sábado, outubro 07, 2006

Fado Music
I apologize that I cannot speak your language. I hope you know English.
Earlier this month I flew between Newark, USA, and Lisbon/Lisboa on TAP airline. One of the music channels was labeled "special." I was curious so I listened. I found the music wonderful. I listened to it most of the way to Portugal. On the way back home to the US I listened to it over and over, for the entire trip. The artists featured included: José Mesquita, António Bernardino, Janita Salomé, Alfredo Correia, Quintet de Coimbra, Luiz Goes, António Portugal, Fernando Machado Soares and José Afonso.
I am very fortunate that I was introduced to Fado music by these artists. I would love to obtain some CDs of this music so I could enjoy it in the US. I haven't been able to find it in America. Can you suggest any way that I could purchase this recorded music?
Thank you, or as I learned in your beautiful nation, obrigado.
John Herlik (USA)
Thursday, October 05, 2006
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Dear Mr. Herlik,
Unlike Tango, Samba, Flamenco, Napolitan Song and Lisbon Fado, Canção de Coimbra has no expression on international music markets.
Even if we think only of local production, the records available are very insufficient and do not cover the XIXth century repertoire, or the different artistic cycles of the XXth century. The re-edition of sound tracks of the period between 1900-1930 hardly exists.
In any case, and as far as a first approach goes, we suggest the following:

A) You can contact an editor named MOVIEPLAY PORTUGUESA-SA (http://www.movieplay.pt/), ordering the following CDs:
-CD “Serenata Monumental”, MOV 30.487, 2003, which we think is the one you listened to during your flight;
-CD “Fados e Guitarradas de Coimbra. Vol. 2”, MOV 30.425, 2001, with plays of the 1950-1960-1980’s;

B) You can also contact another editor, EMI-VALENTIM DE CARVALHO (http://www.valentim.pt/):
-“Luiz Goes. Canções para quem vier. Integral (1952-2002)”, EMI 724358029727, 2002;
-“O Mundo segundo Carlos Paredes. Integral (1958-1993)”, EMI 72438030426, 2002;
-“Tempos de Coimbra. Quatro Décadas no Canto e na Guitarra”, EMI 0777760729, 2002. Its first edition dates from 1984, and this record tries to draw a portrait of the Canção de Coimbra between 1900-1983.

You can still research:
-TRADISOM, “Fado’s Archives” (http://www.tradisom.com/). Re-edition of records of the 1920’s;
-NUMERICA: CD “Folha a Folha. Jorge Cravo”, 2000 (http://www.numerica-multimedia.pt/). Project related to the experiences of Contemporary Art Period.
Coimbra, October 06, 2006
António Manuel Nunes
Octávio Sérgio
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Thank you so much for your complete and fast response to my questions.
John Herlik
(USA, Saturday, October 07, 2006)


O Coro dos Antigos Orfeonistas esteve na comemoração dos 80 anos da Ordem dos Advogados. Diário as Beiras de hoje. Posted by Picasa


Homenagem a Fernando Rolim, logo, pelas 21 horas, no ISEC. Diário as Beiras de hoje. Posted by Picasa

sexta-feira, outubro 06, 2006


Homenagem a Fernando Rolim, amanhã, no auditório do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra. Diário de Coimbra de hoje. Posted by Picasa


Grupo Allegro esta noite na FNAC de Coimbra. Diário de Coimbra de hoje. Posted by Picasa

ESTÓRIAS À LENTE (12)

XL.

In illo tempore, quando ingressei na licenciatura em História (1968), era Vice-Reitor da UP um lente de impressionante figura: chamava-se Armando Vasconcelos Laroze Rocha (1900-1983), era o decano da Faculdade de Farmácia e encontrava-se já bem perto da jubilação (que ocorreria em princípios de 1970). Impressionante figura, disse eu: de elevada estatura (mais de 1,90 m), ostentava tambem um cranio, na altura acentuadamente calvo, de dimensoes que traiam o Homem de Ciencia que era.
A sua carreira na Universidade era longa: vinha dos anos 20. Doutorara se em 1927 e ascendera a catedra em 1938. Durante boa parte da decada de 50 fora Director da sua Escola. E em 1965 substituira o Doutor Rodrigo Sarmento de Beires, lente de Matematica entao jubilado, no lugar de numero dois do Doutor Manuel Correia de Barros Jr., lente de Eng. Electrotecnica, Reitor de 1961 a 1969.
Quanto ao mais, o Doutor Laroze Rocha era Alguem de grande afabilidade e que positivamente marcou sucessivas geraçoes. Espirito aberto (por alguma razao a Fac. Farmacia tinha nesse tempo a unica Associaçao de Estudantes portuense, e uma das raras do Pais, a funcionar em plena legalidade), nao hesitou, na Primavera de 1969, em autorizar a realizaçao de varias Assembleias Magnas na Fac. Letras, a elas presidindo pessoalmente (isto por estrita exigencia legal, como explicou, e o facto e que limitou a presidencia ao abrir e fechar das sessoes, cumprimentando os presentes e desejando bom trabalho no inicio, e congratulando se pelo que se conseguira no final). Era tambem um Homem de Ciencia com preocupaçoes ambientais: a poluiçao do Rio Leça foi assunto que em diversos momentos o ocupou.
Mas era tambem proverbial o seu perfil de sabio distraido (dos autenticos...). Em certa ocasiao deslocou se de automovel a Povoa de Varzim, acompanhado de Sua Mulher e de uma Cunhada que com eles vivia. Estando um lindo dia primaveril, deixou as Senhoras a beira mar e la foi tratar dos seus assuntos. Horas depois regressou as imediaçoes da praia, passou pelas Senhoras... e esqueceu se de parar para as recolher, prosseguindo caminho para o Porto ! So muito perto do destino se deu conta da sua distracçao, voltando entao atras busca las...
Ulteriormente, recordando com bom humor o episodio, lembrava uma obsidiante pergunta que lhe aflorava ao espirito quando, sozinho, rumava ao Porto:
_ Quem seriam aquelas Senhoras tao simpaticas que estavam ao pe da praia e que me disseram adeus !...
Obs.: Este episodio foi me narrado em 1990 pelo saudoso Mestre de Farmacia da UP Doutor Luis Vasco Nogueira Prista. Com o titulo ¨Um lente distraido¨, publiquei o ja em UPorto. Revista dos Antigos Alunos da UP, 7 (2003, Mar.), p. 38.
Armando Luis de Carvalho HOMEM

EQUIPA REITORAL DA UNIVERSIDADE DO PORTO


(foto de Egídio Santos)

Em 2006/08/05 dei aqui conta da posse (em 03 de Jul.) do novo Reitor da UP, o lente de Engenharia/Eng.ª Electrotécnica Doutor José Carlos Diogo Marques dos Santos, divulgando duas fotos da transmissão de poderes pelo prelado cessante, o lente de Engenharia/Eng.ª Civil Doutor José Ângelo Novais Barbosa. Deixo aqui hoje uma foto, na escadaria da Fac. Ciências (aos Leões, em edifício que, 30 anos depois, volta a albergar a Reitoria), da totalidade da equipa reitoral. 1.ª fila, da esq. para a dir: Doutora Lígia Maria da Silva Ribeiro
(Investigadora Principal da Fac. Eng.ª), Pró-Reitora para a Universidade Digital; Doutor José Carlos Marques dos Santos, Reitor; e Doutora Maria de Lurdes Correia Fernandes (lente de Letras/Estudos Portugueses e Estudos Românicos), Vice-Reitora para a Formação, Organização Académica e Alunos; 2.ª fila, da esq. para a dir.: Doutor António José Magalhães Silva Cardoso (lente de Engenharia/Eng.ª Civil), Vice-Reitor para o Património Edificado, Higiene, Segurança e Condições Ambientais das Instalações e Contratação Pública; Doutor Jorge Manuel Moreira Gonçalves (lente de Farmácia), Vice-Reitor para a Investigação, Desenvolvimento e Inovação; Doutora Ana Teresa Cunha de Pinho Tavares-Lehmann (lente de Economia), Pró-Reitora para o Planeamento Estratégico e as Relações e Participações Empresariais; e Doutor António Silva Janeira (lente de Desporto), Pró-Reitor para a Cultura, Lazer e Desporto; 3.ª fila, da esq. para a dir.: Doutor António Teixeira Marques (lente de Desporto), Vice-Reitor para as Relações Internacionais, Comunicação, Imagem e Marketing; e Doutor José António Sarsfield Cabral (lente de Engenharia), Pró-Reitor para a Melhoria Contínua. Obs.: A Doutora Lígia Ribeiro enverga o traje e as insígnias (capelo e gorra) da U. Minho, onde obteve o doutoramento; os restantes membros da equipa envergam o traje doutoral aprovado em 2003 pelo Senado da UP, complementado pela medalha da Universidade (que tem uma versão específica para o Reitor), pendente de escapulário na cor da Reitoria, o ouro-velho. Sobre tudo isto poderá em breve consultar-se o meu livro Traje (O) dos lentes. Memória para a História da Veste dos Universitários Portugueses (séculos XIX-XX), Porto, Fac. Letras, 2006, 102 pp. (col. «flup e-dita») (Em Junho saiu da tipografia o volume propriamente dito; está em fase avançada de execução o CD que retoma o texto e recolhe as imagens, em links recíprocos). Nota final: Esta foto vem publicada em UPorto. Revista dos Antigos Alunos da UP, 21 (2006, Setembro), p. 4.
Armando Luís de Carvalho HOMEM

quinta-feira, outubro 05, 2006

FINALISTAS DE DIREITO DA UC, 1946/47



A este Curso pertenceu o Dr. Fernando de Aguiar-Branco, distinto advogado no Porto e, desde 1973, Presidente da Fundação Eng. António de Almeida; é doutor h.c. pela FL/UC (2001, Fev.; o «apresentante» foi o Doutor Francisco Manuel Pereira Coelho, também patente na foto, como veremos) e Académico de Mérito da Academia Portuguesa da História; na foto é o 3.º a contar da direita na última fila, e a mesma foi publicada nas suas Memórias (cf. Fernando AGUIAR-BRANCO, Digressões auto-biográficas, Porto, Fundação Eng. António de Almeida, 1998). Destaque também nesta foto, antes de mais, para os membros do Corpo Docente patentes na 1.ª fila (da esq. para a dir.): Doutor Afonso Rodrigues Queiró (1914-?), Doutor José Joaquim Teixeira Ribeiro (1908-1999) e Doutor Eduardo Henriques da Silva Correia (1913-1993). A estudante sentada na ponta esquerda da 1.ª fila é Maria dos Prazeres Couceiro da Costa, ao tempo noiva do estudante que está de pé a seu lado, José Júlio Pizarro Beleza, que seria assistente e lente da Escola (dr. em 1956) e Subsecretário de Estado do Orçamento (1958-1963); os dois são os Pais dos actuais lentes Doutor Luís Miguel Pizarro Beleza (FE/UNL; antigo Ministro das Finanças) e Doutora Teresa Pizarro Beleza (FD/UNL), da Conselheira do Tribunal Constitucional Dr.ª Maria dos Prazeres Pizarro Beleza, da ex-Ministra da Saúde e Presidente da Fundação António Champalimaud Dr.ª Maria Leonor Couceiro Pizarro Beleza de Mendonça Tavares e do empresário José Manuel Pizarro Beleza. Outros destaques: a) o 4.º a contar da dir. na última fila (ao lado do Dr. Aguiar-Branco) é José João Gonçalves de Proença, que viria a ser assistente da Escola (onde se doutorou) e lente do então ISCEF (hoje ISEG/UTL) e da Fac. Arquitectura/UTL; no subsector Privado e Cooperativo, ensinou na U. Livre/Lisboa e ensina na U. Lusíada/Lisboa, da qual já foi Vice-Reitor; foi ainda Ministro das Corporações e Previdência Social (1961-1970); b) o 3.º e o 4.º a contar da dir. na 2.ª fila são: Francisco Manuel Pereira Coelho (futuro lente da Escola, Ciências Jurídicas-Direito Civil); e Rogério Guilherme Ehrhardt Soares (id., Ciências Político-Jurídicas; foi Vice-Reitor da UC, 1971-1974; hoje jubilado, tal como o anterior, ensina na U. Lusíada/Porto).
Armando Luís de Carvalho HOMEM

