terça-feira, setembro 19, 2006


A Alta no final do século XVIII Posted by Picasa
Levantamento da Alta de Coimbra efectuado em finais do século XVIII, na sequência da Reforma Pombalina de 1772. Ocorre em Pedro Dias, "Coimbra Arte e História", Porto, Paisagem Editora, 1983, p. 15, e no tomo das actas "Alta de Coimbra. História. Arte. Tradição. 1º Encontro Sobre a Alta de Coimbra, Coimbra, 23, 24, 25 e 28 de Outubro de 1987", Coimbra, GAAC, 1988, p. 93.
A verde claro assinalámos a "universidade velha", configurada na acrópole conimbricense pelo Paço Real das Escolas, Torre, Via Latina, Pátio das Escolas, Gerais, Real Capela de S. Miguel, Livraria (Biblioteca Joanina) e Escadas de Minerva. No Pátio das Escolas não está marcado o rectângulo do Observatório Astronómico, dado que numa primeira fase os arquitectos pombalinos tiveram em mente construí-lo sobre os alicerces do Castelo (daí a sua figuração a tracejado vermelho entre o Colégio dos Militares e o Colégio de S. Jerónimo).
No seguimento dos aposentos do Reitor, uma vez passada a Porta Férrea, erguia-se o Colégio de São Pedro (verde escuro). Este antigo colégio serviu de Conselho Superior de Instrução Pública (1845), aposentadoria da Casa Real (1855-1910), albergou precariamente a primitiva Faculdade de Letras, serviços anexos ao Laboratório Astronómico e a Secretaria Geral. Profundamente restaurado no Estado Novo, constitui uma extensão da Reitoria e da Faculdade de Direito.
Descendo da Rua de Entre-Colégios para a Rua da Trindade, vislumbrava-se o Colégio da Trindade (amarelo escuro), em cuja planta aparecem marcadas a igreja e o pátio-jardim mas não o pequeno claustro. Na igreja e claustro do Colégio da Trindade funcionou no século XIX o Tribunal Judicial de Coimbra (1835-1881). Instalado o Tribunal nos Paços do Concelho, a mesma igreja acolheu a AAC após a demolição da respectiva sede no ano de 1888, o ginásio académico e a marcenaria "Pereiras". Nesse igreja-salão viveu a Academia de Coimbra as turbulentas Assembleias Magnas do Ultimato Britânico e da Revolta de 31 de Janeiro, a tal ponto que o governo mandou "encerrar" a AAC. No plano de obras da Cidade Universitária o edifício esteve pensado como Residência Universitária Feminina, e posteriormente como Residência Masculina. O projecto ficaria abandonado e nos finais da década de 1980 a igreja desabou aparatosamente sobre a calçada da Couraça. Sem protecções nem vigilância, os azulejos e as cantarias esculpidas anoiteceram mas não amanheceram... O edifício está a vias de ser reconvertido na sede do Tribunal Judicial Universitário Europeu.
Continuando a descer a antiga Rua dos Grilos, na direcção dos actuais Serviços de Acção Social (casa do Doutor Guilherme Moreira) e Secretaria Geral, do lado oposto às Escadas de Minerva via-se o modesto Colégio de Santo António da Pedreira (azul claro), com a sua capela avançada, e novamente sem marcação do claustrim. Continua afecto à Casa de Infância Elysio de Moura, instituição duradouramente associada à filantropia estudantil.
Um pouco abaixo ficava o Colégio de Santa Rita, ou dos Padres Grilos, ainda hoje famoso por ali terem habitado Oliveira Salazar e o Cardeal Cerejeira. Chegou a ser pensado para Residência Universitária Feminina no plano de obras do Estado Novo. Na década de 1950 e anos iniciais de 60 (1949-1963), foi este colégio sede da Associação Académica e palco privilegiado de acontecimentos como a institucionalização do Museu Académico (21/05/1951), a Segunda Tomada da Bastilha (04/04/1954), fundação do CELUC (1954), fundação do CITAC (1956), fundação do Coro Misto (1955-56), a Contestação ao Decreto-Lei Nº 40.900, de 12 de Dezembro de 1956 (controlo da autonomia das associações estudantis), o apoio à Campanha de Humberto Delgado (31/05/1958), o triunfo da lista da oposição associativa liderada por Carlos Candal (31/10/1960), e a Crise Académica de 1962. Profundamente restaurado, serve de sede à Secretaria Geral da UC.
Voltando à Porta Férrea e lançando vistas à Rua Larga, aparece de imediato o Colégio de São Paulo-o-Apóstolo onde em 1838 se instalou Academia Dramática (vermelho) e o Teatro Académico. No interior do edifício, muito arruinado pelo Terramoto de 1755, existia um claustro de orientação rectangular, não desenhado na planta, onde se construiu em 1838-1839 o Teatro Académico. As confrontações estão bem demarcadas, identificando-se a fachada principal com a Rua Larga, e as restantes com a Rua de São Pedro, Rua das Parreiras (traseiras) e Rua de Entre-Colégios. Demolido em 1888, este edifício acolheu o Instituto de Coimbra, o Clube Académico (1861-1887), a Orquestra e Conservatório Musical do Teatro Académico e a jovem Associação Académica de Coimbra (1887).
