sábado, dezembro 10, 2005

UM DOS FUNDADORES DA PRESENÇA
Reportagem de Paulo Antunes, revista EVA, Lisboa, Novembro de 1955
(transcrição e fixação do texto por António M. Nunes a partir de um recorte de imprensa existente no espólio documental de Edmundo Bettencourt, cedido pela viúva em 1998. Este texto já havia sido publicado na obra "No rasto de Edmundo de Bettencourt", Funchal, DRAC, 1999)
Não foi o Hilário, com certeza, o primeiro estudante de Coimbra que ali começou a cantar o Fado. Outros, antes dele, o fizeram. Mas foi, de facto, o cantor-estudante da nobre cidade onde se fazem os doutores que, cantando o Fado, atingiu as culminâncias da fama. Vitimado pela tuberculose em plena juventude, Hilário deixou após si um rasto de lenda romântica que ainda perdura.
A mais de um século de distância, a quadra que encerra o seu testamento de cantor-estudante e de boémio, continua a ouvir-se:

Eu quero que o meu caixão
Tenha uma forma bizarra...
A forma de um coração,
A forma de uma guitarra!...

Hilário cantou um Fado ainda não de todo emancipado do Fado de Lisboa, arrastado e monótono, nascido do pretexto para cantar uma história e, mais do que cantado, dito. Era, e é, depressivo e doentio o Fado de Lisboa. Todavia, Hilário deu-lhe a frescura da sua mocidade boémia e, arrancando-o às vielas onde essa toada que foi de escravos teve a sua génese, plantou-o na paisagem fresca de Coimbra.
Outros, depois de Hilário, mais afastaram o Fado de Coimbra do Fado de Lisboa. Manassés, boémio como Hilário, foi um deles. Mas é com os irmãos Menano que o Fado de Coimbra deixa de ser fado e se transforma em balada.
Com Edmundo de Bettencourt, chegado à cidade do Mondego por 1922, mais e definitivamente o Fado-Canção ganha foros de verdadeira autonomia. Com a sua clara voz de tenorino, e acompanhado à guitarra por Artur Paredes, ambos criam um estilo próprio e inconfundível. Não é a morte nem a desesperança o que dá o tónus à sua Arte. É a vida, a esperança! A voz de Edmundo espanta de vez o fatalismo que condicionava o cantar dos anteriores cultores do Fado. E, talvez, não será mesmo justo considerar Edmundo um fadista. Mais do que o Fado, interessa-lhe a genuina canção popular, a que ele dá foros de cidade.
A respeito de Edmundo de Bettencourt escreveu Alberto de Serpa na “Ilustração”, em 1929: “É português, é Poeta e (que delicioso Poeta!) sabe do fado e não é piegas”. Um retrato perfeito!

Menino das Ilhas
Edmundo de Bettencourt nasceu nas ilhas. Na cidade do Funchal, capital da formosa Ilha da Madeira, a 7 de Agosto de 1899. Aí decorreu a sua infância e a sua adolescência. Aí cursou o Liceu, compôs os primeiros versos e, pela primeira vez, cantou, em serenatas de estudantes adolescentes.
Até Lisboa, onde frequentou a Universidade, e até Coimbra, onde continuou a estudar e onde descobriram a maravilha da sua voz, a vida de Edmundo de Bettencourt foi como a de tantos estudantes que as ilhas mandam para Portugal à cata do canudo de doutor... Com a única diferença de que este estudante ilhéu não procurava apenas regressar à ilha, travestido de burocrata ou de advogado rábula. Bettencourt era poeta e havia nele uma inquietação que não se coaduna com a mediocridade dourada à força do decorar de sebentas.
Nota curiosa: o maior cantor-estudante de Coimbra, o rei dos cantores-estudantes, descende de um rei: Jean de Bettencourt, soberano efémero das ilhas Canárias que, vindo da Normandia, conquistou aos Guanches. Maciot de Bettencourt, sobrinho e herdeiro de Jean, é o mais antigo avô ilhéu de Edmundo de Bettencourt. Mas - descansai, grandes de Espanha! - Edmundo de Bettencourt é um descendente de rei que não levantará nunca problemas de reivindicação de trono. Nunca amou a pompa nem a glória, e é...republicano!

Tiros em Monsanto
Terminado o curso do Liceu, em 1918, Edmundo de Bettencourt preparou-se para a abalada, rumo à Universidade. Mas só no ano seguinte aportou a Lisboa. A guerra e a epidemia que sobreveio, a morte de Sidónio - tudo isto adiou para Janeiro a esperada abertura das aulas. Quando, com outros estudantes da sua terra, chegou a Lisboa, ouviam-se os derradeiros tiros de Monsanto. A capital estava em armas. Mas, no dia seguinte, reinava já a paz e os jovens ilhéus puseram-se a descobrir a grande cidade. E foram ter à Brasileira do Rossio, onde sabiam que o café era bom... Trajavam capa e batina. Mal entraram, viram que toda a gente os olhava com mal contida amizade. E sentiram-se satisfeitos pela acolhida que Lisboa lhes dava. Já sentados, um ocupante da outra mesa voltou-se para os jovens ilhéus e falou assim:
Vocês bateram-se bem em Monsanto. Bravo, rapaziada!
Entreolharam-se, confusos. Mas antes que os pudessem tomar por provocadores talassas, Bettencourt salvou a situação:
Nós chegámos ontem à tarde, no São Miguel. Já não tivemos tempo de defender a República!
Outro acontecimento inesquecível dos primeiros tempos da sua vida em Lisboa foi o Comício dos Novos, no Chiado Terrasse, onde os futuristas se apresentaram a arreliar o burguês: Gualdino a presidir e Almada a fazer um discurso geométrico...

Coimbra Menina e Moça...
Em 1922 passou a Coimbra e, quartanista de Direito, instalou-se na República do Funchal que, apesar do nome, não era somente povoada por madeirenses. Um dos seus companheiros que fora padre, ficou-lhe para sempre na memória: chorava quando ouvia tocar A Samaritana...
Pouco tempo volvido, numa noite de serenata na Alta, a sua voz impôs-se. Daí por diante não mais pôde escusar-se a cantar.
A boémia coimbrã, essa, não o seduzia. Por outra: fazia mais boémia literária que boémia pura. E, quanto a “feitorias” de estudante, também não marcou. A mais original terá sido esta: numa noite, por altura do centenário do descobrimento da Madeira, mudou o nome a três vias coimbrãs: a rua, as escadinhas e a travessa de S. Salvador, que passaram a chamar-se do “Funchal”. Por sinal que um merceeiro, ali estabelecido, decidiu solidarizar-se com os senhores doutores. E a mercearia de S. Salvador passou a chamar-se Mercearia Funchal...
Estava já lançado, tanto pela voz como pela figura inconfundível. E, como Alberto de Serpa conta num artigo que lhe dedicou, a estudantada mandava ao diabo as sebentas e vinha, ruas e calçadas foras ouvir a toada do seu canto:

Coimbra, menina e moça,
Rouxinol de Bernardim!
Não há terra como a nossa,
Nem há no mundo outra assim!

Edmundo a cantar e Artur Paredes a acompanhá-lo. Era um delírio! Quem quer que os ouvia, rapazes e moças românticas, burgueses respeitáveis e severos - todos ficavam tomados da magia do canto e da música. De tal maneira que, anos mais tarde, José Régio, no seu Fado, se refere assim ao grande tenorino:

Gritos de cristal e oiro
Que o Bettencourt alto erguia;
Que é da roda que algum dia
Vos sabia acompanhar?

e ao seu inseparável companheiro Paredes:

Ai choro com que o Paredes
Vibrando os dedos em garra
Despedaçava a guitarra
Punha os bordões a estalar!

A Espanha e Lisboa Conquistadas
Um dia, estamos em 1923, o Orfeon Académico abalou para terras de Espanha. Bettencourt e Paredes, este apesar de não ser estudante, mas companheiro imprescindível, lá estavam. Madrid, Valladolid, todas as terras por onde passaram os receberam triunfalmente. Os jornais não falavam de outra coisa. La Voz, de Madrid, publicava, na primeira página, um desenho humorístico que bem traduz o êxito da jornada.
Lisboa cedo se tornara também ponto de convergência para as tournées do Orfeon e da Tuna de Coimbra. E Bettencourt cá veio, uma vez ao Coliseu, na pessoa de...Tomás Alcaide. Foi o caso que, apresentando-se os estudantes na capital, com um programa em que figurava o nome de Bettencourt, este não pôde aparecer. Chegou a sua vez, e o público reclamava-o. A coisa ameaçava transformar-se em verdadeira desordem. E Tomás Alcaide, ainda estudante de Coimbra e longe de pensar ser o grande cantor que foi, teve de fazer de...Bettencourt.
O disco não levara ainda a voz de Bettencourt pelo País, e Lisboa só o conhecia pela fama que de Coimbra começara a alastrar. E assim, Tomás Alcaide obteve o seu primeiro êxito, a que tantos outros se somariam depois!

Cantor e Poeta Modernista
Postos de parte os estudos, já no quinto ano, Bettencourt foi ficando, até 1930, por Coimbra. E tanto como no Fado e na canção genuinamente portuguesa, o seu papel foi decisivo nos novos rumos da Literatura. Sé com a diferença de que, a Literatura não tem a mesma audiência...Poeta, colabora na revista Bizâncio e, depois, na Presença, de que foi um dos fundadores - com José Régio, Branquinho da Fonseca e Gaspar Simões - e a que deu o título. Data do seu último ano de Coimbra o livro de poemas O Momento e a Legenda, que, infelizmente, apesar de Bettencourt não ter abandonado a Poesia, não foi seguido de outros.
O grupo dispersava-se e, como os mais, Bettencourt deixou a cidade da lenda para correr os fados da vida. Eram os componentes desse grupo, além dele, Artur Paredes (hoje empregado bancário em Lisboa), Roseiro Boavida, que tocava e cantava (actualmente capitão de Artilharia), Afonso de Sousa (hoje advogado em Leiria) e Aires de Abreu, já então professor de Matemática nos Liceus, mas que, estando em Coimbra, confraternizava, nas lides do Fado, com aqueles jovens cheios de vida e de sonhos de Arte.