DOUTOR LUÍS FERRAND DE ALMEIDA (1922-2006)



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Desaparece um Grande Historiador da Escola de Coimbra *
Nota prévia: Em 2006/09/18 coloquei pela primeira vez este texto evocativo no presente blog. Hoje o republico, enriquecido por algumas ilustrações. Aos agradecimentos anteriormente exarados, acrescento o nome do meu Antigo Aluno Lic.º Flávio Miranda, responsável pelo tratamento das imagens.

Em 2006/05/29 partiu do nosso convívio o Doutor Luís Manuel Rocha Ferrand de Almeida, lente jubilado do 5.º Grupo (História) da FL/UC. Atingido o limite de idade em 1992, o Doutor Ferrand de Almeida continuara a comparecer na S. Escola e a participar nas actividades do Instituto de História Económica e Social e na redacção da prestigiada Revista Portuguesa de História; só a falta de saúde dos últimos tempos lhe perturbara a assiduidade.
Natural de Coimbra [1], o Doutor Luís Ferrand de Almeida nasceu numa Família onde as vocações académicas tinham começado na geração anterior. Seu Pai, Doutor Ferrand Pimentel de Almeida (1885-1962), depois de se ter doutorado em Filosofia e Teologia na U. Gregoriana de Roma, viria a ser um dos primeiros diplomados em Filologia Germânica pela novel FL/UC (bacharel em 1916). Discípulo aqui de Carolina Michaëlis (1852-1925), seguiria carreira na Escola, doutorando-se em 1919 e atingindo o topo (como «professor ordinário») em 1925. Até 1955, ano em que se jubilou, regeu disciplinas de Língua e Literatura Alemã e Inglesa, Gramática Comparada das Línguas Germânicas e ainda Literatura Italiana. Entre os cargos que desempenhou destaca-se o de Presidente da Câmara Municipal de Coimbra (1938-1941).
Na sua descendência (dez filhos) contam-se, para além de um militar, dois universitários: o agora desaparecido e o Doutor Francisco Xavier Rocha Ferrand de Almeida, lente jubilado de Ciências/Biologia; este último, por seu turno, é Pai de mais um historiador: o Dr. André Ferrand de Almeida, licenciado em História pela FL/UC, colaborador do vol. 3 (coord. Joaquim Romero MAGALHÃES) da História de Portugal, dir. José MATTOSO [2] e actualmente doutorando em História Moderna no Instituto Universitário Europeu (Florença).

Luís Manuel Rocha Ferrand de Almeida terminou os estudos liceais em 1940 e ingressou de imediato na licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas da FL/UC, concluindo o 1.º ano em 1941. Mas CLIO ainda o não seduzira de todo, e no dito ano de 41 requereu transferência para a Fac. de Direito, cursando então a licenciatura respectiva, que concluirá em 1946. Só que de imediato irá retomar Histórico-Filosóficas, realizando as últimas disciplinas em 1949.
De 1948 a 1955 será bolseiro do Instituto de Alta Cultura (IAC), na preparação da tese que então coroava a obtenção do grau de licenciado. Nessa qualidade trabalhará em arquivos e bibliotecas de Lisboa, Coimbra e Évora; para além do que, em 1950, uma estadia de três meses em Madrid e Simancas.
Deste último ano a 1955 residirá em Lisboa, exercendo as funções de presidente do um Organismo do (ao tempo) recente ministério das Corporações e Previdência Social. E é a Capital que afinal assiste a um reunir de condições para que a primitiva (e real) vocação se transformasse em definitivo métier: em 1953 Ferrand de Almeida frequenta o curso de Estudos Brasileiros da Faculdade de Letras / UL (regência do Doutor Mário de Albuquerque [1898-1975]); 1.º classificado, recebe o Prémio correspondente: uma bolsa do Ministério das Relações Exteriores do Brasil para uma estadia de três meses (Julho-Outubro) além-Atlântico e a possibilidade de trabalhar em Bibliotecas e Arquivos do Rio de Janeiro (Biblioteca Nacional e Mapoteca do Itamarati); na circunstância, conhece pessoalmente Jaime Cortesão [3].
De novo em Portugal, Ferrand de Almeida cedo decidirá em definitivo sobre o S. recto caminho: o abandono das funções que exercia – e que constituíram, afinal, a sua única e fugaz utilização da licenciatura em Direito – e o regresso a Coimbra (Janeiro de 1956), rumo à dedicação plena ao que lhe faltava para se licenciar em Histórico-Filosóficas; fará acto de licenciatura em 1957, defendendo a monumental tese A diplomacia portuguesa e os limites meridionais do Brasil, vol. I (1493-1700), pouco depois editada e galardoada com o «Prémio João de Barros» da Agência-Geral do Ultramar [4]. A Obra apresenta-se dividida em uma «Introdução» com 5 subdivisões (“O meridiano de Tordesilhas. Viagens e negociações diplomáticas no século XVI”; “Os limites meridionais do Brasil na cartografia e na literatura histórica e geográfica”; “Bandeiras e limites meridionais”; “O comércio português no Rio da Prata e a situação económica do Brasil”; e “Política de expansão para o sul no século XVII”), 5 capítulos (“A fundação da colónia do Sacramento e as negociações de Lisboa”; “O conflito com a Espanha e o Tratado Provisional de 1681”; “Execução do tratado. Conferências de Elvas e Badajoz”; “A arbitragem do Papa”; e “A questão da Colónia do Sacramento nos fins do século XVII”) e um Apêndice de 208 documentos (1533-1700). Trabalho de dimensão invulgar como tese de licenciatura, logo entrado nas Bibliografias de disciplinas das licenciaturas em História, A Diplomacia Portuguesa, até pela cronologia, perfila-se como o que seria o primeiro painel de um díptico, cujo segundo painel faria presumivelmente a ponte com o clássico estudo de Jaime Cortesão, Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid [5]. Mas no imediato outras prioridades iriam surgir na vida intelectual de Luís Ferrand de Almeida.

No mesmo ano de 1957 inicia funções como 2.º assistente do Grupo de História da FL/UC. E assim irá prosseguir uma vida de quase mais meio século de clerc. Solteiro – mas longe, bem longe dos azedumes que não raro acompanham o celibato, antes aliando uma aparência de austeridade a uma, afinal, tocante afabilidade –, irá de novo residir na Casa paterna, à Avenida Dias da Silva – o Doutor Ferrand Pimentel morrerá nos anos 60 e S. Mulher, a Senhora D. Cândida Sofia Ribeiro da Rocha, apenas nos anos 90, em avançada idade –, e durante décadas a S. vida decorrerá entre, por um lado, a Casa, a Família e o gabinete de trabalho e, por outro, a Escola, que profundamente amava [6]. Fora do circuito, quinzenalmente em média, os jogos da sua (nossa !) Académica, no Estádio Municipal. Raramente saía de Coimbra para participar em reuniões científicas: as muitas em que participou foram essencialmente na sua ALMA MATER; e a reserva e alheamento face às pequeninas coisas também não iriam fazer dele alguém em quem se pudesse sequer pensar para politiquices do milieu; para além do que, poucas vezes integrou júris noutras Universidades [7]. Pode dizer-se que fora da UC apenas a Academia Portuguesa da História (APH) – onde ca. 2000 atingiu a situação de Académico de Mérito – lhe despertou algum interesse e lhe motivou alguma assiduidade.

