e Poesia, 11.80.7854, editado em 2000.


FADO DAS PENUMBRAS (À noite tudo comunga)
Música: José Paradela de Oliveira, dedicada “Ao Edmundo Bettencourt”
Letra: (?)
Edição musical: Sassetti & C.ª (c/capa de Stuart de Carvalhais)

À noite, tudo comunga
Da tristeza que me invade!
A terra, órfã do sol,
Tem o luar por saudade.

Hei-de enterrar os meus olhos
Numa cova à beira-mar:
Já que a morte me não leva,
Ninguém me veja chorar.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em Maio de 1927 por Paradela de Oliveira (disco His Master’s Voice, E.Q. 70); o disco foi reeditado nos Estados Unidos sob etiqueta Victor, n.º de catálogo 81357.
Na edição musical da Sassetti, copyright de 1929, consta expressamente ser música de Paradela de Oliveira, dedicada “Ao Edmundo Bettencourt”, mas é totalmente omissa quanto à autoria das quadras. Além disso, na edição musical da Sassetti, a 2ª quadra é esta outra que Paradela não canta no disco:

Ainda me hás-de ensinar
Como encantas toda a gente,
Para ao depois te encantar,
Meu amor, a ti somente!...

José Mesquita também gravou este fado (Cassete VIVA-DISCO 11.50.4058) e canta uma variante da 1ª quadra: no 2º verso (Na tristeza...) e, no 4º verso (Tem a lua...).


UM FADO DE COIMBRA (És linda, mas… foras feia)
Música: Alexandre Rezende
Letra: (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência

És linda, mas… foras feia,
Mesmo assim eu te queria,
Não é por ser lua cheia
Que o luar mais alumia.

És loura, branca e tão linda,
Que às vezes, sonho, criança,
Que Deus assim te faria
Pra dar corpo à minha esp’rança.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e só se repete o último verso.
Gravado em Maio de 1927 por José Paradela de Oliveira (Discos His Master’s Voice, E.Q. 82). Este mesmo disco foi reeditado nos Estados Unidos, sob etiqueta Victor, n.º de catálogo 81460.

Como já foi referido na discografia de António Batoque, a música deste fado é a mesma de muitos mais que cronologicamente se indicam pelas datas das gravações, tendo todos eles títulos e/ou letras diferentes e, quando algumas quadras figuram em mais de um fados, elas apresentam variantes já que não há duas quadras exactamente iguais.
FADO DA MÁGOA (A minha tristeza é tanta), gravado por Carvalho de Oliveira ainda antes da gravação de António Batoque (Carvalho de Oliveira canta e repete os 2.ºs dísticos, versão que se julga ser a original, sendo só a partir da gravação de António Batoque que em vez de se repetir todo o 2º dístico se passou a repetir apenas o 4º verso). Disco Pathé, 4043, master 201026.
FADO DE COIMBRA N.º 4 (Ceifeira que andas à calma), gravado por António Batoque em 1926. Disco Columbia, J 797, master P.130.
UM FADO DE COIMBRA (És linda, mas… foras feia), gravado por Paradela de Oliveira em Maio de 1927. Disco His Master’s Voice, E.Q. 82, master 7-62174.
INQUIETAÇÃO (Quanto mais foges de mim), gravado por Edmundo de Bettencourt em Fevereiro de 1928, no Porto. Disco Columbia, 8122, master P.307.
FADO DOS NAMORADOS (Não digas não, dize sim), gravado por António Menano na Primavera de 1928, em Lisboa. Disco Odeon, 136.818, master Og 688.
FADO (Eu tenho tanto cuidado), gravado por Almeida d’Eça em 1929. Disco Polydor, P 42137, master 42138.
INQUIETAÇÃO (És linda… se foras feia), gravada por José Afonso em Junho/Julho de 1980. LP Orfeu, FPAT 6011, editado em 1981.


UM FADO TRISTE (Assim chego a teus pés)
Música: Fortunato Roma da Fonseca
Letra: (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência

Assim chego a teus pés,
Curada da dor levada,
Como já chegaste aos meus,
Sem alma e asas, sem nada.

A luz desse olhar tristonho
Que ninguém tem, faz lembrar
Essa luz feita de sonho
Que a lua deita no mar.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em Maio de 1927 por José Paradela de Oliveira, (Disco His Master’s Voice, EQ 82); o disco foi reeditado nos Estados Unidos, sob etiqueta Victor, n.º de catálogo 81460.
A música é a mesma do fado TRISTE (Ai daqueles que só amam), gravado por Lucas Junot em Maio de1927, em Londres.