Correndo Mundo!
Tirando a ida a Espanha, em 1923, Edmundo de Bettencourt nunca saiu de Portugal. Mas a sua voz de ouro levou-o a todo o mundo, através do disco, nas suas gravações, feitas após contrato, para a Colúmbia.
Nos anos em que, praticamente, viveu dos seus direitos autorais, Bettencourt pôde saber que a sua voz o transportara para todos os continentes. Nas Américas; na Ásia, através da Rádio Pequim, em Hawaii, a sua voz era uma mensagem de Portugal - a única que tão longe levou Portugal, a única capaz de perdurar.
Só de uma vez, nos anos antes da guerra, Bettencourt recebeu 9 contos de direitos cobrados no estrangeiro. A quanto montariam, na realidade esses direitos, nunca o soube. Foi o que os ingleses lhe deram...Ele nunca teve jeito para o negócio e, lá no fundo, não gostaria, talvez, de se fazer pagar por cantar. Se lhe sobrava talento, faltava-lhe o espírito comercial, que faz a glória efémera de tantos outros!
Muito mais tarde, quando já não cantava, outra canção sua teve um destino que se pode chamar heróico. Intitula-se Liberdade, foi musicada por Lopes Graça e, traduzida ou adaptada a letra, os patriotas de um pequeno país cantavam-na combatendo contra a prepotência estrangeira que queria subverter-lhe a independência.

A outra Face da Vida
A vida de um homem que se tornou célebre não é sempre, ou quase nunca é, um mar de rosas. Em Lisboa, Edmundo de Bettencourt soube, bastas vezes, como a vida é dura. Mas a dureza da vida nunca o levou a tentar de novo ganhá-la cantando. Não que lhe faltasse a voz. Ainda hoje, com cinquenta e sete anos, Bettencourt mantém uma voz de bom timbre. No entanto, não quis. Preferiu o parco pão de modesto funcionário público e, durante anos, manteve-se num apagado lugar de amanuense da Secretaria dos Hospitais Civis de Lisboa. Foi depois funcionário corporativo, na Comissão Reguladora do Comércio de Metais. Mas nunca, também aqui, criou em si uma mentalidade de burocrata. Um dia teve de procurar outra vida, por um imperativo de consciência da própria personalidade. Hoje é delegado de propaganda de um Laboratório de Produtos Farmacêuticos. No fundo, apenas, e para sempre, a bela voz de tenorino que cantava o Fado de Santa Cruz (letra e música de Roma da Fonseca), a Senhora do Almotão, tantas outras maravilhas; no fundo, o Poeta do Movimento Modernista, o homem culto, esquivo à glória, o homem-artista que ama concretamente a vida concreta.
Pode e deve dizer-se: Bettencourt é sempre o mesmo que, acompanhado por Artur Paredes, grande artista que criou um estilo próprio de tocar guitarra, alargando-lhe os recursos e libertando-a da confusão com o bandolim; Bettencourt, dizíamos, é sempre o mesmo que um dia cantou:

Todo o bem que não se alcança
Vive em nós morto de dor.
Só eu não perco a esperança
E se morrer é de amor!

O homem passa, mas o Artista fica. Edmundo de Bettencourt não pode ser esquecido. Como cantor, teve uma importância enorme, indo influenciar a própria música culta, levando-a a ir ao encontro da Terra e do Povo de Portugal. Como poeta, é um renovador. Como homem, sabe passar despercebido, confundindo-se na turbamulta que enche Lisboa ou refugiando-se num canto de café, com um grupo de amigos, conversando e...brincando. Brincando, pudera! Pois não sabiam, amigos leitores, que o Bettencourt, a contar anedotas tem tanto talento como a cantar ou a escrever poemas? (...)

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Retrato de Família: o guitarrista RICCIULI
Por António M. Nunes

Petrónio Ricciuli nasceu na cidade de Viseu em 15 de Março de 1915, tendo falecido nas Caldas da Rainha a 18 de Maio de 2003.
Este beirão veio para Coimbra no ano de 1933, em situação de soldado voluntário. Terminado o serviço militar, Ricciuli domiciliou-se definitivamente em Coimbra, cidade onde trabalhou como bancário. Era funcionário aposentado do Banco Totta e Açores à data do seu falecimento. Na 2ª metade da década de 1940, Ricciulli frequentou regularmente os irmãos barbeiros e ensinantes de Guitarra de Coimbra Flávio e Fernando Rodrigues da Silva com quem aprendeu a "arte" de dedilhar guitarra.
Em 1953 Ricciulli comprou uma Guitarra de Coimbra de 22 trastos ao violeiro Raul Simões, instrumento que inicialmente fora uma encomenda feita por Artur Paredes. Com o referido cordofone participou como guitarrista solista nas primeiras gravações de Augusto Camacho Vieira, tendo como 2º guitarra o estudante de Direito Egas Bérrance Correia de Abreu, e no violão aço Carlos Dinis de Figueiredo Júnior.
Carlos Figueiredo, recentemente formado em Direito, preparava-se para arrancar para Nova Lisboa, Angola, como notário, quando surgiu a hipótese de efectuar um lote de gravações para a COLUMBIA (representada pela Valentim de Carvalho).
Figueiredo optou por 4 temas vocais, um feito em 1950 (Sé Velha), e os restantes três alinhavados no primeiro semestre de 1953 (Sonhando, Mágoa, A Tua Rua). Não houve tempo para ensaios. O quarteto rumou aos estúdios Valentim de Carvalho, à Rua do Almada, Lisboa, num sábado, dia 16 de Maio de 1953. Durante a longa viagem de comboio, Camacho trauteou os temas e Ricciulli improvisou os rudimentos das introduções e dos separadores.
E nunca mais se ouviu falar deste viseense, discreto, retraído, amante do violino e da música clássica. Nem à esposa permitia liberalidades guitarrísticas, fechando-se no escritório para recatadamente ouvir discos de música clássica e discretamente dedilhar a Guitarra. Em vão António Brojo o invectivou a visitar a sua casa para fazerem uns ensaios informais.
No dia 3 de Maio de 1985, o Curso Médico de 1979-1985 apresentou em Coimbra a sua récita de despedida, no palco do Teatro Académico de Gil Vicente, reatando assim uma tradição multissecular, interrompida em 1969. Na mesma altura houve também uma récita geral dos quintanistas de todas as Faculdades, excepto Medicina que fez a sua peça em separado. No final, os quintanistas cantaram “Evocação a Coimbra. Balada da Despedida dos Quintanistas de 1985”, com música e letra de Petrónio Ricciulli (Coimbra, minha Coimbra), tema composto a pedido de seu filho que então se despedia da UC. De acordo com informações prestadas pelo Dr. João Paulo Sousa, o solista convidado para estrear este tema em palco foi Paulo Saraiva. Esta balada veio a ser gravada pela formação TOADA COIMBRÃ, no LP “Baladas de Despedida. Anos 80”, L.P. 1.004, Duplisom, 1990, Face A, Faixa nº 3.
Progressivamente adoentado, Petrónio Ricciulli, beirão de nascimento, filho de pai italiano, faleceu como sempre quis viver. Recatadamente. Em 2004, o Museu Académico lembrou-o, dando notícia da sua fotografia e da sua guitarra, em preito de colaboração com os familiares.
Agradecimentos: Dr. Augusto Camacho Vieira, Dr. Artur Ribeiro (Museu Académico), Coronel José Anjos de Carvalho, José Moças (Tradisom), Sra. Maria Manuela Ricciulli, Dr. João Paulo Sousa

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Figuras da CC que se inscreveram para as Bodas de Diamante do Orfeon (1955)
Por António M. Nunes
Entre 23 de Abril e 01 de Maio de 1955 tiveram lugar em Coimbra luzidios festejos comemorativos das Bodas de Diamante do Orfeon Académico. Dos vários eventos levados a cabo, cumpre destacar o sarau realizado no Pátio do Paço das Escolas (27/04/2005), a serenata na Sé Velha (30/04/2005) e o sarau de gala no Teatro Avenida.
Haviam pertencido ao Orfeon muitos antigos estudantes, simultaneamente cultores da CC, territorialmente dispersos em 1955. Vale a pena conhecer a lista das inscrições, de onde respigamos:
-Abílio Ribeiro de Moura, guitarrista, médico em Coimbra
-Alberto José Tavares de Prado e Castro, cantor
-Alfredo Fernandes Martins, letrista, advogado em Coimbra
-António Aires de Abreu, tocador de violão, professor liceal de Matemática
-António Cruz, cantor, Director da Biblioteca Municipal do Porto
-António Lopes Dias, tocador de violão
-Augusto Morna, cantor
-Eduardo Tavares de Melo, tocador de violão e compositor, notário na Ilha de São Miguel
-Eduardo Vaz Craveiro, letrista
-Fausto José dos Santos Júnior, letrista
-Fernando de Assis Pacheco, letrista
-Fernando Correia da Silva, compositor, médico
-Francisco da Silveira Morais, guitarrista, funcionário da UC
-António Frutuoso Veiga, cantor, advogado em Coimbra
-Higino Casquilho Faria, cantor
-Jorge Alcino de Morais, guitarrista, professor liceal
-José Monteiro Espírito Santo, cantor, lente da FMedicina da UC
-D. José Pais de Almeida e Silva, compositor
-José Pimenta Lacerda e Megre, cantor, advogado
-Manuel Simões Julião, cantor, funcionário administrativo
-Mário Luís Mendes, cantor
-Maximino Correia, cantor e guitarrista, Reitor da UC
-Napoleão Ferreira Amorim, cantor
-Octaviano Sá, letrista, advogado e jornalista em Coimbra

