terça-feira, março 14, 2006


Palácio da Loucura Posted by Picasa
"Viver numa República de estudantes de Coimbra. Real República Palácio da Loucura (1960-1970)", Porto, Campo das Letras, 2004, condensa uma tese de mestrado em sociologia apresentada por Teresa CARREIRO à Universidade Nova de Lisboa sob orientação do Prof. Doutor João Ranita da Nazaré. A autora baseou-se na recolha de testemunhos de repúblicos posicionados em diversas gerações, imprensa periódica, documentação da antiga PIDE depositada na Torre do Tombo, bem como literatura disponível sobre as vivências estudantis de Coimbra.
Estamos em presença de um olhar distanciado, de quem não tendo vivido nem estudado em Coimbra se lançou num esforço de desvendamento e compreensão do objecto de análise. A aposta foi ganha. Teresa Caeiro faz investigação e maneja testemunhos orais com manifesta desenvoltura, descreve correctamente as tradições coimbrãs e interpela-as criticamente, reconstituindo o modus vivendi dos repúblicos que fizeram a Real República Palácio da Loucura na década de 1960. Talvez se possa resumir numa frase a questão central que percorre as 338 páginas do livro: o que era ser adolescente em Portugal e muito particularmente na UC antes deste segmento da vida humana ter conquistado em Portugal visibilidade sociológica?
A parte introdutória relativa às origens das repúblicas estudantis é a menos conseguida, do ponto de vista da abordagem teórica, pois um conhecimento mais aprofundado provaria que os mitos libertários das origens oitocentistas (r)entraram em erupção na década estudada. Os parágrafos dedicados à iniciação sexual dos adolescentes enfocados mereceria mais alongada pesquisa, tendo em conta os tradicionais silêncios neste particular campo e as mutações observadas nos sixties. Os deslizes de linguagem são insignificantes (ainda assim, de lamentar, na pág. 41, a derrapagem para "Direcção da mais vetusta Academia do país", sendo evidente a confusão entre Direcção Geral da Associação Académica e Academia de Coimbra).
Um dos colaboradores ligados a esta tese - Augusto Camacho Vieira - tinha-nos indicado este livro para leitura de horas mortas. Ler a tese de Teresa Carreiro e ficar a conhecer melhor as vivências estudantis numa República de Coimbra é tarefa bem empregue.
AMNunes

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