Augusto Camacho gravou este fado em 1997 mas com um outro título e uma outra letra, CANTO DE BEM-QUERER (Dizem que o bem se conhece), acompanhado pelo Grupo Serenata de Coimbra (CD Grupo Serenata de Coimbra… para o mundo, Videofono 50008).


FADO ANTIGO (Saudades d’amor quem há-de)
Música: (?)
Letra: 1ª Quadra: (?)
2ª Quadra: Afonso Lopes Vieira
Edição musical: Desconheço a sua existência

Saudades d’amor quem há-de
Apagar a sua luz,
São como os sinais de sangue
Que Cristo deixou na cruz.

Por ti perdi o sossego
E dizes pra te deixar;
Pede às águas do Mondego
Que não corram para o mar.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em Maio de 1927 por José Paradela de Oliveira (Disco His Master’s Voice, E.Q. 85); o disco foi reeditado nos Estados Unidos sob etiqueta Victor, n.º de catálogo 81460.

A música é geralmente atribuída a Paradela de Oliveira, muito provavelmente por ele ter gravado este fado. No entanto, esta mesma música fora anteriormente gravada com uma outra letra, em 1926, por António Batoque, Fado de Coimbra Nº 5 (Cantigas são como freiras), também designado por Fado Antigo (disco Columbia, J 798).
Esclarece-se que a música do Fado Antigo (Saudades d’amor quem há-de) não é a mesma do Fado Antigo (Por uns olhos que fugiram) da autoria de Francisco Menano, de que existe edição musical impressa, nem da do Fado Antigo (Eu passo noites inteiras) gravado por Fernando Gomes Alves.

Gravado por Augusto Camacho, em 1997, acompanhado à guitarra por Francisco Vasconcelos e Alexandre Bateiras e, à viola, por João Gomes, Rodrigues Pereira e Jorge Tito Mackay (CD Grupo Serenata de Coimbra... para o mundo, Videofono, VCD 50008, editado em 1998). Augusto Camacho inverte a ordem das quadras e também não esclarece as respectivas autorias.


FADO DA VIDA (Ao morrer os olhos dizem)
Música: Alexandre Rezende
Letra: Manuel Laranjeira (modificada)
Edição musical: Desconheço a sua existência

Ao morrer, os olhos dizem:
– «Pára morte, espera aí!
Vida, não vás tão depressa,
Que eu inda te não vivi...»

E a Vida passa, e a Morte
É que responde em vez dela:
– «Mas que culpa tem a vida
De que não saibam vivê-la?!»

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em Maio de 1927 por Paradela de Oliveira (disco His Master’s Voice, E.Q. 85); o disco foi reeditado nos Estados Unidos sob etiqueta Victor, n.º de catálogo 81460.
A música e a letra são as do chamado Fado Rezende (Ao morrer, os olhos dizem), gravado também em Maio de 1927, em Londres, por Lucas Junot (Disco Columbia, 8104).

As quadras originais são do médico e escritor Manuel Fernandes Laranjeira (1877–1912) e foram originariamente escritas, sob a epígrafe «O Último Diálogo», no Álbum da Ex.ª Sr.ª D. Sophia Isménia Quaresma, quadras posteriormente publicadas no livro «COMIGO», editado em Fevereiro de 1912, dias antes de o autor se ter suicidado. Essas quadras são as seguintes:

Ao morrer, os olhos dizem
Sempre o mesmo: – «Espera ahi!
Vida, não vás tão depressa,
Que ainda te não vivi...»

E a Vida passa, e a Morte
É que responde em vez dela;
– «Mas que culpa tem a vida
De não saberem vivê-la?»


FADO DA SÉ VELHA (Aquela moça de aldeia)
Música: Francisco Paulo Menano
Letra: Américo Durão (1917)
Edição musical: desconheço a sua existência

Aquela moça de aldeia
Que eu conduzir ao altar,
Há-de trazer-me à ideia
Desejos de lhe rezar.

Amei-te só de me olhares,
O coração adivinha:
– Deus faz as almas aos pares,
Fez a tua e fez a minha.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em Maio de 1927 com esta letra por Paradela de Oliveira (disco His Master’s Voice, E.Q. 86); o disco foi reeditado nos Estados Unidos sob etiqueta Victor, n.º de catálogo 81458.
Disponível em compact disc (CD Heritage, HT CD 15, Interstate Music, editado em 1992, Arquivos do Fado/Tradisom, Vol. II, TRAD 005, cópia do anterior, e Colecção Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 1/Coimbra, editado em 1999).

A música é a mesma do Fado da Sé Velha (Se eu tivesse olhos assim), gravado em Maio de 1927, em Paris, por António Menano (discos Odeon, 187.504 e A 187.504, master Og 607).
A letra é de Américo de Oliveira Durão, encontra-se no Canto II do livro Poema de Humildade.
Que eu saiba, a gravação de Paradela de Oliveira é a única gravação em que o cantor canta correctamente a letra, sem estropiar verso algum.