Grupos de CC nos 70 Anos da TAUC (1959)
Por António M. Nunes
Entre 01 de Dezembro de 1958 e 25 de Abril de 1959, a Direcção da TAUC implementou extenso programa dedicado às comemorações do 70º aniversário da fundação oficial. Era então regente artístico Alves Ferreira.
As festividades encerraram num sábado, 25 de Abril de 1959, com animado sarau no Teatro Avenida. Estiveram presentes figuras da CC (compositores, execuantes), como Manuel Raposo Marques e o eterno convidado Afonso de Sousa.
Quanto a formações, causou espanto o "grupo dos miúdos", composto por Francisco Filipe Martins/J. Barros Neves (gg), A. M. Barros Neves (v) e A. Robalo de Andrade/J. A. Farinha (cantores). Pelos "actuais", exibiram-se os grupos liderados por António Portugal e Jorge Tuna. Os "antigos" fizeram-se representar por João Bagão/José Amaral (gg), Mário Castro/João Menano (vv), e Augusto Camacho (voz).
Seria interessante averiguar junto dos cultores ainda vivos quais os repertórios então praticados.

terça-feira, dezembro 06, 2005


Placa de homenagem ao cantor e guitarrista Lucas Rodrigues Junot (1902-1968), afixada num prédio sito entre o Largo da Sé Velha e a entrada da Rua dos Coutinhos, Coimbra. A placa, idealizada pelos antigos estudantes de Coimbra radicados no Brasil, apresenta os seguintes dizeres: "Nesta casa viveu o estudante brasileiro Lucas Junot. 1902-1968. Licenciado em Ciências Matemáticas em 26 de julho de 1927, e que enobreceu o Fado de Coimbra. Homenagem dos seus colegas do Brasil, 26-07-1970".
Trata-se do cantor e guitarrista Lucas Junot que gravou em Londres, corria o mês de Maio de 1927, um lote de discos para a editora Columbia. Nos fonogramas gravados constam títulos como "Fado de Santa Clara", "Fado Manassés", "Fado Sepúlveda", "Fado dos Passarinhos", "Fado Corrido de Coimbra", "Fado Rezende", "Vira de Coimbra" e "Triste".
No dia 25 de Junho de 1970 a Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra promoveu uma sentida homenagem a este importante cantor da Escola Ultra-Romântica, com descerramento de uma lápide na casa onde habitou mais regularmente, e serão cultural no pátio do Museu Nacional Machado de Castro. No referido serão, Divaldo Gaspar de Freitas proferiu uma palestra biográfica sobre Junot, tendo actuado Manuel Julião (voz e viola), o grupo de Manuel Branquinho (com Jorge Gomes) e o Grupo de Hermínio Menino.
A palestra assinada por Divaldo de Freitas foi impressa no Boletim da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra Nº 10, de Dezembro de 1970 ("Lucas Junot. A Saudade de Coimbra", pp. 27-34), no qual consta também sentida evocação de Afonso de Sousa a José Paradela de Oliveira.
O espólio fonográfico de Lucas Junot encontra-se parcialmente reeditado pela Tradisom. Por decisão da sua viúva foram depositados no Museu Académico as provas das matrizes fonográficas, os discos completos e ainda a Guitarra Toeira de Coimbra de Junot, com escala de 17 trastos, ilharga baixa, voluta oval sem arestas, e tampo escorado por duas travessas.
António M Nunes


Capa da Partitura de "Fado do Alentejo", com música de António Menano e editada em 1924 . Partitura gentilmente cedida por Eduardo Proença Mamede. Embora a paisagem impressa não esteja assinada, EPM garantiu-me que era da autoria de Stuart Carvalhais.


Partitura de "Fado do Alentejo" (1), com música de António Menano e editada em 1924.


Partitura de "Fado do Alentejo" (2), com música de António Menano e datando de 1924.


Capa do Boletim "DECRETUS", da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto, com arranjo sobre uma aguarela de António Moniz Palme. Posted by Picasa

segunda-feira, dezembro 05, 2005


Enterro do Grau. Página 3 do Boletim "DECRETUS" do mês de Dezembro e com o número 7, da Associoação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto. Posted by Picasa
















Embaixada Académica à Ilha da Madeira pelo Orfeon Académico de Lisboa, no Natal de 1936. António Vitorino de Almeida será o pai do conhecido maestro?
Este programa (só aqui está um extracto), foi-me enviado por Joaquim Pinho.








































Páginas 6 e 7 do Boletim da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto, "DECRETUS", saído em Dezembro de 2005, com o nº 7. Artigo escrito por António Moniz Palme, na foto, ao lado esquerdo de Eugénio de Andrade.

domingo, dezembro 04, 2005

O Primeiro EP gravado por Barros Madeira
(Dúvidas que geram conversas)
Pesquisa e texto por José Anjos de Carvalho e António M. Nunes

Após a edição on-line neste Blog, no dia 17/11/2005, do invólucro do EP “BALADA – Barros Madeira”, Porto, Rapsódia EPF 5.092, surgiram algumas dúvidas quanto a autorias de músicas e de letras, títulos, data de gravação, teor dos textos originais, que importam clarificar. Feito um pedido de esclarecimento, o Dr. João Barros Madeira adiantou-nos telefonicamente, em 25 de Novembro de 2005, que a gravação ocorreu em Coimbra, numa sala do edifício da Universidade, pelo ano de 1958. Por seu turno, José Anjos de Carvalho anotara nos seus ficheiros que a agravação teria sido realizada pelo ano de 1957. Foram realizados diversos telefonemas e postos a tocar velhos discos, com Barros Madeira, Octávio Sérgio, Jorge Tuna e Durval Moreirinhas a abrirem as arcas das lembranças.
Para os tira-teimas entendemos solicitar um esclarecimento escrito à EDISCO, herdeira do espólio documental da extinta Rapsódia. Para nosso agradável espanto, a amável representante da EDISCO, Sandra Cerqueira, respondeu-nos em 29/11/2005, esclarecendo que a gravação fora efectuada em Coimbra no dia 29 de Março de 1960, estando esta data muito próxima da que havíamos proposto na legenda do Blog (circa 1961).
Confrontados e cruzados os dados, optamos por incluir neste artigo os textos cantados pelo Dr. João Barros Madeira, mas não os tons do acompanhamento, uma vez que a audição em disco e em translado cassete, exigem um trabalho mais demorado e minudente.
No invólucro que editamos on-line neste Blog, proveniente de colecção particular do Dr. José Miguel Baptista, o rosto é inteiramente preenchido com uma vista aguarelada de Coimbra, figurando como título singelo “BALADA”. Na parte de trás constam o subtítulo “Barros Madeira”, a identificação dos instrumentistas, Jorge Tuna/Jorge Godinho (gg) e José Tito/Durval Moreirinhas (vv nylon), além de publicidade aos eps:

-“SÉ VELHA. GUITARRAS DE COIMBRA", Porto Rapsódia, EPF 5.93, ano de 1960, grupo de Jorge Tuna;
-“BALADA DO OUTONO”, Porto, Rapsódia, EPF 5.085, Março de 1960, José Afonso acompanhado pelo grupo de António Portugal;
-“FADO CORRIDO DE COIMBRA”, Porto, Rapsódia, EPF 5.094, ano de 1960, Casimiro Ferreira c/grupo de António Portugal.

A Rapsódia fez sair uma 2ª edição deste disco, talvez em 1963, com capa diferente da primeira. Na que possuímos, a aguarela ocupa apenas o canto inferior esquerdo da capa, sendo o restante espaço preenchido com “Barros Madeira” e os quatro títulos das peças em caracteres vermelhos. O título original, “BALADA”, passou para a parte de trás, figurando agora publicidade aos EP’s de Armando Marta (1963), José Afonso (Menino d’Oiro, 1963), Barros Madeira (Balada da Saudade, 2º EP, de 1962) e Casimiro Ferreira, 1960).
Na matriz discográfica ocorrem erros factuais que importa corrigir:
No tema N.º 1, o título original, Fado da Ansiedade, aparece encurtado para “Ansiedade”, sem quaisquer menções identificativas de textos;
No tema Nº 2 os dados estão relativamente correctos, pese embora a incorporação de uma 1ª quadra alheia ao original;
No tema N.º 3 há adulteração do título original, incorporação de letra alienígena de Bandeira Mateus, verificando-se ainda discrepâncias entre os dizeres da etiqueta e os constantes na contracapa. Na etiqueta são mencionados Bandeira Mateus (letra), Paulo de Sá (música) e Barros Madeira (sem motivo plausível), enquanto na capa cartonada são alinhados Bandeira Mateus e Barros Madeira;
No tema N.º 4, a etiqueta está correcta, mas na contracapa, além de Barros Madeira, alinhou-se desnecessariamente o nome de Paulo de Sá.
Duas destas gravações foram remasterizadas em compact disc, respectivamente “Ansiedade” e “Olhos Verdes”, no CD “Coimbra Tem Mais Encanto”, Porto, EDISCO, ECD 138, ano de 2000, faixas 6 e 9. A edição é meramente comercial, omitindo instrumentistas e mantendo os erros de autorias.
Relativamente ao trabalho de acompanhamento, saliente-se a presença das violas de cordas de nylon, confirmando-se quase em simultâneo nesses anos de 1957-1960 o pioneirismo de Durval Moreirinhas, José Tito Mackay, Paulo Alão e António Leão Ferreira Alves.
Jorge Tuna produz alguns arranjos de acompanhamento interessantes, sobretudo nas introduções e separadores. Nas partes cantadas, a tocata esmorece bastante e o cantor acaba por protagonizar uma marcação arrastada, sabido que uns e outros poderiam fazer bastante melhor. De certa forma Jorge Tuna revela desde cedo que entre o concertista e o acompanhador de cantores ia aquela diferença que Miguel Ângelo também colocava entre a pintura e a escultura.

