quarta-feira, setembro 20, 2006


Colégio da Trindade (6) Posted by Picasa
Vista dos escombros e da Couraça de Lisboa, captada a partir da porta de entrada para a antiga "loggia". A altura, a ventania, o chiar dos madeiramentos do telhado e a paredes caídas metiam medo. Algumas casas abaixo desta igreja morava o Doutor Salvador Arnaut que, tendo atingido a jubilação, se passeava todas as tardes com um canzarrão cinzento na Couraça, Rua da Traição e Praça D. Dinis. Por vezes ia à Faculdade de Letras visitar o Instituto de Expansão ou tratar de pós-graduações. Em encontrando alguma cara conhecida na sua passeata diária, era certo e seguro que o Doutor Arnaut metia conversa onde não faltavam episódios picarescos dos tempos em que fora estudante de Medicina e de História. Com a Couraça obstruída, o Doutor Arnaut queixava-se amargamente que agora tinha de subir e descer as nada convidativas escadas da Travessa da Trindade.
A derrocada da igreja da Trindade conduziu nos anos seguintes à evacuação dos derradeiros moradores. A mítica Taberna do Pratas onde D. Ana vendia traçados, queijos frescos, ovos cozidos, cervejas e tinto, com o seu ramo de louro à porta, fecharia as portas à roda de 1996-97 (diziam as más línguas que no Pratas os preços iam variando conforme a hora do dia. Assim, um ovo cozido podia começar por custar 20 escudos às 11h da matina, 22 escudos às 15h, e 25 escudos entre as 18 e as 20h). À semelhança da Tasca das Camelas, o Pratas estava pejado de escritos nas paredes, cartazes e papéis manuscritos, restos de gravatas de rasganços, tudo abençoado por uma "raposa" empalhada que parecia zombar dos bacantes e goliardos. Ali se deram afamadas festas de formatura, acaloradas discussões futebolísticas, carpimentos de chumbos e eloquentíssimas dissertações de caloiros.
AMNunes

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