José Afonso, acompanhado à guitarra por António Portugal e Eduardo de Melo e, à viola, por Manuel Pepe e Paulo Alão, gravou este fado, dando-lhe por título «Aquela Moça da Aldeia» (EP Alvorada, MEP 60280).
A letra cantada por José Afonso está bastante estropiada, provavelmente devido a deficiente aprendizagem de outiva. Assim, no 1º verso em vez «de aldeia» canta “da aldeia”, no 4º verso, em vez de «Desejos de lhe rezar», canta “Desejos de eu ir rezar”; no 3º verso da 2ª quadra, em vez do presente do indicativo, «Deus faz...» emprega o pretérito perfeito “Deus fez...” e, finalmente, no último verso, em vez de «Fez a tua e fez a minha», canta “E da tua vida minha”. Disponível em vinil (LP Coimbra Menina e Moça, Alvorada, ALV 04 100) e em compact disc (CD José Afonso – De Capa e Batina, Movieplay, JA 800, editado em 1996 e CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/B, editado em 1996).

Gravado pelo Grupo de Fados de Coimbra Alma Mater. Canta Carlos Pedro, acompanhado à guitarra por Pedro Anastácio e Nuno Cadete e, à viola, por António Paulo (CD Alma Mater – Grupo de Fados de Coimbra, SecFado/AAC, CD-SF 005, editado em 1995); no disco vem com o nome Fado de Santa Cruz e, como seu autor, o Dr. Paradela de Oliveira. O estropiamento da letra é idêntico ao de José Afonso.

José Mesquita também gravou este fado e também em vez de cantar que tem desejos de rezar àquela moça canta também como José Afonso que tem desejos de ir rezar (LP Fados e Baladas de Coimbra, RODA SS RL 9001, editado em 1979).


FADO DE SANTA CRUZ (Igreja de Santa Cruz)
Música: Fortunato Roma da Fonseca
Letra: 1ª Quadra: Popular
2ª Quadra: Popular (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência

Igreja de Santa Cruz,
Feita de pedra morena,
Dentro de ti vão rezar
Uns olhos que me dão pena.

Lágrimas de portugueses
Se todas fossem ao mar
Já não houvera no mundo
Terra firme onde chorar.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em Maio de 1927 pela primeira vez por José Paradela de Oliveira (disco His Master’s Voice, E.Q. 86); o disco foi reeditado nos Estados Unidos sob etiqueta Victor, n.º de catálogo 81458.
A gravação encontra-se disponível em compact disc (CD Heritage, HT CD 15, editado em 1992, Arquivos do Fado/Tradisom, Vol. II, TRAD 005, cópia do anterior, e em Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 1/Coimbra, editado em 1999).

A 1ª quadra é popular e não do autor da música do fado. José Leite de Vasconcelos, em apontamentos por ele recolhidos em 1892 na Quinta da Ponte, freguesia de Espinho (OPÚSCULOS, VOLUME VI), anotou a seguinte quadra:

Adeuzz...igrâija de Sã Pedro
Fâita de pedra muréna
Cândo eu lá ôiço missa
Doiz ólhos é que me dão pena.

O fado foi posteriormente gravado em Fevereiro de 1928 por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (disco Columbia 8123, master P 306-2); Bettencourt canta como 2ª quadra a seguinte:

Quando estavas na igreja
A teus pés ajoelhei:
– À Virgem por mim rezavas,
À Virgem por ti rezei.

A referida gravação foi reproduzida em vinil (LP Fados de Coimbra, EMI 2402451, editado em 1984) e está disponível em compact disc (CD Heritage, HT CD 15, da Interstate Music, editado em 1992, Arquivos do Fado/ Tradisom, Vol. II, TRAD 005, cópia do anterior, e CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, da Valentim de Carvalho, edição de 1999).

António Menano veio depois a gravar este fado em Dezembro de 1928, em Berlim (Disco Odeon, LA 187.815, master Og 1034). Na letra que António Menano canta não há referência ao nome da igreja que dá o título ao fado; começa por cantar a 2ª quadra (Quando estavas na igreja) e, como 2ª quadra, canta esta outra:

E na crença e na vertigem
Foi então que eu me perdi;
Em vez de rezar à Virgem
Rezava mas era a ti.

A gravação foi reproduzida em vinil (Álbum de Fados de Coimbra – António Menano, Vol. II, disco 2, editado em 1986) e está disponível em compact disc (CD António Menano – Fados, editado em Setembro de 1995).

Adriano Correia de Oliveira, que cantava este fado mas não o gravou, substituía a 2ª quadra por esta outra:

Ingrata, se fores à missa
Não te aproximes da Cruz
Que o pobre Cristo não veja
O teu olhar que seduz.