1 – FADO DA ANSIEDADE
Música: Francisco Paulo Menano
Letra: 1ª quadra popular; 2ª quadra de Martinho Nobre de Melo

O mundo dá tanta volta,
Quem dera que fora assim,
E que numa dessas voltas
Tu viesses para mim.

Depois de Deus só é grande
O teu amor para mim;
Não é Deus por ter princípio,
Quase deus por não ter fim.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Canção musical estrófica monódica, retomada a partir da matriz efectuada na década de 1920 por António Menano. Este espécime constitui uma das velhas glórias de António Menano como cantor de Coimbra. Sendo já septuagenário, no dia 16 de Dezembro de 1967, dois anos antes da sua morte, António Menano ainda o interpretou com aplaudido sucesso na vernissage da Galeria Rodin do pintor Mário Silva.
António Menano gravou esta composição em Dezembro de 1929, em Berlim (Disco Odeon, LA 187 808b, master Og 1025). No disco vem a indicação de João Fernandes, à guitarra e Mário Marques, à viola, instrumentistas do Fado de Lisboa indicados pela editora. A gravação de António Menano encontra-se disponível em vinil (Álbum de Fados de Coimbra – António Menano, I Vol., disco 1, EMI-VC 2605983, editado em 1985) e em cassete e também em compact disc:
- Heritage, HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995;
- Arquivos do Fado/Tradisom, Vol. V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995;
- CD António Menano – Fados, EMI-VC 7243 8 34618 2 0, editado em Setembro de 1995;
- Col. Um Século de Fado/Ediclube, CD N.º 1/Coimbra, EMI 7243 5 20633 2 1, editado em 1999.

O mesmo tema foi gravado em disco em 1960 por Augusto Camacho, acompanhado à guitarra por João Bagão e Fernando Xavier e, à viola, por António Leão Ferreira Alves (EP Fado do Mondego, Columbia, SLEM 2028).
No final da década de 60 viria também a ser gravado pelo cantor Manuel Branquinho, acompanhado à guitarra por si próprio e por Francisco Dias e, à viola, por Manuel Dourado (EP Ansiedade – Manuel Branquinho, Orfeu, ATEP 6405).
Gravado também por Luis Alcoforado, acompanhado por Paulo Soares/José Rabaça (gg) e Luis Carlos/Carlos Costa (vv), na cassete Praxis Nova, Canções de Coimbra, Porto, Fortes & Rangel, ano de 1989, Face A, Faixa n.º 5, com autoria atribuída a António Menano. Gravação remasterizada no CD “Praxis Nova. Percursos. Colectânea de Canções de Coimbra”, Porto, Fortes & Rangel, CDM 003, ano de 1998, faixa nº 3, persistindo o erro autoral.

Gravações disponíveis em compact disc de outros cantores:
- Tempo(s) de Coimbra, disco 1, EMI 0777 7 99608 2 8, comercializado em 1992 e novamente em 2005, a partir da antologia em vinil editada de 1984 (canta Alfredo Correia, acompanhado por António Brojo/António Portugal e Aurélio reis/Luis Filipe);
- Registo fadístico no CD Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra, MetroSom, CD 101, editado em 2000;
-Mário Gomes Pais, no CD “Coimbra é uma Saudade”, Coimbra AEMINIUM RECORDS, AE 002, ano de 2002, faixa nº 12, acompanhado por António Jesus/Carlos Jesus (gg) e Paulo Larguesa/Bernardino Gonçalves (vv), imputando erradamente a autoria a António Menano.

2 – FADO DA DESPEDIDA DO 5º ANO MÉDICO DE 1937-1938
Música: João Gonçalves Jardim
Letra: João Gonçalves Jardim

A minha capa velhinha
Quer o destino levar
Não me roubes meu amor…
(Ai2) Também o teu negro olhar.

Foram-se as fitas doiradas
Com elas minha ilusão
Findou minha mocidade
(Ai2) S’tá chorar meu coração.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição de tipo estrófico, com melodia e ais neumáticos banais, cantada na Récita de Despedida do 5º Ano Médico de 1938, cuja peça, intitulada “Gotas amargas… quantum satis”, foi levada à cena no Teatro Avenida em fins de Março de 1938 e repetida na semana seguinte, em princípios de Abril. A Récita tinha também uma balada com coro, da autoria de António da Silva Fonseca, música e letra.
A solfa foi editada nesse mesmo ano em folheto impresso na Lito-Coimbra e o compasso é quaternário. Nas gravações existentes a letra apresenta-se alterada: No mínimo o tempo verbal do verbo “querer” deixa de estar no presente do indicativo para passar para o pretérito perfeito (“Quis” em vez de “Quer”). Por vezes, «o teu negro olhar» é substituído por «o teu meigo olhar» e nem o incipit escapa às adulterações.
Barros Madeira não canta exactamente a letra original, pois introduz no lugar da 1ª quadra uma outra de autor não identificado e estropia o 2º dístico da 2ª quadra.
Eis a letra gravada por Barros Madeira:

Eu vou partir, vou-me embora,
Tão triste por te deixar
Mas as saudades que eu levo
(AI2) Hão-de fazer-me voltar.

Foram-se as fitas doiradas,
Com elas minha ilusão
Foi-se a minha mocidade
(Ai2) Está a chorar meu coração.

Este mesmo “fado de despedida” foi gravado por Augusto Camacho Vieira, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Luis Filipe: CD “Coimbra na voz do doutor Camacho Vieira”, Discossete, ADD-CD 8640000, editado em 1992; disponível também em cassete.
Augusto Camacho é dos cantores que mais modificações introduz na letra, além da citada alteração da forma verbal. As alterações introduzidas por Augusto Camacho são: «Com ela teu meigo olhar», «Queimam-se as fitas doiradas» e «Vai-se embora a mocidade».
Outros cantores invertem a ordem das quadras e até o incipit surge adulterado para “Minha capa tão velhinha”.

3 – OLHOS VERDES
(UM FADO DE COIMBRA)
Música: Paulo de Sá
Letra: Francisco Gregório Bandeira Mateus

Teus olhos verdes, gaiatos,
São mais profundos que o mar;
Espelhos dum coração
Que escondes do meu olhar.

Teus olhos da cor do mar
São duas ondas serenas,
Duas velas dum altar
Onde rezo as minhas penas.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Na 1ª copla, ao 3º verso, o intérprete vocaliza «dum coração» embora se entenda que para bem cantar deveria dizer «de um coração», como se fosse um ditongo crescente «deum». Na 2ª quadra, ao 3º verso, não diz «do altar» mas sim «dum altar».
Com o mesmo título e as mesmas quadras de Bandeira Mateus, este velho clássico foi gravado por Manuel Branquinho, acompanhado à guitarra por si próprio e por Francisco Dias e, à viola, por Manuel Dourado (EP Balada do 6º Ano Médico/1958, Orfeu, ATEP 6409, ano de 1968).
Gravado também com a mesma letra por Carlos Costa, cantor activo na região do Porto, acompanhado à guitarra por Joaquim Martins, Armando Martins e Luis de Sousa e, à viola, por José Martins e Aníbal Ramos (EP Carlos Costa – Olhos Verdes Gaiatos, Ofir, AM 4.228 e LP Fados de Coimbra – Carlos Costa, Ofir, MAS 324).
A música é sempre a do clássico tema de Paulo de Sá, mais conhecido por Um Fado de Coimbra, por vezes designado também por “Nossa Senhora da Graça”. A presente melodia foi gravada inicialmente sob o título Fado da Mágoa (Fiz uma cova na areia) na Primavera de 1928, em Lisboa, por António Menano, que inicia o canto no tom de Sol (discos Odeon, 136819 e Odeon, A136819, master Og 691). Gravação disponível em vinil (Álbum António Menano, II volume, EMI-VC, Disco 1, Face B, faixa 3, editado em 1986) e em compact disc: António Menano – Fados, EMI-VC, volume II, editado em Dezembro de 1995.
António Menano canta as seguintes três quadras populares:

Fiz uma cova na areia
Pra enterrar a minha mágoa:
– Entrou por ela o mar todo,
Não encheu a cova d’água.

Tu de longe e eu de longe,
Tu sozinha e eu sozinho;
Oh quem pudesse, ai, fazer
Uma prega no caminho.

Cerejas frescas, vermelhas,
Suspensas pelos caminhos,
Sois os brincos das orelhas
Das filhas dos pobrezinhos.

Gravado sob o título Fado de Coimbra, tout court, e com uma outra letra em Setembro de 1929 por Armando Goes, acompanhado à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (Disco His Master’s Voice, E.Q. 254). A 1ª quadra que canta é popular e a 2º é de António de Sousa. O que é interessante e muito curioso é que o barítono Armando Goes gravou dois tons acima do tenor Barros Madeira e meio-tom acima de António Menano.

Nossa Senhora da Graça,
Que tantos milagres fazes,
S‘tou de mal com meu amor,
Senhora, fazei as pazes.

Falas de amor só as sabem
Os cegos de olhar profundo;
Há palavras que não cabem
Em toda a luz deste mundo.