Um tal apego ao trabalho vinha antes de mais de uma preocupação de rigor que fazia de qualquer obra Sua algo exigindo longa e aturada preparação, sendo o resultado normalmente uma verdadeira peça de joalharia; ou então um rendilhado, como no dizer (nos anos 80) do S. aluno, discípulo e amigo Doutor Joaquim Romero Magalhães; por outro lado, as décadas de 50 e de 60 eram, para qualquer 2.º assistente – sobretudo se em início de carreira –, o tempo de uma pesada sobrecarga de trabalho, com regências e assistências de disciplinas em série, o que tornava precárias as possibilidades de conclusão da tese doutoral no prazo legalmente previsto: 6 anos, e inicialmente sem dispensas de serviço nem prorrogações de contrato... Só, eventualmente, na fase final, uma situação de bolseiro no País pelo então IAC poderia permitir a conclusão do opus magnum sem as obrigações de um quotidiano docente; e apenas em 1970 a legislação do ministro Veiga Simão atenuaria a dureza da situação de um doutorando. Daí que Luís Ferrand de Almeida tenha obtido a láurea doutoral somente em finais de 1973; e nos seus cerca de 10 anos de assistente (1957-1963 e 1969-1973) regeu e/ou assistiu disciplinas como Teoria da História, História Geral da Civilização, História da Civilização Romana, História Medieval [8], História de Portugal, História de Portugal I, História de Portugal II [9], História dos Descobrimentos e da Colonização Portuguesa [10], História do Brasil e outras mais.
Apesar da multiplicidade de tarefas, o Ensino do jovem Ferrand de Almeida ajudou desde logo a marcar o início de uma época outra no então 4.º Grupo da FL/UP. João Paulo Avelãs Nunes, um dos mais profícuos estudiosos da História que se fez e se ensinou em Coimbra de 1911 a 1974, pôde escrever, a propósito da evolução do ensino de História Medieval / História da Idade Média a partir de 1951: «(…) por iniciativa de Torquato de Sousa Soares, Avelino de Jesus da Costa, Luís Ferrand de Almeida e Maria Helena da Cruz Coelho, o peso da história económica e social é significativamente reforçado, chegando mesmo, em alguns anos lectivos, a constituir a regionalidade mais estudada. Esta valorização (…) não resultou, no entanto, na adopção de uma perspectiva “materialista” da história, mantendo-se, pelo contrário, o predomínio de um idealismo “espiritualista”, ou, em alternativa, de uma quase absoluta indefinição teórica. Abordaram-se temas como o regime senhorial e os laços de vassalidade no seio da nobreza; o desenvolvimento do artesanato e do comércio e o surgimento das corporações; o crescimento das cidades na Baixa Idade Média e o movimento de autonomização e de auto-governo municipal face ao poder régio e aos poderes senhoriais; as políticas económicas de vários governantes; os interesses de diversos grupos sociais e a conflitualidade sócio-política (tendo a expressão “classes sociais” sido utilizada algumas vezes); as crises económicas e as suas consequências sociais, culturais e políticas; as motivações e as consequências económicas e sociais das Cruzadas; a evolução da economia mercantil mediterrânica ao longo de toda a Idade Média (…), etc. A linha interpretativa seguida parece ter sido a da história económica e social clássica, por influência directa de autores como Henri Pirenne, M. Rostovtseff, F.-L.Ganshof, Charles Verlinden e Yves Renouard, explicitamente referidos. Marc Bloch, um dos símbolos da primeira geração da “Escola dos Annales”, foi também citado por Torquato de Sousa Soares (em 1953/1954) e por Luís Ferrand de Almeida (em 1957/1958)» [11]; sobre a então História da Expansão Portuguesa (1959-1961), pôde dizer o seguinte: «(…) Ferrand de Almeida introduziu algumas temáticas novas e, sobretudo, reforçou o peso atribuído (…) à história económica e social: condicionalismos nacionais, europeus e mediterrânicos (…) da expansão portuguesa (com relevo para aspectos de história económica e social, nomeadamente através do estabelecimento de laços explicativos entre a crise do séc. XIV, 1383-1385 e o “arranque” da estratégia expansionista); análise problematizante da personalidade e da actuação do Infante D. Henrique (comparando as propostas de vários historiadores, entre os quais Vitorino Magalhães Godinho); explicação pela opção da conquista de Ceuta e caracterização da administração portuguesa das “cidades-fortaleza” do Norte de África (…); colonização da Madeira e dos Açores (…); reconhecimento e exploração económica do litoral ocidental africano; transformações culturais e mentais ocorridas na sociedade portuguesa em resultado do processo colonizador. Parece, pois, tratar-se de uma abordagem não-“metódica”, menos (ou mesmo não) influenciada pela ideologia colonialista oficial do Estado Novo, apoiada (também) nos estudos de historiadores e ensaistas marginalizados e/ou politicamente perseguidos (como Jaime Cortesão, António Sérgio, Magalhães Godinho, Barradas de Carvalho, etc.) e na nova praxis historiográfica representada pela nouvelle histoire» [12].
Fernando Catroga, por seu turno, analisando a S. prática didáctica na disciplina de Teoria da História [13], aponta a importância da clássica Introduction de Langlois / Seignobos como «referência obrigatória», complementada por autores de obras de cariz «manualístico» (Halphen, Bernheim, Bauer, Halkin, Harsin); o hoje também clássico volume L’Histoire et ses Méthodes (dir. Ch. Samaran) fará a sua aparição na Bibliografia logo em 1961/62. E não faltarão também o Febvre dos Combats, o Bloch da Apologie ou o Marrou de De la connaissance. De onde, a importância do conceito de fonte, do problema das lacunas documentais e do «papel da compreensão na reconstituição (e construção) dos factos históricos» [14]; na abordagem das «várias fases do processo de investigação», a utilização, como referenciais, de autores como Pierre David, Herculano, Alberto Pessoa, J. Honório Rodrigues, C. Bloch, P. Renouvin, A. Silva Rego, G. Marañon, etc.; e o intuito de dilucidação de problemáticas como “A História como descrição e explicação”, “o papel da hipótese”, “o alargamento do conceito de fonte”, “a colaboração das disciplinas” ou “a História, ciência do Homem”. E continua: «De tudo isto, conclui-se que, embora as lições metodológicas de Langlois e Seignobos fossem a base, Luís Ferrand de Almeida corrigia-as e completava-as com ensinamentos de orientações antipositivistas [sic], como a querer significar que o progresso do saber historiográfico caminha, não por rupturas radicais, mas por integrações e reformulações» [15]. A «preocupação em corrigir o conceito positivista [sic] [16] de fonte histórica» levava a temáticas/problemáticas como as paisagens rurais e aéreas ou a filmotecas, fonotecas e mapotecas, para além dos arquivos; de onde, a valorização do diálogo História/Geografia ou a chamada de atenção para a (entre nós) emergente História Económica e Social (e, consequentemente, a relação entre a História, as Ciências e a Sociologia); daí a abertura a uma visão social (e não singular) da disciplina e aos métodos quantitativos, particularmente em Demografia; nítida também – mormente em 1962/63 – a abertura à ainda mais recente História das Mentalidades, com referenciais como J. Huizinga, L. Febvre, J. Palou, G. Duby. E a fechar: «não será excessivo concluir que Luís Ferrand de Almeida tinha intenção de consolidar nos alunos a ideia de que, na linha dos ensinamentos dos Annales, o saber histórico era uma “ciência do Homem”, de vocação totalizadora e, consequentemente, aberta à colaboração interdisciplinar» [17].

Novamente bolseiro do IAC a partir de 1961, de 1963 a 1969 estará em tal situação em tempo pleno. E voltarão as Bibliotecas e os Arquivos do País e de além-fronteiras (Madrid, Simancas, Paris); fez ainda fotografar fundos do Rio de Janeiro e do British Museum.
A Colónia do Sacramento na época da Sucessão de Espanha [18]: tal é o título da tese que Luís Ferrand de Almeida defendeu na Sala dos Capelos em Novembro de 1973. Integraram o júri os Doutores Jorge Borges de Macedo (UL, 1921-1996), António Cruz (UP, 1911-1989), Joaquim Veríssimo Serrão (UL), Manuel Lopes de Almeida (1900-1980), Torquato de Sousa Soares (1903-1988), Salvador Dias Arnaut (1913-1995) e Avelino de Jesus da Costa (1908-2000). Após três dias (28, 29 e 30 de Novembro) de provas (discussão da tese e dois interrogatórios sobre pontos sorteados), o candidato foi aprovado «com distinção e louvor» por unanimidade. Mais um espesso volume, A Colónia do Sacramento acabou por ser apenas uma parte do longo projecto que Ferrand de Almeida formulara, em sequência à tese de licenciatura. Como escreveu no Prefácio a este livro doutoral, «O volume I de A Diplomacia Portuguesa e os Limites Meridionais do Brasil (…) era, fundamentalmente um estudo de história diplomática, embora esta tenha sido considerada numa ampla perspectiva, sem nunca perder de vista os factores de diversa natureza que, de uma ou outra forma, a condicionariam. (…) não insistimos então, (…) nos aspectos sociais, económicos e administrativos da Colónia do Sacramento e das relações dos Portugueses com a região platina. (…). Ficava sempre aberto o caminho para uma investigação mais aprofundada desses aspectos e é o que fazemos na presente obra (…). Ao mesmo critério obedeceu a organização do apêndice documental, onde quase só publicamos textos de carácter administrativo e económico; os de interesse predominantemente político e diplomático (…) reservamo-los para imprimir no volume II de A Diplomacia Portuguesa – se algum dia chegarmos a escrevê-lo…»[19]. A estrutura do volume bem ilustra as palavras recém-transcritas do Prefácio: uma «Introdução» (“Sucessão de Espanha, equilíbrio europeu e comércio americano”), seis capítulos (“Colónia do Sacramento: da ocupação militar à ‘política dos casais’ ”; “Da prata peruana ao gado uruguaio”; “O comércio dos couros”; “A Colónia e os problemas internacionais nos princípios do século XVIII”; “A Colónia e a Sucessão de Espanha [1700-1702]”; e “A Colónia e a Sucessão de Espanha [1702-1705]”) e uma «Conclusão»; a fechar, um apêndice de 156 documentos (1684-1706). O plano de fundo foi assim só parcialmente concretizado na tese de doutoramento, mas seria ainda prosseguido em livros e artigos dos anos 80 e 90.
Esta Obra – muito, muito a leste das preocupações do nacional-comemorativismo descobrimentista do período 1986-1995 – tem sido pouco citada e ainda menos lida. Mas importaria nela atentar: o seu lugar num ranking da Historiografia Portuguesa da segunda metade de Novecentos é indiscutível.

Ultrapassados alguns episódios menos agradáveis do ano lectivo de 1974/75, a carreira foi prosseguindo: no Outono de 1978 o Doutor Ferrand de Almeida prestou provas públicas de concurso para professor extraordinário; e três anos depois atingiu a cátedra.
Os anos 80 veriam entretanto surgir os cursos de mestrado, sendo a área de História Moderna uma das pioneiras na FL/UC. O Doutor Ferrand de Almeida esteve desde o primeiro momento na regência de Seminários de História Económica e Social, tendo orientado diversas teses; o que, entretanto, lhe trazia uma contrariedade: como o S. Seminário era à 2.ª feira e queria examinar escrupulosamente tudo o que iria apresentar, via-se por vezes ‘obrigado’ a faltar ao futebol…
Também a evolução na carreira dos assistentes das áreas de História Moderna e de História Contemporânea do Instituto de História Económica e Social [20] lhe prendeu a atenção: em maior ou menor grau, estão-lhe ligados os doutoramentos de José Maria Amado Mendes e Margarida Sobral Neto, entre outros.

Quanto a publicações de maior tomo, os anos 80 e 90 veriam ainda surgir:

a) O volume Alexandre de Gusmão, o Brasil e o Tratado de Madrid (1735-1750) [21]. Preparada numa das suas raras licenças sabáticas, a Obra acaba por constituir o derradeiro painel do (afinal) tríptico iniciado com A Diplomacia e continuado com A Colónia; encontra-se dividida em 4 capítulos (“Antecedentes históricos: o ‘território’ da Colónia do Sacramento e outros problemas”; “O conflito de 1735 e as suas consequências”; “Preparação e negociação do Tratado de Madrid”; e “O papel de Alexandre de Gusmão e a importância do Tratado”), seguidos de um breve apêndice documental.

b) A recolha de artigos Páginas dispersas. Estudos de História Moderna de Portugal [22], volume este editado pela Escola pouco tempo decorrido sobre a S. jubilação. Contém nove textos, vindos originariamente a lume entre 1962 e 1992. Na sua diversidade, este volume é bem um mostruário pleno da Obra do Historiador: com efeito, para além de (mais) um trabalho sobre a Colónia do Sacramento [23],

i. tanto encontramos um texto no domínio da História das Técnicas [24] e mais dois no domínio específico das culturas e das técnicas agrícolas[25],

ii. como textos sobre problemas políticos [26], institucionais [27], sociais [28] e culturais [29] do Portugal joanino; num Autor de Obra multifacetada, e onde o opus magnum se apresenta qual tríptico, uma recolha de artigos como a presente só pode ser qualificada de preciosa.

c) E o retorno a um interesse que despertara já nos anos 60: as relações entre Portugal e a Polónia [30]. A esta temática consagrou diversos outros artigos [31] e, aquando da S. elevação a Académico de Mérito da APH, um longo estudo eminentemente centrado no século XVIII, fundado em abundante documentação inédita [32].