Muitos outros cantores gravaram este fado. Por vezes, o incipit «Igreja de Santa Cruz» aparece na discografia como título. Outras gravações disponíveis em compact disc:
Alfredo Correia (Tempo(s) de Coimbra, disco 1, editado em 1992);
Victor Nunes (Tertúlia do Fado de Coimbra, Videofono, VCD 50001, de 1993);
Serra Leitão (Dr. Serra Leitão, Discossete, CD 951000, editado em 1993, A nossa Selecção de Fados, Baladas e Guitarradas de Coimbra, Discossete, 1172-2, disco 2, editado em 1997 e Coimbra – Fados, ballads & guitars, Colecção das Naus, NAU CD 017, editado em 1998).
Augusto Camacho (Colectânea de 1880-1994, Discossete, 1014-2, editado em 1995);
Luiz Ribeiro da Silva (CD Coimbra Menina e Moça, SPA 2004)


FADO DE SANTA CLARA (Eu ouvi de Santa Clara)
Música: Francisco Menano
Letra: Lucas Rodrigues Junot
Edição musical: Desconheço a sua existência

Eu ouvi de Santa Clara
Lamentos de alguém que chora...
Era a Rainha pedindo
(Ai2) Por mim a Nossa Senhora.

Cantigas são como freiras
Das grades falando ao vento,
Coimbra das oliveiras
(Ai2) Que te fizeste convento.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado com esta letra por Paradela de Oliveira, em Outubro de 1928 (disco His Master’s Voice, E.Q. 174); o disco foi reeditado nos Estados Unidos sob etiqueta Victor, n.º de catálogo 33010
Acontece que Paradela de Oliveira não seguiu a letra de Lucas Junot, alterou o 2º verso da 1ª quadra e substituiu a 2ª por uma outra, além de que modificou ligeiramente a música (omite o vocalizo «Ai» no 3º verso).

Lucas Junot já anteriormente havia gravado este fado em Londres, em Maio de 1927, acompanhado à guitarra por si próprio e, à viola, por Abel Negrão (disco Columbia, 8102, master P. 195). Nele consta a anotação “Dr. Francisco Menano” entre parêntesis, indicativa da autoria da música, mas é omisso quanto à autoria da letra que, no caso em apreço, sabe-se ter sido o próprio Lucas Junot que, diz-se, a teria composto em plena Ponte de Santa Clara, olhando o Mosteiro onde está sepultada a Rainha Santa Isabel (Se non è vero, è bene trovato).
A letra de Lucas Junot é a seguinte:

Eu ouvi de Santa Clara
Gemidos de alguém que chora...
(Ai1) Era a Rainha pedindo
(Ai2) Por mim a Nossa Senhora.

Com pena, Nossa Senhora,
Chorando, pediu-me um dia:
(Ai1) Que não chorasse cantando
(Ai2) Que os anjos entristecia.

A gravação de Lucas Junot encontra-se disponível em compact disc (Heritage, HT CD 15, editado em 1992 e Arquivos do Fado/Tradisom, Vol. II, TRAD 005, cópia do anterior).

João Barros Madeira gravou este fado em 1962, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Jorge Moutinho (EP Balada da Saudade, Rapsódia, EPF 5.187) mas altera sem razão aparente a 2ª quadra para:

Aos pés de Nossa Senhora,
Orando, pedi um dia:
(Ai1) Que não rezasses chorando
(Ai2) Que os anjos entristecia.

A gravação de Barros Madeira encontra-se disponível em compact disc (Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 2/Coimbra editado em 1999).

Manuel Branquinho também gravou este fado utilizando a mesma letra que Barros Madeira, acompanhado à guitarra por si próprio e por Gabriel Ferreira e, à viola, por Jorge Gomes mas altera ligeiramente a música e muda-lhe o título para «Santa Clara», tout court (EP Manuel Branquinho, Orfeu, ATEP 6298).

Gravado em 2004 por Luiz Ribeiro da Silva, acompanhado à guitarra por Carlos Couceiro e Teotónio Xavier e, à viola, por Durval Moreirinhas e António Toscano (CD Coimbra Menina e Moça, SPA 2004).


FADO DAS ANDORINHAS (Porque meus olhos se apartem)
Música: Paradela de Oliveira, dedicada “Ao Dr. Paulo de Sá” (1928-29)
Letra: Paradela de Oliveira e João Carlos Celestino Gomes (1928-29)
Edição musical: Sassetti & C.ª (c/capa de Stuart de Carvalhais)

Porque os meus olhos se apartem
Dos teus, não lhes queiras mal
Que as andorinhas que partem
Voltam ao mesmo beiral.