O cantor António Bernardino efectuou um registo desta composição na década de 1960 e outro na antologia vinil de 1984 “Tempo(s) de Coimbra”. A 1ª gravação ocorreu num Ep Alvorada, do ano de 1966, com António Portugal/Manuel Borralho (gg) e Rui Pato (v nylon). A autoria da música está indicada correctamente, mas não a letra, no caso vertente atribuída a António Menano. Registo remasterizado no duplo CD “Serenata Monumental”, Lisboa, Movieplay, MOV 30.487 A, ano de 2003, faixa nº 15 do disco 1. A letra interpretada por Berna é a herdada da versão Armando Goes, com as coplas “Nossa Senhora da Graça” (popular) e “Falas de Amor só as Sabem” (António de Sousa). A 2ª gravação, realizada a propósito do programa televisivo da RTP “Tempo(s) de Coimbra”, em 1983, foi posteriormente vertida na monumental antologia vinil com o mesmo título. Na 2ª e derradeira edição vinil, comercializada em 1990, o tema de Paulo de Sá ocorre no LP Nº 1 “Do princípio do século ao fim dos anos 20”, Lado A, faixa nº 4, EMI- Valentim de Carvalho 2603833 com arranjo de António Brojo, e acompanhamento por António Brojo/António Portugal (gg) e Aurélio Reis/Luís Filipe (vv). A autoria da letra é erradamente imputada a Paulo de Sá.
A versão fonográfica de António Menano (título e letra) foi retomada pelo malogrado cantor Raul Moreira Dinis (m. 07/11/2001), no CD “Coimbra de Sempre”, Lisboa, Discossete, CD 971000, ano de 1993, faixa nº 5, acompanhado por António Ralha/Jorge Gomes (gg) e Manuel Dourado (v nylon), numa escorreita interpretação de barítono.

4 – BALADA
Música: João Barros Madeira
Letra: João Barros Madeira

Adeus, amor, vou partir,
(Ai2) Adeus, amor, vou-me embora
Levando a boca a sorrir
Enquanto a minha alma chora.

E quando o terço rezares,
(Ai2) Pede a Nossa Senhora
Que me dê o seu favor
E me traga sem demora.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e, a seguir, repete-se o 1º dístico.
Informação complementar:
A melodia interpretada por Barros Madeira comporta trechos classizantes, facto que torna a audição pouco convidativa. A 2ª quadra não apresenta um sentido claro, por falta de complemento. Com o título modificado para “Adeus, Adeus Vou-me Embora”, este espécime foi gravado com alterações da letra por Carlos Costa, cantor activo na região do Porto, acompanhado à guitarra por Joaquim Martins, Armando Martins e Luis de Sousa e, à viola, por José Martins e Anibal Ramos (LP “Fados de Coimbra – Carlos Costa”, Ofir, AMS 324). No disco vem a indicação «D.R.» indicativa de Direitos Reservados ou, por outras palavras, de desconhecimento dos autores da música e da letra.
A versão fonográfica de Carlos Costa é a seguinte:

Adeus, adeus, vou partir,
(Ai2) Adeus, adeus, vou-me embora,
Levando a boca a sorrir
Enquanto a minh’alma chora.

E quando o terço rezares
(Ai2) Pede a Nossa Senhora
Que me faça cá voltar
E que não deixe ir embora.

Carlos Costa, no final da 2ª quadra, em vez de repetir o 1º dístico desta quadra, repete mas é o 1º dístico da 1ª quadra.

VIAGEM PELO CANTO E PELA GUITARRA DE COIMBRA
(Organização, programação e apresentação pelo Grupo Serenata de Coimbra. Tarde de Domingo em Alenquer, estúdio do Pintor João Mário, 6 de Abril de 2003)

Apresentadores: José Anjos de Carvalho, Francisco de Vasconcelos, Fernando Murta Rebelo
Cantores: Alcindo Costa, José Barros Ferreira, Tito Costa Santos, Tomé Medeiros, Victor de Carvalho e como convidados José Anjos de Carvalho e Augusto Camacho Vieira
Violas: João Figueiredo Gomes, Rodrigues Pereira e Manuel da Costa Brás
Guitarras de Coimbra: Alexandre Bateiras e António Serrano Baptista

Abertura, por Francisco de Vasconcelos
Em meados da década de 50, havia em Coimbra um jovem estudante, o Mac Mahon, do qual os desse tempo ainda se lembram: era o porta-estandarte do Orfeon, e principiava sempre as suas apresentações com as palavras: “SENHORAS MINHAS E MEUS SENHORES”. Como não podia deixar de ser, ficou-lhe logo a alcunha de “Senhoras Minhas” e eu, hoje, e aqui, vou parafraseá-lo também, começando por vos englobar a todos nesta saudação de boas-vindas: Senhoras minhas e meus Senhores, muito boa tarde. O Grupo Serenata de Coimbra deseja-vos uma agradável viagem através do Canto e da Guitarra de Coimbra.
Vou ainda contar uma breve história coimbrã, passada no primeiro exame de anatomia que o então estudante Barrigas de Carvalho protagonizou: chegada a sua hora, foi feita a chamada e o Barrigas de Carvalho aproximou-se do Mestre. Pergunta este: “O senhor é que é o Barrigas de Carvalho?” Resposta imediata dele: “Sim senhor, Barrigas por parte da minha Mãe e Carvalho por parte do meu Pai.”
Vem esta história a propósito do seguinte: os textos que acompanham as diversas peças deste percurso coimbrão foram todos escritos pelo nosso companheiro José Anjos de Carvalho que, se fosse apresentado pelo Barrigas, certamente diria que o Anjos de Carvalho é Anjos por parte da Mãe e Carvalho por parte do Pai. Para todos vós, uma agradável sessão.

I – INDICATIVO do grupo (Balada de Coimbra, solo de Guitarra por António Serrano Baptista)
Acabámos de ouvir uma BALADA DE COIMBRA, uma peça composta em Lourenço Marques no ano de 1949, da autoria de Francisco Serrano Baptista. É o indicativo do Grupo Serenata de Coimbra, o seu cartão de visita, o sinal que precede as actuações do Grupo e o identifica. Esta Balada fez enorme sucesso em Lourenço Marques, cantada e tocada na Guitarra por Serrano Baptista, que se fazia acompanhar no violão aço pelo autor da letra, Dr. Luís Paiva. Foi também editada em Portugal pela casa Olímpio Medina, de Coimbra.
Perguntar-se-á, quem foi Francisco Serrano Baptista? O Dr. Serrano Baptista foi um dos mais destacados estudantes da UC da Década de Oiro da Academia, a década de 1920: cantor, compositor, guitarrista, violonista, orfeonista e tuno com boa formação musical. Nasceu em Mação no ano de 1910, fixou-se em Coimbra aos nove anos, cidade onde fez sucessivamente o Liceu e o curso de Direito (1932). Radicou-se em Lourenço Marques, Moçambique, no ano de 1944, onde trabalhou como Director Comercial dos Caminhos de Ferro. Faleceu em 1954. É autor de algumas composições emblemáticas para canto e solos de guitarra. Foi em sua homenagem que o Grupo Serenata de Coimbra adoptou este indicativo.

II – Da 2ª metade do século XIX até ao início de 1920
FADO DAS TRÊS HORAS, interpretação vocal de José Anjos de Carvalho
A nossa viagem tem seu início na 2ª metade do século XIX. Vamos primeiramente ouvir o que, em termos musicais é, e tipicamente se chama, uma “serenata”. O tema foi improvisado de madrugada, a desoras, numa noite de paródia, em 1887 (época estival), no rio Vizela, vogando de barco os seus autores. Embora com o título Canção da Noite, esta serenata é vulgarmente mais conhecida por Fado das Três Horas, nome com que os seus autores primeiro a baptizaram, por ser àquela hora da noite que tal improvisação aconteceu.
A música é de Reynaldo Varella, de seu nome completo Reynaldo Augusto Álvares Pereira Leite da Silva Pinto Varella, natural de Ponte de Lima, onde nasceu em 1867, descendente dos morgados de Tabuaço, excelente cantor, compositor, professor de música e um grande guitarrista, tanto que foi apelidado de “o Liszt da Guitarra”.
A letra original, naquela altura também improvisada, é de Bráulio Caldas, de seu nome completo Bráulio Lauro Pereira da Silva Caldas, distinto poeta, natural de Vizela, então quartanista de Direito da UC.
Esta serenata, de tipo estrófico, constituiu um sucesso espantoso naquela época, sucesso que perdurou por décadas, de tal forma que foi logo gravada na sua versão original, precisamente no ano em que foram feitas as primeiras gravações portuguesas, isto é, no ano de 1904. Posteriormente, foi adaptada a esta serenata uma outra letra, duas quadras de Guerra Junqueiro, extraídas do livro “A Morte de D. João”, e, acompanhando os gostos da época e por influência do chamado “estilo Manassés de Lacerda”, foram-lhe introduzidos alguns “ais”, cuja duração se podia prolongar ad libitum, isto é, à vontade do intérprete.
Este Manassés de Lacerda, de que falaremos mais adiante, foi antigo escolar do Liceu de Coimbra no início do século XX. Como cantor, foi o criador de um estilo muito próprio, estilo esse caracterizado por prolongar de forma sustentada e muito expressiva as notas mais agudas através dos referidos “ais” de duração ad libitum. É esta versão do Fado das Três Horas, no chamado estilo Manassés de Lacerda, que vamos ouvir.