Olhando globalmente os dois volumes majora e os dois minora, tudo acrescido da multiplicidade de artigos e outros estudos, recolhe-se uma impressão talvez inesperada, mas que se me afigura indescartável (e não estou sozinho neste meu opinar): há algo de braudeliano no conjunto da Obra de Luís Ferrand de Almeida. Porquê ?

· Pelo modo como decididamente encara a totalidade do Brasil meridional e da Colónia, num enlace harmonioso entre a abordagem da evolução económica e administrativa do Continente sul-americano, do Brasil e da região platina e dos problemas políticos e diplomáticos da Colónia do Sacramento;

· depois, pelo tempo longo (1493-1705 para o conjunto das duas teses) e – sobretudo – pelos espaços vastos sobre que trabalha;

· finalmente, pelo seu nunca perder de vista do «contexto político europeu e americano» [33].

Uma tal qualificação colocará Ferrand de Almeida num patamar até agora nunca apontado na Historiografia portuguesa recente. Mas ao exarar aqui a hipótese do braudelianismo do Autor, estou como que a lançar um desafio aos estudiosos da lusitana CLIO: nestes alvores de um novo século que ainda conheceu, Luís Ferrand de Almeida é inequivocamente um Historiador a reler. E a descobrir.

* * *

Esta evocação tem à partida um carácter científico: lembrar um Grande Mestre que partiu, ainda que o signatário não seja cultor da mesma época e intervenha aqui como historiador da Historiografia que também é. Mas tem igualmente uma dimensão de gratidão pessoal: em princípios de 1985, o Doutor Ferrand de Almeida, como Director do Instituto de História Económica e Social da FL/UC, teve a amabilidade de me convidar a proferir uma conferência na S. Escola, no âmbito de um Ciclo comemorativo do 6.º Centenário das Cortes que, em Coimbra, fizeram um Rei; aceitei entusiasticamente, como é óbvio: a menos de um ano de me doutorar, era a primeira vez que alguém me convidava para falar noutra Universidade que não a minha; e nesse Ciclo intervieram também o Doutor Salvador Dias Arnaut, o Doutor Pedro Dias e a Doutora Maria Helena da Cruz Coelho; para além, naturalmente, do próprio Doutor Ferrand de Almeida, a abrir e encerrar as sessões e a apresentar os conferencistas.
Ferrand de Almeida esteve assim, e portanto, num momento marcante da fase pré-doutoral da minha carreira. E esse dia 2 de Maio de 1985, em que pela primeira vez se me deparou o ensejo de usar da palavra perante Mestres e Escolares da FL/UC, bem que me trouxe «uma demonstração nova do cabimento [de um] prolóquio velho» [34], que depois, longamente, pude continuar a constatar: «ninguém é profeta na sua terra»…

Porto, 08 de Junho de 2006

NOTAS:

* Agradeço à Ex.mª Senhora D. Maria Cândida Ferrand de Almeida – Irmã do Historiador aqui evocado – e aos Colegas e Bons Amigos Doutora Maria Helena da Cruz Coelho e Doutor Joaquim Romero Magalhães o apoio e os informes que me facultaram durante a elaboração do presente texto.
[1] Uma boa biobibliografia pode encontrar-se em «Luís Manuel Rocha Ferrand de Almeida: Curriculum Vitae», Revista Portuguesa de História, 36/1 (2002-2003), pp. 7-14.
[2] Lisboa, Círculo de Leitores, 1993.
[3] Que só em 1957 tornará de vez à Pátria.
[4] Coimbra, Faculdade de Letras / Instituto de Estudos Históricos Dr. António de Vasconcelos, 1957, 588 pp. A sua primeira síntese sobre a colónia do Sacramento pode encontrar-se no artigo «Sacramento, Colónia do», in Dicionário de História de Portugal, dir. Joel SERRÃO, vol. III/ME-SIN, reimpr., Lisboa/Porto, Iniciativas Editoriais/Livraria Figueirinhas, 1971, pp. 708-714; a derradeira será o trabalho «Colónia (A) do Sacramento e a formação do sul do Brasil», reed. no vol. cit. infra, n. 18, pp. 163-182. Uma bibliografia cabal para o período 1974-1994 pode ver-se em COELHO, Maria Helena da Cruz; RIBEIRO, Maria Manuela Tavares; CARVALHO, Joaquim Ramos de [Coord.] – Repertório Bibliográfico da Historiografia Portuguesa (1974-1994), Coimbra/Lisboa, Faculdade de Letras/Instituto Camões, pp. 39-40.
[5] 3 tt., Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores, 1951-1952.
[6] A este respeito, escreveu Walter de Sousa MEDEIROS: «Dizem-no austero, reservado, taciturno: mas basta avizinhá-lo para sentir a humanidade profunda do seu coração, a modéstia intelectual do verdadeiro homem de ciência, o zelo pelos interesses dos alunos, a preocupação constante pelo saber actualizado» («Doutoramento solene de Maria Helena da Cruz Coelho, José Maria Amado Mendes, Maria Manuela de Bastos Tavares Ribeiro, Fernanda Maria da Silva Dias Delgado Cravidão e Amadeu José de Figueiredo Carvalho Homem», Biblos, 70 [1994], p. 563); e Fernando CATROGA: «(…) a aparência de um homem solitário encobre alguém profundamente solidário, qualidade que se revela, também, no modo franco e colaborante como coloca a sua experiência de historiador e os seus vastos e sempre actualizados conhecimentos ao serviço das novas gerações» («Ibid.», p. 575).
[7] O meu Colega Doutor Aurélio de Oliveira terá sido das raras pessoas a solicitá-lo – com êxito – para júris fora de portas; e aí por 1990-1991 o Doutor Ferrand de Almeida participou de facto em dois ou três júris de mestrado em História Moderna na FL/UP.
[8] História da Idade Média pela reforma curricular de 1957.
[9] A bienalidade desta disciplina, embora com antecedentes, surgiu com a reforma curricular de 1957. Estes dois níveis passaram a designar-se História Medieval de Portugal e História Moderna e Contemporânea de Portugal, respectivamente, em 1968.
[10] História da Expansão Portuguesa a partir de 1959.
[11] História (A) Económica e Social na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O historicismo neo-metódico: ascensão e queda de um paradigma historiográfico, 1911-1974, Lisboa, Instituto de Inovação Educacional, 1995, pp. 105-106. Ferrand de Almeida regeu ou assistiu esta disciplina entre 1957 e 1959.
[12] Op. cit., p. 131.
[13] «Luís Ferrand de Almeida e António de Oliveira no Ensino de Teoria da História», Revista Portuguesa de História, 36/2 (2002-2003), pp. 125-134. Ferrand de Almeida assegurou as aulas práticas desta disciplina (criada pela reforma curricular de 1957) de 1958 a 1963, cabendo a regência ao Eminente Mestre que se chamou Sílvio Lima (1905-1993). Fernando Catroga utilizou como fonte as cadernetas de Sumários referentes aos anos lectivos em causa.
[14] «Op. cit.», pp. 126-127.
[15] «Op. cit.», p. 127.
[16] Não posso deixar de estranhar a utilização, por um Autor da geração de Fernando Catroga, de conceitos como «positivismo» / «antipositivismo» em História da Historiografia «stricto sensu», isto a propósito do que vem sendo chamado «escola metódica» francesa. Julgo que, nesta matéria, a lição de Ch.-O. Carbonell está viva e bem viva; e entre nós vejam-se, entre outros, os trabalhos de José M. Amado Mendes e João Paulo Avelãs Nunes, ambos da «Escola de Coimbra», por sinal. Atente-se ainda nestas passagens de uma excelente biobiliografia de Marc Bloch (1886-1944): «Gustave Bloch, le père de Marc, (…) a été historien de l’Antiquité romaine. Sa carrière s’épanouit à partir de 1870, bénéficiant du grand essor de l’histoire universitaire: c’est le moment de la professionnalisation définitive des historiens, avec une méthode rigoureuse comme charte de leur métier. La Revue Historique, fondée en 1976, a pour règle la recherche des faits bruts et concrets, leur description “positive”, à l’encontre des systèmes fumeux et des idéologies importunes. Mais la description, et même l’observation attentive ou la critique des sources ne peuvent pas conférer à l’histoire la même scientificité qu’aux sciences “dures” qui dégagent des lois, expliquent et comprennent synthétiquement les choses selon le projet proprement “positiviste” posé par Auguste Comte. C’est pourquoi la plupart des historiens restent empiriques et fiers de l’être, à l’époque où Seignobos et Langlois rédigent leur Introduction aux études historiques (1898) (…). (…) à partir de 1903, un véritable clivage sépare en France la sociologie de l’histoire (…). Placés face au défi des sciences dures, vraiment positivistes, les sociologues revendiquent trop l’unité et la scientificité des sciences sociales, sous leur propre direction (…), tandis que les historiens se replient un peu frileusement sur leur discipline, modestement descriptive, et sur un scepticisme de bon aloi, dont Seignobos est un bom exemple. C’est de cette histoire “historisante” que Lucien Febvre fait une critique très dure» (BARTHÉLEMY, Dominique – «Marc Bloch», in SALES, Véronique [Coord.]) – Historiens [Les], Paris, Armand Colin, 2003, pp. 86-87 e 89). É claro que a formação filosófica de base de F. Catroga pode servir de travão à perplexidade dos leitores de formação histórica estrita. E uma boa pergunta: Ferrand de Almeida alguma vez terá falado de «Historiografia positivista» nas suas aulas ou escrito tal coisa nos seus Sumários ?...
[17] «Op. cit.», p. 128.
[18] Coimbra, Faculdade de Letras / Instituto de Estudos Históricos Dr. António de Vasconcelos, 1973, 540 pp.
[19] A Colónia…, p. XI.
[20] Designação, a partir de 1975, do antigo Instituto de Estudos Históricos Dr. António de Vasconcelos.
[21] Coimbra, INIC / Centro de História da Sociedade e da Cultura – UC, 1990, 68 pp.
[22] Coimbra, Faculdade de Letras / Instituto de História Económica e Social, 1995, 262 pp.
[23] Cf. o terceiro trabalho cit. supra, n. 4.
[24] «Inovações técnicas no tempo de D. João V: o Engenho do Pinhal do Rei», pp. 1-36; e «Marinha e progressos técnicos nos princípios do século XVIII: um construtor naval francês em Portugal», pp. 153-161.
[25] «Aclimatação de plantas do Oriente no Brasil durante os séculos XVII e XVIII», pp. 59-129; e «Sobre a introdução e a difusão do milho maís em Portugal», pp. 229-259.
[26] «Autenticidade (A) do “Testamento Político” de D. Luís da Cunha», pp 37-58.
[27] «Absolutismo (O) de D. João V», pp 183-207.
[28] «Motins populares no tempo de D. João V», pp. 131-151.
[29] «D. João V e a Biblioteca Real», pp. 209-228.
[30] Cf., de S. autoria, «Polónia, Portugal e a», in Dicionário de História de Portugal, dir. Joel SERRÃO, vol. III/ME-SIN, reimpr., Lisboa/Porto, Iniciativas Editoriais/Livraria Figueirinhas, 1971, pp. 410-415.
[31] V.g. «Prince (Le) Casimir de Pologne et les antécédents de la Restauration au Portugal», sep. de Antemurale, 17, Roma, 1974; «Portugal e a Polónia na segunda metade do século XVII», sep. de Biblos, 63 (1987); e «Portugal e a Polónia», in Imagem da Polónia, Lisboa, IBL, 1992, pp. 9-16.
[32] Aguardando publicação pela APH.
[33] A Colónia…, p. XI.
[34] RIBEIRO, Fernando de Almeida – Doutoramentos em Coimbra: impugnação de cinco teses, Coimbra, Por Ordem da Universidade, 1951, p. 30; respeitou-se a ortografia do original.