A demolição do edifício originou um vasto terreiro onde por muitos anos se fizeram Fogueiras do S. João. No mesmo espaço seria edificada a primeira Faculdade de Letras (1913-1929), posteriormente transformada em Biblioteca Geral (1956). O quarteirão situado entre a Rua das Parreiras e o Colégio da Trindade seria aproveitado para a construção do Arquivo da UC (1948). Na Rua de Entre-Colégios, entre as traseiras da antiga Faculdade de Letras (Biblioteca Geral) e o Arquivo, existe um portão que dá serventia a um pequeno pátio. Este pátio corresponde ao troço da antiga Rua das Parreiras.
No tocante ao Colégio de São Paulo-o-Apóstolo, de tão ilustre e fugaz memória, importaria trazer à luz do dia a crónica da construção do Teatro Académico, o espólio do Conservatório Musical (identificado e em processo de estudo pelo Prof. Flávio Pinho) e o quotidiano do Clube Académico. Para aguçar um pouco o apetite aos amantes da pesquisa, a AAC foi uma agremiação estudantil inteiramente fundada de novo em 1887 pelos republicanos António Luís Gomes/Guilherme Moreira? Resultou de simples revisão dos estatutos da velha Academia Dramática conforme se escreveu e aceitou acriticamente desde 1887? Para além do choque ideológico entre o pendor pró-monárquico do Clube Académico e as tendências pró-republicanas da Associação Académica, que diferenças de fundo se poderão assinalar nessa 2ª metade do século XIX entre as duas colectividades estudanto-juvenis?
Quase a meio da Rua Larga pode identificar-se o Colégio de São Boaventura, em castanho escuro, onde se tornou necessário delimitar o claustro. Este edifício funcionou como escola primária, Prisão Académica (1855...) e Instituto de Antropologia (desde 1911). Seria demolido em 1949 para dar lugar ao projecto da nova Faculdade de Medicina. O mesmo aconteceria em relação ao Colégio dos Lóios (marcado a preto), gigantesco edifício dotado de claustro, que se espraiava entre a Rua Larga, a Rua dos Lóios e o Largo da Feira dos Estudantes (fachada principal). Até à respectiva demolição serviu de sede à Junta de Província da Beira Litoral, Governo Civil (1843-1943), Direcção de Finanças, Posto da PSP, Correios, Inspecção Escolar e Bombeiros da Alta. Na falta de melhor espaço, a TAUC esteve sedeada neste colégio pelo ano de 1912. Sucessivamente pensado para nova Faculdade de Letras, Departamento de Física e Química, Governo Civil, sofreria um violento incêndio em 17/11/1943. Demolido em 1944, cedeu lugar à Faculdade de Medicina inaugurada em 29/11/1956.
Do outro lado da Rua Larga, e deficientemente desenhado no mapa, marcámos a cor-de-rosa o rectângulo do Colégio de São Paulo-o-Eremita. Depósito de livros da UC durante décadas, casa mãe do Instituto de Coimbra (=Clube dos Lentes), este colégio preenhe um lugar mítico nas memórias académicas. A AAC ocupou-lhe o rés-do-chão entre 1913-1920 e os restantes pavimentos de 1920 até 1949. A ocupação plena do imóvel é conhecida pela designação de Tomada da Bastilha. O espaço demolido viria a ser aproveitado pelo Departamento de Química e Física da FCTUC.
Descendo em direcção ao Jardim Botânico, um círculo vermelho assinala com exactidão a implantação da Porta da Traição ou da Genicoca. O arco, em forma de ferradura, foi demolido em 1836 a mando da municipalidade. No prosseguimento da Rua da Traição, e bordejando o Jardim Botânico, adivinha-se a silhueta do Colégio/Igreja de São Bento (azul escuro). A igreja, que serviu de sede ao Orfeon Académico e de Ginásio ao Lyceu de Coimbra, viria a ser demolida em 1932. Substancialmente restaurado e remodelado, o Colégio de S. Bento acobertou os liceus de Coimbra, funcionando na actualidade como Instituto de Antropologia.
À frente do Colégio de S. Bento (claustro antigo omisso no desenho), corriam os pilares e arcos do Aqueduto de S. Sebastião e a Ladeira do Castelo (=do Lyceu, Martim de Freitas). Do lado oposto ao flanco norte da Igreja de S. Bento insinuava-se um robusto muro da antiga muralha. Sobre ele se erguia o mal conhecido Colégio dos Militares (lilás), dotado de claustro, que tendo servido de Hospital dos Lázaros, foi sacrificado aos projectos do Departamento de Matemática (17/04/1969) e parte da Praça D. Dinis. Colado ao Colégio dos Militares, um rectângulo a tracejado vermelho indica parte das fundações do Castelo de Coimbra, sobre as quais Pombal indicou a construção do Observatório Astronómico (não construído). Mais metro, menos metro, ali está o colossal D. Dinis.
Passando o Largo do Castelo e o Arco do Castelo (não assinalado), avistam-se o Colégio de S. Jerónimo (amarelo claro) que foi casa mãe dos Hospitais da UC até 1987, o Real Colégio das Artes (cor de laranja), sede do Lyceu de Coimbra e dos Hospitais (obras profundas em 1904), servindo no presente o Departamento de Arquitectura.
A verde claro assinalou-se o Colégio de Jesus, com o templo promovido a Sé Nova pelo Marquês de Pombal. Na sequência da reforma pombalina o edifício recebeu os Hospitais da UC e o Museu de História Natural.
AMNunes

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