FADO HYLARIO MODERNO, interpretação vocal de José Maria Barros Ferreira. Palavras de contextualização por Fernando Murta Rebelo
O chamado Fado Hilário, tal como se canta, nunca o Hilário o cantou, ou o ouviu cantar, nem consta no Cancioneiro de César das Neves, publicado na última década do século XIX.
O Fado Hilário que presentemente se canta e iremos escutar, compreende três partes musicais:
A 1ª parte é constituída exclusivamente pelo Fado Serenata do Hilário, composição de Augusto Hilário que veio a lume em 1894;
A 2ª e 3ª partes são constituídas integralmente pela música do chamado O Último Fado, do Hilário, composto e oferecido por ele a César das Neves, no verão de 1895, com o pedido que reservasse para mais tarde a sua publicação no Cancioneiro, quando ele, Hilário, o tivesse já composto definitivamente.
Meses depois, nas férias da Páscoa de 1896, Hilário morre sem ter concluído a pretensa versão definitiva e César das Neves acaba por vir a publicar, no dito cancioneiro, a versão original que Hilário lhe entregara meses antes.
Ao certo, ao certo, não se sabe quem teria tido a ideia de reunir estes dois fados do Hilário (o Fado Serenata e O Último Fado) num só fado, e bem assim a forma feliz como a junção foi feita, mas é voz corrente que tal junção se deve ao já referido Manassés de Lacerda, inspirado compositor e um dos melhores e mais célebres cantores de Coimbra de todos os tempos, excelente tenor, dotado de bela voz, extensa, potente e bem timbrada, que na primeira década do século XX criou um estilo de cantar muito sui generis, o chamado “estilo Manasses” (ou Manassés de Lacerda), caracterizado, como já se disse, por prolongar de forma sustentada e muito expressiva as notas mais agudas através de “ais” de apreciável duração.
Nessa junção dos dois citados fados do Hilário e por influência do chamado “estilo Manasses”, foram introduzidos os “ais” de duração ad libitum, tal como aconteceu com o Fado das Três Horas, e modificados o compasso e os tons originais.
Este novo fado, designado inicialmente por Fado Hilário Moderno, agora com duas partes musicais, foi cantado e gravado pelo próprio Manassés de Lacerda, no seu estilo muito próprio de cantar, em meados da 1ª década de 1900, fado cuja respectiva partitura foi editada na 2ª Série de “Fados e Canções Portuguesas cantadas por Manassés de Lacerda para cilindros e discos de máquinas falantes”. Na partitura do chamado Fado Hilário Moderno, inserto, como se disse, na 2ª série de Fados e Canções Manassés já os referidos “ais” se encontram introduzidos e integrados na respectiva notação musical.

FADO MANASSÉS (=FADO MARIA), interpretação vocal de Víctor de Carvalho
O chamado Fado Manassés é um fado da 1ª década do século XX. Manassés de Lacerda, de seu nome completo Manassés Ferreira de Lacerda Botelho, era natural de Sabrosa, Trás-os-Montes, onde nasceu em 1885. Foi antigo escolar de Coimbra no início do século 20, mas não chegou a entrar na UC.
Inspirado compositor e inegável cantor de eleição, deixa Coimbra e vai para o Porto em 1905, onde, logo nesse mesmo ano de 1905, grava numerosíssimos fados. É de referir e salientar que o ano de 1905 é o 2º ano em que foram feitas em Portugal as gravações dos primeiros discos.
Manassés da Lacerda casa em 1908 em Miragaia e, a seguir, emigra com sua mulher Margarida para o Brasil, onde se fixa e vem a morrer em 1962.
Na sua versão original, este fado tem por título "Fado Maria", sendo um dos muitos fados gravados por Manassés de Lacerda entre 1905 e 1906-07.
Além das referidas gravações de discos, foram também publicadas, entre 1905 e 1907, três séries de edições musicais sob o título de «Fados e Canções Portuguesas cantadas por Manassés de Lacerda para cilindros e discos de máquinas falantes», contendo, cada uma dessas 3 séries musicais, a letra e a notação musical de 10 composições, num total de 30, portanto. A editora dessas três séries de partituras foi a casa Arthur Barbedo, que tinha sede na Rua Mousinho da Silveira, 310-1º, Porto, e cada série de 10 composições custava 600 réis. Além da edição Barbedo, saíram duas outras importantes edições do repertório Manasses: em 1914, a edição portuense da casa Moreira de Sá; em 1916, a edição portuense e brasileira de promoção ao vinho do Porto Constantino Quinado. Como se pode ver, Manassés foi o primeiro cantor de Coimbra a alcançar promoção comercial internacional através de partituras impressas e de discos de 78 rpm, sendo de lamentar que as partituras impressas nunca mencionem autorias de músicas e de letras.
A serenata que vamos ouvir vem inserida na 1ª Série dos referidos Fados e Canções Manassés, sob o título Fado Maria, precisamente por ter sido dedicada por Manassés a uma jovem Maria. O seu nome, porém, viria a generalizar-se com uma outra letra, sob o título Fado Manassés.
É um fado que exige do aparelho fonador excelentes atributos vocais e uma voz muito moldável, tal como acontece com o Fado Hilário que ouvimos há pouco, cantado com “roupagens” ao estilo Manassés de Lacerda. Está em compasso 4/4, à semelhança de quase todo o repertório Manassés. A letra escolhida, não é a original, correspondendo à matriz fixada em disco por António Menano no final da década de 1920.

VALSA DE OUTROS TEMPOS, solo de Guitarra por António Serrano Baptista. Palavras de apresentação por Francisco Vasconcelos
A VALSA DE OUTROS TEMPOS compreende duas partes musicais. A 1ª parte desta valsa é da autoria de Gonçalo Paredes, pai de Artur Paredes, valsa que foi completada por seu filho Artur Paredes quando em 1923 pretendeu homenagear a sua noiva e futura esposa. Convirá referir aqui que a forma de dedilhar a Guitarra de Coimbra foi evoluíndo ao longo dos tempos e que o próprio instrumento sofreu sucessivas transformações na morfologia da sua construção.
Antigamente, as guitarras eram mais pequenas e a sua sonoridade bem menor. Uma outra inovação foi o acompanhamento dos solos de guitarra passar também a ser feito com uma 2ª guitarra, o que constituiu outra acentuada melhoria. Esta evolução nos sons das guitarras, convirá aqui referir, deve-se em grande parte ao genial guitarrista que foi Artur Paredes. Vamos pois ouvir a Valsa de Outros Tempos, não propriamente como antigamente se tocava, mas como presentemente se interpreta a partir da versão de Carlos Paredes.

SAMARITANA, vocalização de José Anjos de Carvalho, palavras de apresentação por Fernando Murta Rebelo
Este fado-canção começou a generalizar-se nos primeiros anos da implantação da República Portuguesa e o seu autor, quer da música, quer da letra, foi e é Álvaro Cabral (contudo, na discografia de cantores de Coimbra, em vez de Álvaro Cabral vem erradamente o nome de Álvaro Leal como autor. Deve ter surgido, mais coisa menos coisa, entre 1914 e 1916. A confusão autoral é, digamos, um erro que já se tornou sistemático – este Álvaro Leal é um compositor e escritor teatral, natural do Funchal, antigo aluno do Colégio Militar, falecido em Lisboa com apenas 38 anos, em 1931).
Álvaro Cabral, o autor da Samaritana, nasceu em Vila Nova de Gaia em 1865, pelo que é apenas um ano mais novo do que Augusto Hilário. Estreou-se como actor no teatro da Rua dos Condes, em Lisboa, em 1890. Desempenhou primeiros papéis em diversas revistas e operetas e foi também autor de algumas revistas, nomeadamente em colaboração com João Bastos ou com Penha Coutinho.
Além de compositor e letrista, Álvaro Cabral era um boémio muito espirituoso e um bom e grande conversador. Morreu em 1918, no Porto. Tinha 53 anos e era primeiro actor e director de cena da companhia que trabalhava no Teatro Nacional de São João.
Este fado-canção não foi, nem é propriamente, um Fado de Coimbra. Mas também não é um fado de Lisboa com melodia padronizada, facto que ajudará a explicar grande parte do sucesso que veio a conquistar em Coimbra. Acontece que, a partir de 1928, ano em que foi gravado por Edmundo Bettencourt, a Academia de Coimbra apropriou-se dele e muitos cantores de Coimbra o têm cantado e gravado, tendo-se tornado num dos Fados de Coimbra mais emblemáticos. A versão que vamos apresentar é a herdada de Edmundo Bettencourt, importando referir que foi conhecida uma outra na voz de António Menano, a qual não conquistou palmarés. Relativamente aos meios fadísticos lisboetas, este fado-canção caíu no esquecimento. Foi no entanto gravado no estilo Lisboa pelo fadista Nuno da Câmara Pereira, pelos idos de 1986, num registo que gerou enorme polémica em Coimbra.

FADO SEPÚLVEDA, vocalização de Victor de Carvalho
A música deste fado é de Júlio César Afonso Sepúlveda que, em finais do século XX, princípios do século XX, era despachante na Alfândega de Lisboa.
Afonso Sepúlveda era mais conhecido entre os amigos da boémia lisboeta pela abreviatura VEDA, isto é, pelas duas últimas sílabas do seu nome (Sepúl+VEDA).
É um Fado de Lisboa, do fim do século XIX. Compreende duas partes musicais e foi gravado inicialmente, na sua forma original, pelo actor e tenor António de Almeida Cruz, ainda nos tempos da Monarquia Portuguesa. A partitura deste fado, feita na Alemanha, foi editada no início do século XX pela casa Raul Venâncio, sita então na Rua do Ouro, n.º 63, em Lisboa. Deste fado de Lisboa, foi apenas aproveitada a 1ª parte musical para a sua adaptação, com uma outra letra, a Fado de Coimbra, tendo sido gravado em 1927 por Lucas Junot, um estudante brasileiro que cursou na UC e que foi um dos mais famosos cantores do seu tempo.

III – Década de Oiro, palavras e contextualização por José Anjos de Carvalho
Estamos agora a chegar à década de 1920, a chamada DÉCADA DE OIRO DA ACADEMIA DA COIMBRA. Entenda-se que estamos a falar de “Década de Oiro” apenas no âmbito do foro musical coimbrão, pois outros géneros musicais como o Tango também individualizam artisticamente uma “Idade de Ouro” (1920-1935).

CANÇÃO DAS LÁGRIMAS, vocalização de Alcindo Costa
O seu autor foi o estudante Armando Goes (1906-1967), que frequentou a UC entre 1924 e 1930, ano em que se licenciou em Medicina.
Armando Goes foi um fino compositor e um dos mais notáveis cantores da chamada “geração de oiro”. Dotado de uma voz portentosa, doce e maleável, cantava, com um tão inexcedível sentimento, que a todos encantava e embevecia, tendo gravado, entre os anos de 1927 e 1930, uns oito discos de duas faces para a His Master’s Voice, enquanto era estudante.