Eu hei-de voltar um dia...
Eu sou como as andorinhas,
Se as tuas saudades forem
Bater à porta das minhas...

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado pela 1ª vez, em Outubro de 1928, por Paradela de Oliveira (disco His Master’s Voice, E.Q. 174); no disco vem a indicação de Paradela ser o autor da música. Mais tarde, em meados de Outubro de 1960, em Madrid, voltou a gravar este mesmo fado, acompanhado à guitarra por João Bagão e José Amaral e à viola por Arménio Silva (EP PHILIPS, 431 901 PE de 45 rpm, sob o título “Saudades de Coimbra Nº 1”). No disco constam as autorias. Reeditado em Angola pela Lusolanda; reproduzido também no LP: Fontana, 6482 003, produção da Phonogram.
Paradela de Oliveira gravou este fado no tom de Lá menor, em 1928, e em Fá # menor na gravação de 1960, em Madrid.
O fado foi editado pela casa Sassetti & Cª. Rua do Carmo 56, Lisboa, com capa de Stuart de Carvalhais. Na dita edição consta a seguinte dedicatória de Paradela de Oliveira; “Ao Dr. Paulo de Sá”.

Este fado tem sido cantado e gravado por variados cantores, uns de Coimbra outros não, mas nem sempre respeitam integralmente a melodia cantada por Paradela de Oliveira.
Gravações disponíveis em compact disc:
CD Fernando Machado Soares, Philips, 838 108-2, compilação de gravações de 1986 e 1988;
CD Alma Mater – Grupo de Fados de Coimbra, SecFado/AAC, CD-SF-005, editado em 1995 (canta Carlos Pedro);
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/B, editado em 1996 (canta Sutil Roque);
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 3/Coimbra, EMI 7243 5 20637 2 7, de 1999 (canta Sutil Roque).


Segunda Parte
DISCOGRAFIA EM VINIL

Gravações de Outubro de 1960 em Madrid:
EP Saudades de Coimbra N.º 1, Philips, 431 901 PE
São Tão Lindos os Teus Olhos
Balada da Torre D’Anto (Se a noite cobre os caminhos)
Fado do Fim (Fui moço… passei, ficou)
Fado das Andorinhas (Porque os meus olhos se apartem)

EP Saudades de Coimbra N.º 2, Philips, 431 902 PE
Toada do Penedo da Saudade (Coimbra, já sem idade)
Nunca e Sempre (Da alegria de algum dia)
Adeus a Coimbra (Quando em noites de luar)
Fado da Desesperança (Só Deus sabe o que é preciso)


LETRAS

SÃO TÃO LINDOS OS TEUS OLHOS
Música: Armando Goes
Letra: 1ª quadra: Dom António de Bragança
2ª quadra: Popular
Edição musical: Desconheço a sua existência

São tão lindos os teus olhos
Quando se fitam nos meus!
Dizem coisas, contam coisas...
Ai Jesus, valha-me Deus!

Põem-se-te os olhos em brasa
Quando algum noivado vês...
Deixa lá casar quem casa
Que ninguém nos tira a vez.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por Paradela de Oliveira em Outubro de 1960, em Madrid (Disco Saudades de Coimbra Nº 1, Philips, 431 901 PE, de 45 rpm). Disponível também no extended play (EP Dr. Paradela de Oliveira, Philips, 431 901 PE, editado em Angola pela Lusolanda) e em long play (LP Saudade de Coimbra, Fontana, 6482 003).

A música é a mesma do Fado dos Búzio (De ser Maria o teu nome), gravado por Armando Goes (disco His Master’s Voice, E.Q. 32).
A 1ª quadra é de Dom António de Bragança (Cf. Mascarenhas Barreto, FADO - Origens Líricas e Motivação Poética, Editorial Aster, Lisboa, s/data, págs. 302).
A 2ª quadra é considerada popular e tem diversas variantes; uma dessas variantes consta do Cancioneiro Geral dos Açores. No Fado de Coimbra Nº 6 (Sei lá se a dor me consome), António Batoque canta uma outra variante desta mesma quadra. Presentemente, a variante mais generalizada tem por incipit «Ficam teus olhos em brasa».

Gravado por Fernando Rolim, também em 1960, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio reis e Mário de Castro (EP Música de Portugal, Parlophone, LMEP 1029). Rolim, na 2ª quadra, canta a variante «Ficam teus olhos em brasa».


BALADA DA TORRE D’ANTO (Se a noite cobre os caminhos)
Música: João Carlos Bagão
Letra: Leonel Neves (1953)
Edição musical: Desconheço a sua existência

Se a noite cobre os caminhos,
A Torre d’Anto descobre
Que estrelas são buraquinhos
Da capa de António Nobre!