ILUSTRAÇÕES
1. Luís Ferrand de Almeida em 1955 (espólio familiar, cópia cedida pela Exmª Senhora D. Maria Cândida Ferrand de de Almeida, a quem penhoradamente agradeço).
2. Corpo Docente e Finalistas da FL/UC em 1920, recém-restaurados os hábitos talares dos lentes. 1.ª fila, da esq. para a dir.: Doutor Aristides de Amorim Girão (1895-1960), Doutor Eugénio de Castro e Almeida (1869-1944), Doutora Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925), Doutor António Garcia Ribeiro de Vasconcelos (1860-1941; antigo lente de Teologia e ao tempo Director da FL/UC, segura uma borla com as cores, mescladas, de Teologia e Letras, i.e., branco e azul-escuro, respectivamente) e 2 lentes não-identificados; 2.ª fila, da esq. para a dir.: Doutor Joaquim de Carvalho (1892-1958), Doutor João da Providência de Sousa Costa (1893-1965) e Doutor Anselmo Ferraz de Carvalho (1878-1955; lente de Ciências/Geologia, que durante diversos anos regeu disciplinas na FL/UC, particularmente Geografia Física); depois dos 3 estudantes do sexo feminino, vemos: Doutor Manuel Gonçalves Cerejeira (1888-1977), Doutor João Maria Tello de Magalhães Collaço (1893-1931; lente de Direito, regeu diversas disciplinas na FL/UC, com destaque, nestes anos [1915-1921], para História das Religiões); segue-se, em 2.º plano, um lente não-identificado; depois, em 1.º plano, o Doutor Ferrand Pimentel de Almeida (1885-1962); por último, em 2.º e em 1.º planos, mais 2 lentes não-identificados. Obs.: Esta foto foi pela 1.ª vez publicada na biografia que Mons. Moreira das NEVES dedicou ao cardeal Cerejeira (anos 30); a presente cópia foi-me facultada pelo Dr. António M. M. Nunes, a quem agradeço.
3. Casamento do Doutor Ferrand Pimentel de Almeida com D. Cândida Sofia Ribeiro da Rocha
(Pombal de Ansiães, 1921/09/15) [Espólio familiar, cópia cedida pela Ex.mª Senhora D. Maria Cândida Ferrand de Almeida, a quem penhoradamente agradeço; registe-se o pormenor da toilette do noivo: hábito talar com insígnias].
4. Corpo Docente (parte dele…) e Finalistas da FL/UC em 1933.
1.ª fila, da esq. para a dir.: Doutor Manuel Lopes de Almeida (1900-1980), Doutor Sílvio Vieira Mendes de Lima (1904-1993), Doutor Joaquim de Carvalho (1892-1958), Doutor Eugénio de Castro e Almeida (1869-1944), Doutor Ferrand Pimentel de Almeida (1885-1962), Doutor João da Providência de Sousa Costa (1893-1965) e Doutor Vergílio Correia (1888-1944). Fonte: RODRIGUES, Manuel Augusto [Dir.] – Memoria Professorvm Vniversitatis Conimbrigensis:
1772-1937
, Coimbra, Arquivo da Universidade, 1992, p. 355.
5. Doutor Ferrand Pimentel de Almeida (1885-1962). Fonte: A mesma da ilustração anterior, p. 363.
6. Luís Ferrand de Almeida aos 3 anos (como escreveu S. Irmã: «já gostava de ler») [Espólio familiar, cópia cedida pela Ex.mª Senhora D. Maria Cândida Ferrand de Almeida, a quem penhoradamente agradeço].
7. Cinco doutores em Letras recipiendários de insígnias na UC, com os respectivos «apresentantes» e o Reitor (Biblioteca Joanina, 1993, Nov.). Da esq. para a dir.: Doutor Luís Ferrand de Almeida (1922-2006; «apresentante» do seguinte); Doutor José Maria Amado Mendes; Doutor António de Oliveira («apresentante» da seguinte); Doutora Maria Helena da Cruz Coelho; prelado universitário Doutor Rui Nogueira Lobo de Alarcão e Silva (em funções entre 1982 e 1998); Doutora Maria Manuela Bastos Tavares Ribeiro; Doutor José Sebastião da Silva Dias (1916-1994; «apresentante» da precedente e do seguinte); Doutor Amadeu José de Figueiredo Carvalho Homem; Doutor Jorge Manuel Barbosa Gaspar (da UL, «apresentante» da seguinte); e Doutora Fernanda Maria da Silva Dias Delgado Cravidão. [Foto cedida pela Doutora Maria Helena da Cruz Coelho, a quem profundamente se agradece].
8. Luís Ferrand de Almeida em 1997, no jardim da antiga residência familiar, à Av. Dias da Silva [Espólio familiar, cópia cedida pela Ex.mª Senhora D. Maria Cândida Ferrand de Almeida, a quem penhoradamente agradeço].
9. Doutor António de Oliveira e Doutor Luís Ferrand de Almeida. Fonte: Revista Portuguesa de História, vol. duplo (36/1-2) de homenagem aos 2 Mestres retratados (2002-2003).
10. Autógrafo de Luís Ferrand de Almeida (anos 80). Pormenor da dedicatória de uma separata oferecida ao autor deste trabalho.


Armando Luís de Carvalho HOMEM

quarta-feira, outubro 04, 2006

JOSÉ ALÃO (M. 2006): IMAGENS






Em 08 de Maio p. p. coloquei neste blog um texto evocativo do então despaparecido Eng. José Tristão Eiras de Bessa Alão. Lic.º em Eng.ª Química pela UP, pertenceu ao Orfeão Universitário (OUP) e depois à Associação dos Antigos orfeonistas da UP (AAOUP); foi executante de viola de acompanhamento e de acordeão (mormente nas Orquestras de Tangos do OUP e da AAOUP). Sua Mulher, Geneviève Alão, enviou-me agora algumas fotografias, antigas e recentes. Aí vão:
1. Actuação em Paços de Ferreira, Outubro de 1981. Instrumentistas, da esq. para a dir.: Armando Luís de Carvalho Homem, Armando de Carvalho Homem (1923-1991), António Cunha Pereira, Arnaldo Mello e Castro e José Alão. Esta formação, aparentemente inédita, repetiu-se algumas vezes, sem Mello e Castro, nos alvores da década de 80, incluindo também o cantor José Horácio Miranda. Em 2.º plano, os cantores José Vitorino Santana (1931-2004) e Paulo Alão (que às vezes fazia também uma 'perninha' vocal).
2. Noite de Canto e Guitarra na AAOUP (2006/05/05), a poucos dias do desaparecimento de José Alão. À guitarra, Raul Barros Leite.
3. Pormenor da foto anterior.
Armando Luís de Carvalho HOMEM


Imprensa da Universidade Posted by Picasa
Memória histórica sobre o estabelecimento, evolução, extinção (1934) e recuperação da Imprensa da Universidade de Coimbra, de 'AAVV', "Imprensa da Universidade de Coimbra, Uma História dentro da História", Coimbra, Imprensa da UC, 2001, 139 pp.
Contém os seguintes textos:
-Fernando Taveira da Fonseca, "A Imprensa da Universidade no período de 1537 a 1772", pp. 7-52;
-José Antunes, "A Imprensa da Universidade na Reforma Pombalina", pp. 55-66;
-Maria Irene Vaquinhas e Isabel Nobre Vargues, "A Imprensa da Universidade no Liberalismo e na I República", pp. 69-89;
-Luís Reis Torgal, "O contexto político da extinção da Imprensa da Universidade pelo Estado Novo", pp. 93-124;
-Fernando Regateiro, "A Imprensa da Universidade de Coimbra na actualidade", pp. 127-137.
Para motivo de capa foi escolhido em desenho de Guilherme Elsden, que representa a fachada principal da Imprensa da UC, mandada instalar na Rua da Ilha, junto à Sé Velha, ao tempo da Reforma Pombalina de 1772. O referido prédio ainda existe, tendo passado por profunda remodelação interna na década de 1940. Foi derradeira sede do Instituto de Coimbra, acobertando na actualidade o Conservatório de Música de Coimbra. A Imprensa tem sede oficial na Rua Antero de Quental, Nº 195.
Os autores convidados para escreverem os percursos da Imprensa da UC, pelo seu primeiro Director, Prof. Doutor Fernando Regateiro, oferecem visões muito completas, bem documentadas e diversificadas do que foi sendo a Imprensa. O terceiro texto é, contudo, menos desenvolvido em termos de 1ª República, período que teria ficado melhor ilustrado com uma comunicação autónoma. Em todo o caso, estamos perante uma nova/velha área de investigação que convida a falar de temas como a tipografia e os tipógrafos, a liberdade e a censura, as qualificações profissionais, as gestões orçamentais, os salários, os títulos editados, a solidariedade profissional e a arqueologia industrial. "Velho" porque afinal o véu do tempo mostra que uns poucos pioneiros se foram isoladamente interessando pela temática: Joaquim Martins de Carvalho (UC), Jorge Peixoto (BGUC), José Pinto Loureiro (BMC), J. Pina Martins, Mário Brandão (UC, Letras), Manuel Lopes de Almeida (UC, Letras), José Ramos Bandeira (UC, Farmácia), António da Rocha Madail (AUC), Sousa Viterbo e Venâncio Deslandes.
Agradecimentos: Dra. Maria João de Castro
AMNunes