VARIAÇÕES EM RÉ MENOR Nº 1, solo de Guitarra por Alexandre Bateiras, palavras de Francisco de Vasconcelos
As variações que se seguem são do mais genial guitarrista de Coimbra. Tal como aconteceu com o cantor Manassés de Lacerda, outro tanto aconteceu com o guitarrista Artur Paredes. Aquele criou um estilo muito próprio de cantar e este criou um estilo muito próprio de tocar guitarra e de fazer o acompanhamento dos cantores.
Natural de Coimbra, Artur Paredes nasceu em 1899, filho de Gonçalo Paredes, um dos maiores guitarrista de Coimbra do seu tempo. Artur Paredes, tal como Manassés de Lacerda, também nunca frequentou a UC mas conviveu intimamente com o meio estudantil.
Artur Paredes viveu em Coimbra até 1934, altura em que, sendo funcionário do Banco Nacional Ultramarino, pediu e obteve transferência para Lisboa, cidade onde fixou residência e viria a falecer em 20 de Dezembro de 1980.
Artur Paredes foi o grande fenómeno da Guitarra de Coimbra, apartando-a e individualizando-a completamente dos modelos mais comuns em voga em Lisboa e no Porto.
Foi Artur Paredes quem, em estreita colaboração, numa primeira fase com o guitarreiro Joaquim Grácio, e numa segunda fase com o notável guitarreiro João Pedro Grácio Junior, introduziu várias transformações na morfologia da construção da Guitarra Toeira de Coimbra: alargou e abaulou a escala, reformou a voluta, elevou o nível da pontuação e aumentou a altura das ilhargas, introduziu o vigamento da caixa com três barras, ampliando a caixa de ressonância na procura da obtenção de uma maior pureza de notas, quer isoladas, quer em acordes.
Artur Paredes revolucionou também a dedilhação, servindo-se de um novo sistema de afinação e criando uma nova forma de digitação, em contraponto com a tradicional forma lisboeta da “verticalidade linear”, e distanciando-se dos toques singelos usados pelos tocadores de folclore da Beira Litoral. À “verticalidade linear” contrapôs a “movimentação digital no sentido da lateralidade”, captando efeitos polifónicos, proclamando a supremacia do acorde com o emprego simultâneo de todos os dedos, técnica que, por sua vez, veio facilitar o uso de dissonâncias.
A Artur Paredes se deve também a inovação do emprego de uma 2ª Guitarra de Coimbra no acompanhamento do solista. De Artur Paredes se diz que reinventou e renovou a Guitarra de Coimbra e que, no foro musical coimbrão, o seu contributo foi de tal ordem que há um “Fado de Coimbra” antes de Artur Paredes e, um outro, depois dele.
Esta "variação" é um clássico de inícios da década de 1920, ainda hoje muito tocada em espectáculos e ensaiada para efeitos de gravação em estúdio. O tom de Ré era muito querido pelos tocadores de Coimbra já em oitocentos, permitindo aproximações ao Fado (e neste caso, temos mesmo no trecho final um galope sobre o "Fado de Mario Gayo" em corrido menor). Mas na época a que nos referimos, e até às gravações do compositor/autor em 1927, Artur Paredes idealizara já uma média de 4 a 5 peças distintas por forma a explorar em maior e menor as cordas da Guitarra de Coimbra na nova afinação que estava a ser implementada e testada.

CANÇÃO DO ALENTEJO, vocalização de Tito Costa Santos, palavras de Fernando Murta Rebelo.
Trata-se de uma canção de raiz acentuadamente folclórica, de que a Academia de Coimbra se apropriou através da voz privilegiada de Edmundo Bettencourt, que a gravou em 1928, com Artur Paredes na orquestração e no acompanhamento. Nela também se notam alguns ais de duração variável, sustentada à vontade do gosto do cantor, os ditos ais ao estilo Manassés. A versão apresentada é a de Edmundo Bettencourt, sendo conhecida mas não praticada a de António Menano.

VARIAÇÕES EM RÉ MENOR, solo de Guitarra por Alexandre Bateiras
Flávio Rodrigues nasceu em Coimbra em 1902 e morreu em 1950, com apenas 48 anos de idade. Homem do povo de Coimbra, barbeiro de profissão e grande virtuoso da guitarra, é outro dos grandes vultos do foro musical coimbrão, mestre de guitarra de várias gerações de estudantes nas décadas de 30 e de 40. Gravou alguns discos de guitarradas em 1927, participou na 1ª se´rie de registos de António Menano em Paris, e é autor de diversas peças e variações, entre as quais as Variações em Ré Menor que vamos ouvir.

MENINA E MOÇA, vocalização de José Maria Barros Ferreira, palavras por José Anjos de Carvalho
A música original de Menina e Moça é a do Fado da Récita de Despedida do V Ano Médico de 1919-1920. Este fado Menina e Moça, usando a habitual terminologia aplicada aos “Fados de Récitas”, deveria antes designar-se por “Fado do V Ano Médico de 1920”. O fado primitivo é, portanto, o Fado da Récita de 1920. O seu autor foi Fausto de Almeida Frazão, então quintanista de Medicina, e foi precisamente ele, Fausto Frazão, quem, na dita récita, cantou o referido fado.
Fausto Frazão foi, sem dúvida alguma, um dos grandes cantores daquela época, com actuações públicas em Coimbra, Lisboa e Paris. Infelizmente não chegou a gravar disco algum, pois, tempos depois de formado, foi para Angola como médico e por lá ficou. Foi Deputado à Assembleia Nacional, por Angola, e Presidente da Câmara de Benguela, cidade onde viria a falecer em 1946.
Menina e Moça é um dos mais emblemáticos Fados de Coimbra, pelo que tem sido cantado e gravado por numerosos cantores ao longo de sucessivas gerações.
Na discografia aparecem frequentemente erradas as autorias, quer da música, quer da letra, e o título vem muitas vezes substituído pelo seu 1º verso, ou seja o incipit. Além disso o nome de Edmundo Bettencourt figura por vezes como co-autor, o que também está errado, pois ele nada tem a ver com a autoria, quer da música, quer da letra. O fado é de 1920 e Edmundo Bettencourt só foi para Coimbra em fins de 1922.
A letra do Fado da Récita de 1920 é de Américo Cortez Pinto, que também era quintanista de Medicina, letra que compreende 4 quadras e cuja 1ª quadra é também, simultaneamente, a 1ª quadra do fado Menina e Moça. Porém, a 2ª quadra do fado Menina e Moça, não é do Fado da Récita, nem é de Américo Cortez Pinto, é uma quadra popular.
O fado Menina e Moça foi gravado pela primeira vez no Porto, em 1928, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola por Mário Faria da Fonseca. António Menano também gravou este fado em Dezembro de 1928, com o mesmo título e música, mas adaptou-lhe uma outra letra que não ganhou muitos aderentes.

ALEGRIA DOS CÉUS, canta Victor de Carvalho
ALEGRIA DOS CÉUS é também um fado da Década de Oiro, os anos 20. Foi gravado em 1929 por Edmundo Bettencourt. O autor da letra é José Campos de Figueiredo, antigo estudante de Coimbra daquela década e, o autor da música, é Mário Faria da Fonseca, o violonista que, tal como Artur Paredes, sempre acompanhou Edmundo Bettencourt em todas as suas gravações.

FIM DA 1ª PARTE
INTERVALO

SEGUNDA PARTE
IV – ANOS 40 e 50, palavras por Francisco de Vasconcelos
Senhoras minhas e meus Senhores: antes de continuarmos a nossa viagem musical coimbrã, queremos informar os senhores passageiros deste mágico autocarro que acabamos de chegar aos anos 40 e 50 do século XX.

FEITICEIRA, canta Alcindo Costa
A FEITICEIRA é uma serenata ligeira dos anos 40, música e letra de Ângelo Araújo. O seu primeiro divulgador foi o famoso Manuel Simões Julião, que após transito pelo Liceu de Coimbra, foi caloiro de Direito no final da década de 1930, tendo frequentado Histórico Filosóficas de 1940 a 1945. Este solista do naipe dos 1ºs tenores do Orfeon Académico nasceu na Pampilhosa, Mealhada, em 1915. Trabalhou longos anos como funcionário administrativo, primeiro na Câmara Municipal de Aveiro, e mais duradouramente na Secretaria da Câmara Municipal de Mortágua. Faleceu em 1982.
Aquando da preparação do filme “Capas Negras”, de Armando Miranda, esta serenata era muito conhecida em Coimbra e estava na moda. Foi por isso que o dito fado acabou por ser aproveitado e escolhido para fazer parte desse mesmo filme. A Alberto Ribeiro coube no filme o papel principal, de estudante e cantor, e foi ele, sem dúvida, o grande divulgador deste fado por todo o país e Brasil, o que constituiu um grandioso sucesso, quer pessoal, quer do próprio fado. Apesar do enorme sucesso de bilheteira, o filme levantou enorme reacção na Academia de Coimbra. A primeira gravação conhecida desta serenata foi feita no Brasil, em disco de 78 rpm, pelo próprio Alberto Ribeiro.

VARIAÇÕES EM LÁ MENOR, solo de Guitarra por António Serrano Baptista
João Bagão, nasceu na Figueira da Foz, completou o curso dos liceus em Coimbra e frequentou a Faculdade de Ciências durante três anos.
Em 1948 abandonou Coimbra e os estudos e fixou residência em Lisboa, tendo trabalhado como agente de propaganda médica (Figueira da Foz, 14/07/1921; Lisboa, 09/12/1992).
Amante de música, tocou bandolim, viola, piano e guitarra. Definitivamente atraído para guitarra, tornou-se num dos melhores guitarrista de Coimbra do seu tempo.
João Bagão sofreu notória influência do estilo revolucionário e inovador de Artur Paredes, tocava com invulgar virtuosismo e foi, em certa medida, um renovador, quer a compor, quer a fazer os acompanhamentos.
Esta composição, de meados da década de 40, foi popularíssima em Coimbra e nos repertório de grupos activos no Porto, sendo vulgramente conhecida por "Lá Menor das Feiras".