Ai Torre d’Anto
Que ao Poeta ouviste
Versos tristes, velha torre.
No mundo há pranto,
A vida é triste,
Anto dorme, não te morre.

Se alguém tossiu ou chorou,
Se há um lamento ou um dobre,
A Torre d’Anto escutou
Poemas de António Nobre.

Ai Torre d’Anto etc., etc.

Informação complementar:
Composição musical com refrão. Nas quadras só se repete o 1º dístico; no refrão apenas se cantam e repetem o 3º e o 6º verso.
A Balada da Torre d’Anto veio a ser uma criação do Dr. José Paradela de Oliveira que a gravou em 1960, em Madrid, acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão Moisés e José Maria Amaral e, à viola, por Arménio Silva (EP Saudades de Coimbra Nº 1, Philips, 431 901 PE); no disco vem a indicação de João Bagão e Leonel Neves como autores da música e da letra, respectivamente.

A presente letra é, por ordem cronológica, a segunda de uma série de quatro (Cegueira Minha, Balada da Torre d’Anto, Toada do Penedo da Saudade e Balada da Velha Sé) do Dr. Leonel Neves, feitas especialmente para músicas de João Carlos Bagão, entre os anos de 1953 e 1954.

Gravada por Luiz Goes, em Março de 1967, acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão e Aires Máximo de Aguilar e, à viola, por António Simão Toscano e Fernando Neto Mateus da Silva (EP Columbia, ELMS 3002 e LP Coimbra de Ontem e de Hoje, Columbia, SPMX 5004). Posteriormente foi reeditado pela EMI, sob licença da Columbia (LP Coimbra de Ontem e de Hoje, EMI 11c 078, editado em 1983). Também no duplo album O Melhor de Luiz Goes, EMI 7919321, editado em 1989. Disponível em compact disc:
CD Coimbra de Ontem e de Hoje, EMI 7243 8 33481 2 1, editado em 1995;
CD Luiz Goes – Homem só meu Irmão, EMI-VC (Caravela), editado em 1996;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 3/Coimbra, editado em 1999.

Gravado em 1997 por Barros Ferreira (CD Grupo Serenata de Coimbra... para o mundo, Videofono, 50008).

Gravado em 2004 por Luis Ribeiro da Silva, acompanhado à guitarra por Carlos Couceiro e Teotónio Xavier e, à viola, por Durval Moreirinhas e António Toscano (CD Coimbra Menina e Moça, SPA 2004).


FADO DO FIM (Fui moço… passei, ficou)
Música: José Paradela de Oliveira
Letra: António de Sousa
Edição musical: Desconheço a sua existência

Fui moço… passei, ficou
Esta saudade de mim!
Na vida velha que sou
Deus m’a guarde até ao fim.

Teus sonhos morrem nos meus
Que a vida cai-me das mãos;
Erguei a voz para o céu
Ó filhos meus, meus irmãos!

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
José Paradela de Oliveira gravou este fado em Madrid, em Outubro de 1960, acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão e Dr. José Maria Amaral e, à viola, por Arménio Silva, um profissional da viola (EP PHILIPS, 431 901 PE, com o título SAUDADES DE COIMBRA Nº 1). Disponível também no extended play (EP Dr. Paradela de Oliveira, Philips, 431 901 PE, editado em Angola pela Lusolanda) e em long play (LP Saudade de Coimbra, Fontana, 6482 003).

Gravado em 2004 por Luis Ribeiro da Silva, acompanhado à guitarra por Carlos Couceiro e Teotónio Xavier e, à viola, por Durval Moreirinhas e António Toscano (CD Coimbra Menina e Moça, SPA 2004).


FADO DAS ANDORINHAS (Porque os meus olhos se apartem)
Música: Paradela de Oliveira, dedicada “Ao Dr. Paulo de Sá” (1928)
Letra: Paradela de Oliveira e João Carlos Celestino Gomes (1928)
Edição musical: Sassetti & C.ª (c/capa de Stuart de Carvalhais)

Porque os meus olhos se apartam
Dos teus, não lhes queiras mal
Que as andorinhas que partem
Voltam ao mesmo beiral.

Eu hei-de voltar um dia...
Eu sou como as andorinhas,
Se as tuas saudades forem
Bater à porta das minhas...