A Imprensa da Universidade entre 1537 (transferência definitiva para Coimbra) e 1772 (Reforma Pombalina)
Já desde finais do séc. XV, diversas universidades da Europa procuravam possuir tipografias ou, pelo menos, tipógrafos que trabalhassem para elas, mediante o estabelecimento de contratos que definiam direitos e obrigações mútuas: prioridade para as obras académicas, privilégios para os tipógrafos a par da remuneração material pelo seu trabalho.
A tardia introdução da imprensa em Coimbra, em 1530, numa altura em que já se espalhara não só em numerosas cidades europeias mas noutras localidades do país parece fazer parte do processo que conduziu à transferência da Universidade e à fundação do Colégio das Artes.
Coincidindo com esta orientação geral, a Universidade de Coimbra procurou apetrechar-se com os meios tipográficos indispensáveis ao serviço e à difusão da cultura, após a sua instalação definitiva na cidade, em 1537, por decisão de D. João III.
Em 1539, D. João III concedeu aos livreiros que tivessem, em Coimbra, “suas tendas com cópias de livros das ciências que se na dita universidade lêem”, todos os privilégios e liberdades dos estudantes e oficiais da Universidade.
Em 1546, o Conselho da Universidade, presidido pelo Reitor, Fr. Diogo de Murça, dava procuração a João Álvares, impressor, para se deslocar a Lisboa e arrecadar “toda a impressão de que hora el rey noso senhor fez merce a este Estudo, para trazer a ele” e também para “a avalyara e lhe por os preços que justos forem”. Ficava assim a Universidade com um valioso conjunto de instrumentos e materiais de imprensa.
Em 1548, D. João III confirmou, por provisão, o contrato que, por sua comissão, o mesmo Fr. Diogo de Murça tinha celebrado com os impressores João de Barreira e João Álvares, estabelecidos em Coimbra desde 1542 e trabalhando em parceria, “pera averem de ter impressão na [...] universidade”. Aos impressores, em conjunto, seria pago o ordenado anual de 12.000 réis e gozariam do privilégio de serem e se intitularem tipógrafos exclusivos da Universidade. Os instrumentos e materiais de impressão que o rei oferecera estavam guardados numa dependência dos paços reais, onde a Universidade se instalara, e eram fornecidos aos impressores, quando estes os necessitavam, por Fernão Lopes de Castanheda, guarda do cartório e da livraria, a cuja responsabilidade estavam confiados.
O que importa distinguir claramente é entre a propriedade e a administração de um conjunto de materiais e instrumentos tipográficos adequados às necessidades específicas da Universidade – e que, na altura, era de valor apreciável –, e a forma de ligação que ela criava e mantinha com aqueles que lhe forneciam a capacidade técnica para rentabilizar convenientemente o espólio que dispunha, neste último caso – à semelhança do que fazia para a prestação de outros serviços – assegurava o concurso de profissionais especializados por via de instrumento legal que lhe conferia prerrogativas e seguranças específicas. A imprensa era propriedade sua; os impressores eram da Universidade mas não necessitavam de abandonar a sua actividade independente.
Em 1560, após a morte de Fernão Lopes de Castanheda, estes materiais – dois prelos, doze caixas para letras, setecentas e catorze letras de títulos e começos de capítulos, catorze quintais de estanho, “miudanças e guarnições” – a que se juntaram “letras e matrizes” vindas da tipografia do Colégio das Artes, foram entregues aos dois impressores, João de Barreira e João Álvares, como fiéis depositários, obrigando-se estes a restituí-los à Universidade se e quando esta lhos pedisse. O valor da imprensa doada por D. João III à Universidade era de “setecentos e sessenta e tantos mil réis”.
Era importante esta segurança de exclusividade; e não o era menos a honra de poder intitular-se impressor da Universidade, fonte de prestígio e atestado de competência, susceptível de atrair outra clientela: “os livreiros e os impressores orgulhavam-se de trabalhar para a Universidade e sob a sua égide. O título de “Tytpgraphus Universitatis” valia tanto como o de “Typographus Regius”.
A Universidade terá o cuidado de celebrar novos contratos, de modo a dispor do serviço de dois impressores privilegiados (os quais, a partir dos Estatutos de 1591, são enumerados de entre os seus oficiais), por vezes aceitando que as viúvas dos que haviam falecido continuem a sua actividade.
O carácter vitalício do contrato tinha como consequência normal o assumir de responsabilidades – e mesmo das funções exercidas – pelos herdeiros do impressor quando este falecia. Esta disposição genérica não impedia, contudo, que, para obras de maior envergadura, se estabelecessem acordos especiais.
Para além de assegurar, por esta via, em condições de prioridade, a impressão de trabalhos de lentes e estudantes e mais pessoas do seu grémio, a Universidade exerceu, ao longo deste período, uma acção muito importante no fomento de publicações, emprestando dinheiro aos autores que desejavam editar as suas obras.
Desde muito cedo é possível rastrear a figura do corrector da imprensa e dar conta da finalidade da instituição deste cargo: Em 18 de Dezembro de 1554, D.João III, ao nomear para ele ao licenciado Fernão de Oliveira, diz fazê-lo na sequência de uma provisão que passara em 1549, pela qual determinara “que na dita universidade ouvese hum correitor da inpresam della que tevesse cargo de ver, emmendar & prover toda a escritura que se ouvesse de inprimir na dita inprensam de maneira que se inprimisse & acabasse com toda a perfeição que deve ser”. Este cuidado e alta estima em que era cotado o cargo de corretor da imprensa vêm mais uma vez exarados nos Estatutos de 1597.

O Marquês de Pombal e a Imprensa da Universidade
A Reforma Pombalina
Em 1759, no reinado de D. José, foram extintos os privilégios dos impressores da Universidade. No mesmo ano, foi sequestrada a imprensa do Colégio das Artes, estabelecida em Coimbra desde 1710, acto que antecedeu de alguns meses a expulsão dos jesuítas por “perpetua proscripção e desnaturalização dos denominados jesuítas”.
Com o espólio da imprensa dos jesuítas, o Marquês providenciou a fundação da Real Officina da Universidade, que ficou a ser administrada pelo impressor José Correia da Costa. Em 1767, o espólio da Real Officina da Universidade foi reforçado com tipos oriundos da “nova” imprensa do Mosteiro de Santa Cruz que havia sido confiada aos cónegos regrantes de Santo Agostinho desde 1758, com a finalidade de servir a Academia Litúrgica. Nesse ano de 1767, o Marquês extinguiu a Academia.
A Real Officina da Universidade não dispunha, contudo, de condições adequadas que permitissem imprimir os Novos Estatutos da Universidade, assim como outros livros para o ensino. O Marquês de Pombal teve, por isso, de os mandar imprimir na tipografia régia, em Lisboa. Esta tipografia fora criada em Dezembro de 1768, tendo estado na origem da actual Imprensa Nacional. Por Carta Régia de 7 de Fevereiro de 1769, foi determinado que o cofre da Universidade de Coimbra emprestasse ao da Impressão Régia 40.000$00 “para ajuda [...] do primeiro estabelecimento da ditta officina” tendo em conta que a Universidade beneficiaria com a sua instalação.

O panorama tipográfico em Coimbra
A acção do Marquês de Pombal, ao concentrar todo o trabalho tipográfico na Imprensa da Universidade fez vibrar um duro golpe nas imprensas particulares que, aliás, acabaram por desaparecer em Coimbra.
Só em 1823 apareceu de novo uma imprensa particular em Coimbra, na Rua dos Coutinhos, fundada pelo Reitor da Sé Catedral, o Padre Manuel Nunes da Fonseca. Nos anos subsequentes, o número de tipografias foi aumentando, até atingir um total de 15, registado no ano de 1893.
A nova ImprensaA Real Officina da Universidade durou até 1772. Não estando à altura da Universidade reformada, tornou-se necessário fundar uma nova e mais grandiosa Imprensa. Para isso, era urgente encontrar um vasto edifício onde se pudesse instalar, vindo as condições a ocorrer com a mudança da antiga Sé Catedral para a Igreja dos Jesuítas – a actual Sé Nova. Tendo ficado devoluto o claustro da Sé Velha, foi ordenado pelo Marquês, por provisão de 15 de Outubro de 1772, que para aí fosse transferido todo o material da Real Officina da Universidade. Para tornar mais amplo o espaço e possibilitar uma perfeita instalação das oficina tipográficas, foram ainda expropriadas e anexadas as casas e quintais vizinhos da Sé Velha. Solucionado o problema do espaço, foi dado início às obras de adaptação às novas funções.
Para a construção do edifício da Imprensa, o Reitor D. Francisco de Lemos julgou conveniente mandar demolir a torre e a escadaria existentes em frente à porta principal da antiga Sé, bem como mandar suprimir uma pequena rua que ia da Rua do Norte em direcção ao Colégio de Santa Rita. As Instalações da Imprensa ficaram concluídas em Junho de 1773, tendo a oficina sido apetrechada com prelos e outro material tipográfico.
Nos inícios de 1773, foram nomeados Bernardo Correia de Azevedo Morato como administrador e Joaquim José da Silva Nogueira como primeiro abridor de buril das estampas. Joaquim Nogueira veio a revelar-se também como pintor. O retrato do Marquês de Pombal, então presente na grande sala de conferências da Imprensa da Universidade, foi disso testemunho.Apesar de todos os esforços feitos, a nova Imprensa ainda não tinha, em Outubro de 1773, o desenvolvimento suficiente para imprimir os livros que deviam servir no ano lectivo de 1773/1774. Por isso, foi necessário fazê-los imprimir em Lisboa na Tipografia Régia e enviá-los para Coimbra através do Porto da Figueira da Foz, dado o volume e o enorme peso que representavam as centenas de livros.
Outras medidas foram tomadas para fomentar a actividade da Imprensa, ou Tipografia Académica, como também a designava o Marquês. Por alvará de 16 de Dezembro de 1773, foi-lhe concedido o exclusivo da impressão dos “livros clássicos dos estudos mathematicos, por haver cessado o fim com que antes fora concedido ao Collegio Real dos Nobres”. Ficou ainda com o privilégio exclusivo para a impressão das Ordenações do Reino, que antes havia sido concedido ao Real Mosteiro de S. Vicente de Fora.Finalmente, em 12 de Abril de 1774, o Reitor da Universidade, D. Francisco de Lemos, enviou ao Marquês de Pombal exemplares dos primeiros livros que se imprimiriam na Imprensa: “dous volumes de Bezout, hum de Lógica e Metaphysica de Genuense, e o quarto de Van-Espen”.

Entre a Reforma Pombalina e a República
O primeiro Regimento da Imprensa
Pode dizer-se que a Imprensa se deve ao esclarecimento e à determinação do Marquês de Pombal e de D. Francisco de Lemos. Nem a morte de D. José I, em 24 de Fevereiro de 1777, nem o consequente afastamento do Marquês de Pombal, como seu fundador, abalaram os alicerces da Imprensa. A rainha D. Maria I continuou a olhar a Imprensa com o entusiasmo que anteriormente lhe era votado, facultando poderes ao director para desenvolver o aperfeiçoamento da arte tipográfica.
Em 9 de Janeiro de 1790, por alvará régio, foi publicado o seu primeiro Regimento. Passou a denominar-se Real Imprensa da Universidade ou Imprensa da Universidade.No Regimento constavam:
-as atribuições de todos os seus funcionários e a isenção de direitos para o papel, durante dez anos;
-o dever de serem entregues à Biblioteca da Universidade, bem encadernados, dois exemplares de todos os títulos publicados;
-a forma de governo da Imprensa da Universidade, que seria provido pelo Conselho de Decanos e constituído por:

*“Um Director, pessoa dotada de instrução competente de bibliografia e de arte tipográfica;
Um Revisor, o qual deveria ter a inteligência necessária das línguas e das matérias;
*Um Administrador – para o qual se deveria eleger um mestre impressor ou mercador de livros”.