ADEUS A COIMBRA, canta Augusto Camacho Vieira, palavras de Fernando Murta Rebelo
A música e a letra são de Edmundo Bettencourt. O fado foi gravado pela primeira vez em 1957 por Augusto Camacho, acompanhado à guitarra por Carlos Paredes e, à viola, por António Leão Ferreira Alves, disco que viria a ser editado no ano seguinte, em 1958. Dois anos depois, em 1960, este mesmo fado voltaria a ser gravado pela voz de Paradela de Oliveira, acompanhado à guitarra por João Bagão e José Amaral e, á viola, por Arménio Silva.

AGUARELA PORTUGUESA, solo de Guitarra por António Serrano Baptista, palavras de Francisco de Vasconcelos
A guitarrada AGUARELA PORTUGUESA é da autoria de António Portugal, guitarrista de nomeada, a quem a CC muito deve. António Portugal teve como mestres de guitarra dois barbeiros de profissão, os irmãos Rodrigues da Silva, o Flávio, «o barbeiro da Velha Alta» e o Fernando, «o barbeiro da Académica». Estes dois grandes mestres, o Flávio e o Fernando, eram filhos de António Rodrigues da Silva, também ele um notável guitarrista no seu tempo. António Portugal participou logo em 1952 nas primeiras gravações que houve de Fados e Guitarradas de Coimbra depois de 1930. Era então um jovem estudante de 21 anos, trabalhando como 2º guitarra de António Brojo.
Em 1956-57 é 1º guitarra do célebre grupo Coimbra Quintet, que grava os primeiros discos de vinil, e nunca mais pára até que a morte o levou em 1994, tinha ele 63 anos. Praticamente, António Portugal dedicou toda a sua vida de adulto à música e CC.
Aproveito para pedir a vossa especial atenção para o facto de, não sendo esta uma das mais ricas guitarradas de Coimbra, é das poucas que permite um diálogo permanente entre as duas guitarras, numa conjugação musical difícil de encontrar.

RUA LARGA, canta Tomé de Medeiros, palavras por José Anjos de Carvalho
O fado RUA LARGA foi composto por Carlos Figueiredo em 1958, em Angola, destinado propositadamente para ser cantado nas comemorações da Tomada da Bastilha que tiveram lugar em Novembro desse mesmo ano de 1958. O fado veio depois a ser gravado por Luiz Goes em 1967, com João Bagão e Aires de Aguilar nas guitarras e António Toscano e Fernando Neto Mateus da Silva nas violas. A letra evoca uma antiga rua da Alta de Coimbra, que ia do Arco do Castelo, junto aos velhos Hospitais da UC, até à Porta Férrea da UC.

V – ANOS 60 E CANTARES DE INTERVENÇÃO, palavras por Francisco de Vasconcelos
Vamos continuar a nossa viagem musical atravessando agora os anos 60 e os Cantares de Intervenção.

CANTIGA PARA OS QUE PARTEM, vocalização de Tito Costa Santos, na versão gravada por Adriano
Começamos pela CANTIGA PARA OS QUE PARTEM. A letra é de Rosalía de Castro, que foi inspirada poetiza galega do século XIX. A música foi composta por José Niza para uma peça de teatro ensaiada em 1969, e logo perseguida pela censura. Foi gravada por Adriano Correia de Oliveira sob o título CANTAR DE EMIGRAÇÃO e, por António Bernardino, sob o título CANTIGA PARA OS QUE PARTEM.
As letras são ligeiramente diferentes, são duas variantes literárias sobre o mesmo tema, devendo considerar-se versão correcta a gravada por Adriano Correia de Oliveira.

FLORES PARA COIMBRA, vocalização de Augusto Camacho Vieira
A letra é de Manuel Alegre, a música é de Joaquim Fernandes e o arranjo musical é de Francisco Martins. Foi António Bernardino, o nosso saudoso Berna, quem primeiro gravou esta canção, cujo disco constitui um gritante testemunho sonoro da grande Crise Académica de 1969, precisamente o ano em que o disco foi editado. Joaquim Fernandes da Conceição, natural da Freguesia de Cedofeita, Porto, era companheiro de António Bernardino no Quartel Militar de Santa Clara de Coimbra, na Secção de Transportes Rodoviários, quando Berna lhe pediu que pusesse em música o poema de Manuel Alegre para um disco que pretendia ensaiar e gravar no segundo semestre desse ano de 1969. Fernandes entrou em Santa Clara no mês de Março de 69, tendo idealizado a composição por Junho desse ano, na sua casa de família no Porto. Tocou a melodia ao piano e fez um trauteio, que depois de passados a cassete foram entregues em mão a António Bernardino. É uma linda canção em compasso 4/4, e modo maior, com duas partes musicais, que Fernandes ajudou a ensaiar na casa de António Portugal. Terminado o serviço militar, Joaquim Fernandes regressou ao Porto, tendo trabalhado como jornalista no "Jornal de Notícias", e após Licenciatura em História na FLUP (1989), e mestrado (1996), passou a trabalhar como docente na Universidade Fernando Pessoa. O arranjo de guitarra proposto por Francisco Martins é de belo efeito, nem sempre lhe sendo dado o devido valor, uma vez que a autoria este trabalho costuma ser erradamente confundida com o nome de António Portugal.

MELODIA Nº 2, solo de Guitarra por Alexandre Bateiras
Carlos Paredes nasceu em Coimbra em 1925. É filho de Artur Paredes, neto de Gonçalo Paredes e sobrinho-neto de Manuel Rodrigues Paredes, pelo que provém de uma família de destacados guitarristas de Coimbra (m., Lisboa, 2004).
Quem não conhece Carlos Paredes? Compositor e intérprete de alto gabarito e grande inovador, a ele principalmente se deve a universalização da Guitarra de tipo conimbricense como instrumento musical. Esta composição aparece gravada pela primeira vez em 1967, no Lp “Guitarra Portuguesa”, com participação de Fernando Alvim na viola de acompanhamento.

TROVA DO VENTO QUE PASSA, canta Tomé de Medeiros
A música é de António Portugal e de Adriano Correia de Oliveira, a letra é de Manuel Alegre. Peça estrófica, passível de ser entoada em coro, foi gravada por Adriano Correia de Oliveira em 1963, após a Crise Académica de 1962 e depois por António Bernardino durante a Crise Académica de 1969, no Lp “Flores para Coimbra”. A autoria a música costuma figurar sempre com o nome de António Portugal, embora se saiba de fonte segura nos meios conimbricenses que foi Adriano quem compôs os rudimentos da melodia, a qual foi completada e aperfeiçoada por Portugal.

VI – ANOS 80 E SEGUINTES, palavras por Fernando Murta Rebelo
A nossa viagem entra agora pelos anos 80

MEMÓRIA, canta José Maria Barros Ferreira
Musicada por José Maria Barros Ferreira, que é também seu intérprete, esta canção tem letra de Francisco de Vasconcelos, que com ela quis homenagear a memória do Alferes Linhares de Almeida, morto em combate na Guiné em 1966. Composta por estes dois elementos do Grupo Serenata de Coimbra, aqui fica esta “memória”. Trata-se de uma composição inédita que oportunamente poderá vir a ser gravada.

ENCERRAMENTO
Caríssimos Amigos: chegámos ao fim da nossa viagem. De todos nos despedimos com a “Balada de Despedida do 5º Ano Jurídico de 1906-1907”. A música é do maestro Rebelo Neves e, a letra, é de Cândido Guerreiro, quintanista de Direito no ano de 1906-1907.
Esta Balada de Despedida foi recuperada pelo Grupo Serenata de Coimbra, que fez o arranjo que lhe deu a actual “roupagem”. De realçar a sensibilidade poética e a inspirada melodia que facilmente entra no ouvido e que, sendo cantada sempre no mesmo tom, permite apreciar o timbre das vozes dos diferentes solistas.
Convidamos o auditório a cantar o “Refrão”.
Como foi dito logo no início pelo nosso companheiro Tito Costa Santos, nas guitarras de Coimbra estiveram, Alexandre Bateiras e António Serrano Baptista e, nas violas, João Figueiredo Gomes, José Rodrigues Pereira e Manuel da Costa Braz, que, a finalizar, nos vão deliciar com a célebre Balada de Coimbra, de José Eliseu, na versão instrumental concebida por Artur Paredes.
Esperamos que a viagem romântica e sentimental que vos propusemos pelo Canto e Guitarra da cidade encantada de Coimbra, tenha sido do vosso agrado.
Muito obrigado pela vossa atenção.
Da nossa parte, foi um prazer estar convosco.

Nota: texto proveniente do arquivo particular do Coronel José Anjos de Carvalho, prestimoso colaborador do Blog “guitarradecoimbra”, cuja formatação e grafismo foram adaptados para efeitos de edição on line. De salientar que se trata da única proposta de alinhamento temático-cronológico alternativa ao projecto “Tempos de Coimbra”, divulgado em 1983 na RTP pela formação de António Brojo/António Portugal (não consideraremos ao mesmo nível o percurso proposto por José Manuel Beato e Patrik Mendes no DVD "História do Fado de Coimbra", editado pelo Diário de Coimbra em 2004, esgotado, reeditado em Dezembro de 2005 e de novo esgotado). Há alguns períodos artisticamente omissos, como as décadas de 1930 e a de 1970, merecedoras de maior individualização e diversificação. Em todo o caso, ressalvem-se o especial valor didáctico conferido aos textos, o tom coloquial do encontro, a substancia bem documentada da informação veiculada ao público, e o terrível esforço que é condensar em escassos minutos mais de 100 anos de composições musicais. Esta memória vinha acompanhada da rigorosa transcrição integral de todas as letras cantadas no espectáculo, as quais foram omitidas por necessidade de economia do texto (António M. Nunes).

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