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Paradela de Oliveira gravou inicialmente este fado em Outubro de 1928, acompanhado à guitarra por Francisco da Silveira Morais e, à viola, por António Lopes Dias (disco His Master’s Voice, E.Q. 174, de 78 rpm) e, mais tarde, em meados de Outubro de 1960, em Madrid, voltou a gravar o mesmo fado, agora acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão e José Maria Amaral e à viola por Arménio Silva (EP Saudades de Coimbra Nº 1, PHILIPS, 431 901 PE); no disco constam as autorias. Disponível também no extended play (EP Dr. Paradela de Oliveira, Philips, 431 901 PE, editado em Angola pela Lusolanda) e em long play (LP Saudade de Coimbra, Fontana, 6482 003).
Fado editado pela casa Sassetti & Cª. Rua do Carmo 56, Lisboa, com capa de Stuart de Carvalhais. Na dita edição consta a seguinte dedicatória de Paradela de Oliveira: “Ao Dr. Paulo de Sá”.

Este fado tem sido cantado e gravado por variados cantores, uns de Coimbra outros não, mas nem sempre respeitam integralmente a melodia cantada por Paradela de Oliveira.

Gravações disponíveis em compact disc de outros cantores:
CD Fernando Machado Soares, Philips, 838 108-2, compilação de gravações de 1986 e 1988;
CD Alma Mater – Grupo de Fados de Coimbra, SecFado/AAC, CD-SF-005, editado em 1995 (canta Carlos Pedro);
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/B, editado em 1996 (canta Sutil Roque);
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 3/Coimbra, editado em 1999 (canta Sutil Roque);
CD Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra, Metro-Som, CD 101, editado em 2000.


TOADA DO PENEDO DA SAUDADE (Coimbra, já sem idade)
Música: João Carlos Bagão
Letra: Leonel Neves (1954)
Edição musical: Desconheço a sua existência

Coimbra, já sem idade,
Vive e sofre
O amor dos estudantes
E o Penedo da Saudade
É o cofre
Das cartas dos seus amantes.

Refrão:
No Penedo da Saudade
Os que foram
Não se calam.
No Penedo da Saudade
Pedras choram,
Pedras falam.

E enquanto o amor hoje invade,
Como outrora,
Os moços das capas pretas,
Em pedrinhas de saudade
Guarda e chora
Os versos dos seus poetas.

Refrão:
No Penedo da Saudade, etc.

Informação complementar:
Composição musical com refrão. Nas coplas, o 1º terceto canta-se e repete-se; no refrão é o 2º terceto que se canta e se repete.
A Toada do Penedo da Saudade veio a ser uma criação do Dr. José Paradela de Oliveira que a gravou em 1960, em Madrid, acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão e José Maria Amaral e, à viola, por Arménio Silva (EP Saudades de Coimbra Nº 2, Philips, 431 902 PE); no disco vêm os nomes de João Bagão e Leonel Neves como autores da música e da letra, respectivamente. Também em long play (LP Saudade de Coimbra, Fontana, 6482 003, incorrectamente sob o título Fado do Penedo da Saudade).

Esta letra é, por ordem cronológica, a terceira de uma série de quatro (Cegueira Minha, Balada da Torre d’Anto, Toada do Penedo da Saudade e Balada da Velha Sé) do Dr. Leonel Neves, feitas entre os anos de 1953 e 1954, destinadas especificamente a músicas de João Carlos Bagão. A letra supra foi-me confirmada e revista pelo próprio Leonel Neves, na sua casa em Odeáxere, no Algarve, no verão de 1995.

A Toada do Penedo da Saudade também foi gravada por Augusto Camacho, em 1988, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis (LP Cantar Coimbra, MBP 7010061, também em cassete).

Fernando Ventura também procedeu à sua gravação sob o nome “O Penedo da Saudade”, figurando a autoria entre parêntesis com o nome João Leonel Neves, presumindo-se ter sido omitido por lapso o apelido Bagão e o respectivo traço a separar os dois nomes (Metro-Som, LP 142-R, disco anterior a 1980).
Gravado também por Justino Nascimento, em cassete sob o título Balada do Penedo, edição de 1993.


NUNCA E SEMPRE (Da alegria dalgum dia)
Música: José Paradela de Oliveira
Letra: António de Sousa
Edição musical: Desconheço a sua existência

Da alegria d’algum dia
Fica a saudade encantada,
Como entre a cinza gelada
Uma brasa que alumia.

Até sempre e não adeus,
Eis a minha despedida;
Não há terra, mar e céus
Que possam mais do que a vida.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, cante-se o 2º e repete-se.
Gravado por José Paradela de Oliveira, em 1960, em Madrid, acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão e José Maria Amaral e, à viola, por Arménio Silva (EP Saudades de Coimbra Nº 2, PHILIPS, 431 902 PE); no disco vem a indicação de a música ser de Paradela de Oliveira e os versos de António de Sousa. Também em long play (LP Saudade de Coimbra, Fontana, 6482 003).