O Governo da Imprensa da Universidade tinha a obrigação de se reunir semanalmente em conferência. Em cada reunião eram abordados os assuntos correntes e examinada toda a actividade da Imprensa, desde a conferência antecedente, designadamente o trabalho dos oficiais nas obras, a saída das produções da Oficina, os provimentos necessários e meios económicos para as obras, a impressão ou reimpressão e outros trabalhos em cursos. A todas as reuniões deveria assistir igualmente o escriturário ou guarda livros, que tinha a seu cargo o livro de registos, onde eram lançados os despachos e as resoluções. O primeiro Governo da Imprensa da Universidade teve como revisor, José Fernandes Álvares Fortuna, professor de Grego, como director João António Bezerra de Lima, professor de Gramática Latina e como administrador António Barneoud, mercador de livros, em Coimbra.

Os privilégios dos funcionários da Imprensa
À semelhança do que já acontecia com os demais funcionários qualificados da Universidade, foram também dados privilégios aos da Imprensa. Data de 1796, o registo da carta de privilégios passada em favor de Joaquim José nogueira, abridor de buril: “Os privilégios são os seguintes: o conservador da Universidade ou quem o seu cargo servir he somente o juízo privativo e competente do suplicante [...] he mais priveligiado e libertado de servir cargos do concelho (não procurador, almotacé, sacador, recebedor) nada pagara para fintas de pontes, portas, caminhos, muros, calçadas, pedidos de palha, empréstimos que para bolsa de morada de presos [...] libertado pêra se lhe tomarem suas casas de morada, adegas, estrabarias, roupas, camas, pão, cevada, palha, carneiro [...]”.

A actividade da Imprensa
Dos prelos da Imprensa saíam então os manuais da Reforma Pombalina, obras relativas a cada faculdade e outras publicações, como periódicos de estudantes e folhetos. Aí eram igualmente produzidos os livros de utilização interna: livros de matrículas e de exames, cartas de curso e bem assim teses e outras provas académicas.Para além disso, como o trabalho pedido pela Universidade não preenchia a capacidade plena de funcionamento da oficina, e não houve em Coimbra imprensas particulares até 1823, imprimia ainda trabalhos externos à Universidade. A partir de 1800, a Imprensa da Universidade iniciou a publicação de um importante repertório da relação de alunos nela inscritos sob a designação “Relação e índice alphabetico dos estudantes matriculados na Universidade de Coimbra”. Esta publicação passou a designar-se, a partir de 1865-66, por Anuário, e a partir de 1866-67, por Anuário da Universidade. A estrutura da obra foi-se alterando, alargando-se a informação a diversos aspectos da vida da Universidade, a partir de 1869-70.

O âmbito das obras publicadas pela Imprensa da Universidade
Os autores e as obras preferidas pela Imprensa da Universidade para serem impressas e as que eram difundidas são reveladoras de uma época, mas também do espírito que presidiu principalmente à Reforma delineada pelo Marquês de Pombal. Algumas encontravam-se inclusive no Índex. Além disso, as obras eram também a expressão fiel do cumprimento do espírito do Regimento que determinava que a conferência devia deliberar sobre a “impressão ou reimpressão das obras com tanto que não fossem obras fúteis, nas quais não devia trabalhar a Imprensa da Universidade, ainda que por outra parte se visse que haveriam de ter grande consumo”. Através das obras impressas ou difundidas ressaltam nomes de grandes personalidades em quase todos os campos das ciências – Direito, Botânica, Filosofia, Matemática, História, Teologia, Oratória, Medicina, Química, História Natural, Astronomia, Física Experimental – e foram veiculadas as grandes correntes culturais, ideológicas, políticas, religiosas, económicas e científicas que cruzavam a Europa de lés a lés. Na base das obras difundidas e de quase todos os autores publicados estava o iluminismo a expressar, de certo modo, a mundividência seguida na Reforma Pombalina. Já no século XVIII, a Imprensa da Universidade possuía uma loja de vendas, no edifício da própria Imprensa Nela se comercializavam os livros aí impressos, mas também muitos outros títulos importados do estrangeiro.

Os “livros obrigatórios”
No século XIX, os editais do reitor afixados no início do ano lectivo publicavam a lista dos livros de que o aluno se deveria munir para frequentar as aulas. De forma ainda mais peremptória, chegaram a determinar que não seria admitido à matrícula académica nenhum estudante que não apresentasse uma declaração da Imprensa da Universidade em como tinha comprado os compêndios do ano que pretendia frequentar, bem como os demais livros necessários para ouvir com proveito as respectivas lições.

As Invasões Francesas e a Imprensa da Universidade
Durante as invasões, os prejuízos foram enormes para a Imprensa, tendo-se traduzido em estragos em todo o edifício, em saque dos armazéns com roubo ou inutilização de quase todo o papel existente, e em destruição de prelos, de tipos e de livros. Em 1808, por despacho do vice-reitor, foi publicado pela Imprensa da Universidade o jornal Minerva Lusitana, o primeiro periódico conimbricense. Nele foi dado conhecimento público do valor e patriotismo da nação, e do estado das operações militares e da insurreição contra o exército de Junot, à qual Coimbra aderiu em 23 de Junho de 1808. O lente de Medicina, Joaquim Navarro de Andrade, bem como Luís do Coração de Maria foram quem mais contribuiu para a publicação de diversos números deste periódico.

A Imprensa da Universidade e a revolução liberal de 1820
No período da revolução liberal, a Universidade viveu um período conturbado. Foram grandes as polémicas e as críticas à Universidade e à sua Imprensa.
A Academia, em demonstração de júbilo pela revolução liberal, resolveu celebrar na Sala dos Capelos um outeiro, ou sarau poético, que se realizou em Novembro, com a participação, entre outros, de Almeida Garrett e de António Feliciano de Castilho. Alguns jornais estudantis de então, de crítica à Universidade, foram publicados pela Imprensa, como é o caso do Censor Provinciano. Era seu director um estudante de Medicina, José Pinto Rebelo de Carvalho, que viria a ser expulso da Universidade, na sequência da reacção absolutista.A Collecção de Poesias recitadas na sala dos actos grandes, em 1821, em louvor da nova ordem constitucional, e que incluiu algumas críticas ao vice-reitor, também foi publicada pela Imprensa.
Dos prelos da Imprensa, saiu também, no ano de 1821, "O Regimento da Proscripta Inquisição de Portugal", ordenado pelo inquisidor geral o Cardeal da Cunha e publicado por José Maria de Andrade. Na introdução desta obra, compara-se a Inquisição a “uma devastadora peste”, acrescentando ainda que terão sido mais de 32.000 as vítimas da Inquisição, sendo que mais de um milhar terá sido “lançado em labaredas”.
A Inquisição foi extinta em 1821, na sequência da revolução liberal. É ainda de 1821, a publicação pela Imprensa da Universidade do poema Retrato de Vénus, da autoria de Almeida Garrett. Este livro viria a ter a sua venda proibida, sob pena de excomunhão maior, muito por obra dos protestos do padre José Agostinho de Macedo.

Requisição de equipamentos e tipógrafos por D. Miguel
Em 1833, foram requisitados à Imprensa da Universidade, pelo exército de D. Miguel, dois prelos e alguns tipógrafos, para imprimirem as "Ordens do Dia" e o "Boletim do Exército", na sequência da retirada do Porto com o seu exército a fim de ir sitiar Lisboa.
O objectivo foi a impressão de um jornal no seu quartel, onde especialmente se publicassem as ordens do dia à força armada, quer durante as marchas, quer nos diversos pontos onde tivesse de acantonar. Esta pequena tipografia de campanha denominada Typographia da Intendência Geral da Policia do Exercito, acompanhou o exército realista durante toda a sua luta política e assistiu à convenção de Évora Monte, em 26 de Maio de 1834. O Boletim do Exercito, que teve como redactor o bacharel António Pimentel Soares, natural de Coimbra, foi publicado em diversas localidades: Coimbra, Leiria, Caldas da Rainha, Óbidos, Mafra, Cabeço de Monchique, Lumiar e Santarém.

A Imprensa da Universidade e a “Lei das Rolhas”
Em 1850 foi apresentado ao Parlamento um projecto de lei destinado a limitar a liberdade de imprensa, mais conhecido por “Lei das Rolhas”. A Universidade reagiu energicamente contra este projecto, cujas disposições afectavam os seus próprios professores. Vicente Ferrer Neto Paiva escreveu um opúsculo intitulado Defesa da Representação dos Lentes da Universidade de Coimbra contra o referido projecto, dedicando-o à memória do Marquês de Pombal, na sua qualidade de Reformador da Universidade.

Regulamento Provisório de 1854
Em 1853, uma portaria ministerial nomeou uma Comissão para elaborar o Regulamento de Funcionamento da Imprensa. No Regulamento Provisório para a Imprensa da Universidade de Coimbra, publicado em 1854, ficaram estabelecidas, em pormenor, as penas pelas faltas de serviço e infracções do Regulamento, bem como as funções dos seus trabalhadores: fiel de armazém, alçador, fiel da loja de livros, director das oficinas de composição, compositores, aprendizes de compositor, mestre dos impressores, impressores e ajudantes, porteiro, polícia interna do estabelecimento. Nas disposições gerais ficou clara a proibição de ingerência directa ou indirecta nos negócios de qualquer outra oficina tipográfica ou de trabalhar simultaneamente noutra oficina.

Manifesto contra as Portarias do Sr. Reitor
No interior do operariado da Imprensa da Universidade, a luta por direitos adquiridos contra as determinações do reitor, consideradas ilegais, tiveram expressão pela pena de Delfim Gomes, em 1896. O manifesto deste tipógrafo foi naturalmente publicado fora da Imprensa, na tipografia França Amado também de Coimbra. As determinações do reitor estariam em relação com as crises periódicas verificadas na Imprensa por “desequilíbrio sempre progressivo entre o quantum de trabalho e o número de produtores”, já que o número de operários ia aumentando (naquele ano, contabilizavam-se 37 elementos entre dirigente e operários) e o trabalho ia decrescendo, devido à concorrência vantajosa das imprensas particulares ( 3 anos antes, tinham sido contadas 15 imprensas particulares em Coimbra). No entanto, o procedimento adoptado não foi julgado consentâneo com as posturas legais nem com o respeito por direitos adquiridos, o que levou à divulgação pública da posição do operariado e a um apelo ao Ministro do Reino.

