sábado, janeiro 07, 2006


"Cistre, guitarras e fado" Posted by Picasa
Unidade de matéria do programa de Educação Musical do 6º Ano do Ensino Básico, presente em Isabel Carneiro, Manuela Encarnação, Mário Relvas, "Musicando 6", Lisboa, Editorial O Livro, 2001, numa tiragem de 5 mil exemplares. Esta página constitui um mau exemplo de organização de contéudos escolares, em virtude do não domínio de matérias que requerem lenta e progressiva especialização, e da má digestão de certas leituras de apoio. A abordagem do "cistre", visto como cordofone vindo de Inglaterra e entrado em Portugal pela cidade do Porto, carece de alongada reformulação, sobretudo tendo em conta estudos já disponíveis em 2001 de José Alberto Sardinha e Pedro Caldeira Cabral. Das múltiplas interrogações que nos ocorrem, não conseguimos entender o motivo que levou os autores a conglobar na mesma página Fado de Lisboa e CC, dado que a distribuição musical estava a ser proposta de acordo com o mapa provincial de Portugal. Como unir Beira Litoral e Estremadura? Quanto aos cordofones 1 e 2, as legendas estão obviamente trocadas. A foto nº 1 corresponde ao modelo mais comum da Guitarra de Fado (como ainda hoje é vulgarmente conhecida, numa designação extensiva aos antigos territórios de Angola e de Moçambique) ou de tipo lisboeta. A foto nº 2 tem muito que se lhe diga. O que ela tem é um certo parecer da Guitarra de Coimbra, sendo visivelmente um "cepo", isto é, um instrumento de mau fabrico, com um tipo de escala caído em desuso e uma confuguração de caixa tirada por aproximação. O parágrafo sobre a difusão geográfica da guitarra também merece objecções. A eterna e frustantemente redundante conversa em torno de "um tom abaixo da guitarra de Lisboa" visivelmente não nos merece perda de tempo. Os únicos cordofones tradicionais portugueses dignos de nota que usam a Afinação do Fado, merecendo comparação com a Guitarra de Fado, são a Viola Braguesa e a Viola Amarantina. As propostas de audição são aceitáveis (a um lado um Fado Corrido, a outro a Balada do Outono de José Afonso), mas não os propósitos comparativos. Conforme frisava em 2004 o arguto José Manuel Beato (dvd "História do Fado de Coimbra"), há que fugir inteligentemente à velha e armadilhada pecha "dos pontos comuns/diferenças". O excercício de comparar/distinguir não conduz a resultados úteis, tanto se podendo aplicar a fórmula entre Canção de Coimbra/Fado (de Lisboa), como em relação ao Tango, à Morna, à Canção Napolitana ou outro qualquer género musical. Ou, no pior dos casos, até se poderia, no uso consciente de certa má ideologia, recorrer ao pronto-a-vertir "artes maiores"/"artes menores".
Quanto às propostas formuladas pelos autores, escutar "os géneros de música do Fado de Lisboa e do Fado de Coimbra", não suscita problemas. Conversar "acerca das músicas e suas características", não é esperar um autêntico milagre das rosas da parte de crianças mal lidas, desinformadas, muito distanciadas de noções que nem sequer todos os adultos dominam?
AMNunes

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