ADEUS A COIMBRA (Quando em noites de luar)
Música: Edmundo Bettencourt
Letra: Edmundo Bettencourt
Edição musical: Desconheço a sua existência

Quando em noites de luar
Minha capa aos ombros ponho,
Sinto que vou a enterrar
Amortalhado num sonho.

Coimbra que para sempre
Ficarás nos olhos meus,
Só quem te deixa é que sente
A tristeza dum adeus.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em Outubro de 1960 com a letra supra, em Madrid, por José Paradela de Oliveira, acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão e José Maia Amaral e, à viola, por Arménio Silva (EP Saudades de Coimbra Nº 2, PHILIPS, 431 902 PE); no disco vem a indicação de Edmundo Bettencourt como autor da música e letra. Também em long play (LP Saudade de Coimbra, Fontana, 6482 003).

A música deste fado é diferente da do fado, com o mesmo título (Adeus a Coimbra) que é também estrófico, cantado e gravado por Artur Almeida d’Eça e que tem por incipit «Coimbra da Rainha Santa» (disco Polydor, P 42139, de 78 rpm).

Este fado foi gravado pela primeira vez em 1958 por Augusto Camacho, acompanhado à guitarra por Carlos Paredes e, à viola, por António Leão Ferreira Alves (EP Fado de Coimbra, Columbia, SLEM 2008); no disco figura o nome de Edmundo Bettencourt como autor mas é omisso quanto aos nomes dos instrumentistas. Reeditado em long play em 1984 (LP Coimbra são Canções, EMI 2602531). Disponível também em compact disc:
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 2/Coimbra, editado em 1999.
A letra da gravação de Augusto Camacho difere ligeiramente da acima apresentada: na 1ª quadra omite no 3º verso a artigo definido “a” e substitui o 4º verso por: “Minha alma num lindo sonho”; na 2ª quadra, no 2º verso altera o tempo do verbo ficar para o pretérito perfeito: “Ficaste”, e substitui o 4º verso por: “Toda a mágoa dum adeus”.

Augusto Camacho voltou a gravar este fado em 1992, agora acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Luis Filipe Roxo Ferreira. A letra que canta não é bem a mesma da gravação de 1958 e assemelha-se mais com a acima apresentada. Assim, na 1ª quadra não alterou o 4º verso e apenas no 3º verso suprime o artigo definido “a”; na 2ª quadra não altera o tempo do verbo ficar para o pretérito perfeito mas, no último verso canta-o em duas versões: “A mágoa dum adeus”, ao cantar a primeira vez e, ao repetir o dístico, canta “Toda a mágoa dum adeus” (CD Coimbra na Voz do doutor Camacho Vieira, Discossete, CD 864000).

Gravaram também este mesmo fado:
Carlos Costa (LP Fados de Coimbra, Ofir AMS 324); no disco vem erradamente sob o título Noites de Luar e, como seu autor o nome de Manuela Câncio Reis por confusão com o fado Noite de Luar (Faz um ninho noutra banda), cuja música e letra são daquela Senhora. A letra que Carlos Costa canta é precisamente a da gravação de 1958, de Augusto Camacho.
Américo Lima (EP Decca, SPEP 1392, editado em 1972); no disco figura o nome de Edmundo Bettencourt como autor. Américo Lima também canta a mesma letra, a da gravação de 1958, de Augusto Camacho.


FADO DA DESESPERANÇA (Só Deus sabe o que é preciso)
Música: José Paradela de Oliveira
Letra: António de Sousa
Edição musical: Desconheço a sua existência

Só Deus sabe o que é preciso
Ser de mim próprio inimigo,
Para esconder num sorriso
Este amor que te não digo.

Oh boca dos meus desejos,
Oh meus olhos a chorar,
Um choro feito dos beijos
Que eu nunca te posso dar.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado pelo próprio autor, José Paradela de Oliveira, em Outubro de 1960, em Madrid, acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão e José Maria Amaral e, à viola, por Arménio Silva (EP Saudades de Coimbra Nº 2, PHILIPS, 431 902 PE); no disco vem a indicação de ser música de Paradela de Oliveira e letra de António de Sousa. Disponível em long play (LP Saudade de Coimbra, Fontana, 6482 003).

Gravado por Augusto Camacho sob o título Desesperança, tout court, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Luis Filipe e Aurélio Reis (CD Dr. Camacho Vieira, Colectânea de 1880 a 1994, Discossete, 1014-2, editado em 1995.

Lisboa, 13 de Outubro de 2005

[1] Este disco era inicialmente o His Master’s Voice, B 4702.
[2] Numa publicação este 3º verso vem assim: «Como é que, eu sempre estudante,». Por dificuldades de audição, tenho dúvidas se será «sendo», se será «sempre». A publicação não é absolutamente fidedigna pois já detectei alguns erros.

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