A vigilância das publicações pelo Governo do Reino e a demissão do director
Na estrutura de Governo da Imprensa havia em 1871, a figura do director. Tratava-se de um lugar intermediário entre o administrador e o reitor, ocupado então pelo Dr. Bernardo da Serpa Pimentel. Com autorização do director, foi publicado pela Imprensa da Universidade o “célebre e ruidoso” manifesto do Dr. José Falcão – A communa de Paris e o governo de Versailles. A publicação originou, como consequência, uma Portaria do Ministério do Reino, com data de 20 de Junho de 1871, a demitir o director. Subsequentemente, o lugar de director foi extinto por decreto regulamentar de 12 de Julho do mesmo ano, ficando apenas o cargo de administrador.
“A direcção da Imprensa da Universidade de Coimbra incumbe ao administrador, sob a imediata inspecção do reitor. Na falta ou impedimento do administrador da Imprensa, o reitor da Universidade provê interinamente a substituição”.
Pelo mesmo Regulamento também era alterada a forma de acesso aos lugares de administrador e de revisor, uma vez que passavam a ser providos por concurso público.

A homenagem ao Marquês pelos funcionários da Imprensa
Em 1882, quando do centenário da morte do Marquês de Pombal, a sua memória ainda se encontrava bem viva nos funcionários da Imprensa. Em homenagem ao Marquês, foi editada uma pagela subscrita pelos seus “Empregados e Artistas”.

Da Implantação da República à extinção da Imprensa
A proclamação da República abriu o espaço intelectual português a inovações, tanto no campo da docência, como no progresso técnico e científico. A revitalização da Universidade proporcionada pelo novo regime traduziu-se, entre outros aspectos, na publicação de novas revistas científicas e no apoio às actividades editoriais. Em 1919, foi inaugurada a Universidade Popular Portuguesa, com uma conferência de Leonardo Coimbra. Em Fevereiro de 1925, foi criada a Universidade Livre de Coimbra, da qual Joaquim de Carvalho foi um dos promotores.

Joaquim de Carvalho, administrador da Imprensa da Universidade
Joaquim de Carvalho, professor de Filosofia da Faculdade de Letras, foi um intelectual republicano e liberal. Tinha 29 anos quando foi nomeado administrador da Imprensa da Universidade, a 30 de Julho de 1921. Sob a sua administração, a Imprensa assumiu, de forma evidente, o papel de editora, a par do trabalho tipográfico.

A Imprensa da Universidade como estabelecimento modelar
Durante os cento e sessenta e dois anos de existência, a obra empreendida pela Imprensa da Universidade na cultura portuguesa foi notável, pois além da impressão de livros didácticos dirigidos para o ensino universitário, a sua bibliografia inclui muitas outras obras de carácter literário e artístico.

A Imprensa como escola tipográfica
Os recursos humanos da Imprensa da Universidade eram altamente qualificados. Para além das diversas categorias profissionais inerentes à arte tipográfica havia o mestre da escola tipográfica. O mestre ensinava a “arte de bem imprimir” a um grupo de aprendizes, que iriam garantir a continuidade. Há exemplos de funcionários que começavam por aprendizes e percorriam as diversas categorias profissionais, a par de estudos universitários. Para Joaquim de Carvalho, as preocupações de formação também estiveram presentes. Este aspecto é óbvio em carta de Salazar a Joaquim de Carvalho, quando escreve em 25 de Janeiro de 1922: “Recebi a sua prezada carta de ontem acêrca dos aprendizes que V. necessita na sua Escola da Imprensa e que V. preferia saídos do colégio dos Órfãos[...]”.

A Imprensa como espaço de solidariedade
Os funcionários da Imprensa da Universidade como forma de providenciarem a sua assistência social e a dos seus familiares criaram um Monte-Pio de Beneficência. Foi fundado em 8 de Setembro de 1849, por dezasseis artistas da Imprensa. É o Monte-Pio mais antigo de Coimbra. Tinha por fim socorrer os associados, nas suas doenças e incapacidades e prestar-lhes honras fúnebres.
“Quando mal precavidos, somos assaltados das doenças e enfermidades que nos embaraçam o exercício da nossa profissão, impedindo-nos de adquirir os meios necessários para a subsistência, abrigamo-nos sob o manto d’esta Sociedade, e n’ella encontramos o allivio para o soffrimento e o subsidio para a privação. Desta maneira achamos remédio e socorro na associação de nossas pequenas forças, as quaes, pequenas e insufficientes de per si, reunidas formam no seu complexo um asilo seguro para a desgraça, um escudo poderoso contra a adversidade (…). Da nossa parte filhos do povo contribuímos também como podemos para esta nobre missão social. Se os antigos acudiam ás desgraças alheias com os sobejos das suas riquezas, nós pretendemos atalhar ou attenuar as nossas desgraças com módicas contribuições, devidas aos suores do nosso trabalho (…)”.

A Imprensa como espaço de acolhimento da Associação dos Artistas de Coimbra
A Imprensa da Universidade acolheu a Associação dos Artistas de Coimbra fundada em 1862, sob a presidência de Olímpio Nicolau Rui Fernandes, então seu administrador.

A superior qualidade dos trabalhos da Imprensa
São famosos os trabalhos dos tipógrafos da Imprensa. A excepcional qualidade tipográfica esteve bem patente nos seus livros que figuraram nas exposições de Florença e de Madrid realizadas no ano de 1928.

O reconhecimento da excelência da Imprensa
Também Salazar explicitou a valia que tinha a Imprensa da Universidade quando, em 1922, na carta já anteriormente referida comparou o benefício que os “pequenos que se destinam a tipógrafos” teriam de frequentar a escola tipográfica da Imprensa, ao afirmar sem rodeios, dirigindo-se a Joaquim de carvalho: “A sua Imprensa tinha a vantagem do estabelecimento modelar que é [...]”.

A extinção da Imprensa da Universidade
Pelo decreto-lei de 30 de Junho de 1934, sendo Oliveira Salazar Primeiro Ministro saído da Universidade de Coimbra, a Imprensa foi extinta. Tratou-se de um acto político, inserido numa prática mais vasta de tendência autoritária, destinada a controlar ou neutralizar instituições e pessoas com possibilidades de quebrar a lógica unitária do regime. A Imprensa da Universidade, com operariado progressista e com uma direcção também democrática constituía na época uma poderosa arma política. Após a extinção, parte do seu material foi dado à guarda da Imprensa Nacional de Lisboa, outra parte ficou dispersa, como os prelos. As 37 obras em curso de que dá conta o rol feito no momento da extinção, os múltiplos títulos incluídos nas 11 colecções em aberto e as palavras dos notáveis que expressaram a sua voz, com o insuspeito Alfredo Pimenta a referir no Diário de Notícias a “gloriosa folha de serviços” da Imprensa, mostram a superior actividade e valia da acção desenvolvida por Joaquim de Carvalho como administrador.

Reacções à extinção da Imprensa da Universidade
Por parte do Senado e da Assembleia da Universidade não houve nenhuma reacção firme. Apenas foi produzida uma inócua afirmação de apreço pelo papel desempenhado por Joaquim de Carvalho e de perplexidade por o Reitor João Duarte de Oliveira não ter tido conhecimento prévio da referida medida.
“Falar da extinção da Imprensa da Universidade, secular instituição de criação pombalina, cujo último administrador (de 1921 a 1934/35) foi o republicano histórico, assumidamente demoliberal, Joaquim de Carvalho, é falar de todo o movimento de controlo do Estado Novo sobre as várias instituições e sobre as várias correntes de opinião. O objectivo era criar uma só ideologia, no âmbito do que se chamou, de forma eufemística, a “União Nacional”. Daí que terá de se entender a extinção da Imprensa como uma forma de neutralizar uma instituição com grande produção editorial e impressora, que eventualmente poderia fugir da fiscalização do Estado. Joaquim de Carvalho como bom republicano, pertenceu a organizações características do movimento, nomeadamente a Universidade Livre, criada em 1925, e a Maçonaria [...], defensor de uma moral arreligiosa e sem sanções, baseada no princípio da solidariedade [...]. A Universidade perdera a sua autonomia desde que o reitor não só passara a ser livremente nomeado pelo Governo, mas principalmente na medida em que passara a ser considerado, desde a legislação de 1930, o “representante do Ministro da Instrução Pública perante a Universidade”.
Em 1936 por “ordem de serviço” do Ministro da Educação, de 6 de Novembro, foi suspensa a representação dos estudantes no Senado e na Assembleia Geral da Universidade e, no mesmo mês, foram suspensas as eleições na Associação Académica de Coimbra, tendo sido nomeada a primeira Comissão Administrativa.O maior cuidado consistiu em assegurara que o edifício da Imprensa se mantivesse na posse da Universidade e que não se extinguisse a acção editorial que a Imprensa vinha assegurando.

A actividade editorial na Universidade após a extinção
Após a extinção da Imprensa da Universidade, a actividade editorial de carácter científico manteve-se na Universidade de Coimbra. As Revistas Científicas da Universidade impressas na Imprensa até 1934 continuaram a ser publicadas, após a extinção, pelas Faculdades de Direito, Medicina, Ciências e pela Biblioteca Geral. As Revistas Científicas da Universidade que surgiram na década seguinte à sua extinção foram publicadas pelas Faculdade de Letras, Direito, Medicina, Ciências e Farmácia.

A Imprensa da Universidade no tempo presente
A história recente
Mediaram 64 anos entre a data da extinção da Imprensa da Universidade em 1934, e a sua reactivação em finais de 1998. Entretanto, foi criado o Serviço de Documentação e Publicações da Universidade por legislação de 1979, cabendo-lhe “programar, coordenar e orientar as publicações de carácter pedagógico, científico e cultural da Universidade”. Em 1986, Luís Reis Torgal, com a colaboração de Maria Antónia Amaral, em estudo solicitado pelo Reitor Rui Alarcão, defendeu, “a reactivação da Imprensa da Universidade de Coimbra, como tarefa prioritária”.
Em 1989, nos Estatutos da Universidade de Coimbra, foi contemplada a criação da Imprensa da Universidade. Ficou estabelecido que:
-“A Imprensa da Universidade de Coimbra tem por missão específica a definição da política editorial da Universidade, competindo-lhe igualmente programar, coordenar e orientar a publicação de obras de interesse cultural, científico e pedagógico;
-Incumbe-lhe ainda gerir a distribuição, a venda e o intercâmbio de publicações”.

O início de actividade da Imprensa da Universidade de Coimbra
Em Dezembro de 1998, o Reitor, Fernando Rebelo, propôs ao Senado a eleição do Professor Fernando Regateiro, oriundo da Faculdade de Medicina, para o cargo de Director da Imprensa da Universidade. Com a sua eleição, foi iniciada a actividade da Imprensa.
Em Maio de 1999, entrou em funções o conselho editorial e em Julho o Senado aprovou o Regulamento da Imprensa.
Ainda em 1999, a Imprensa passou a dispor da Livraria da Imprensa da Universidade, dando continuidade a uma tradição que já vem do século XVIII.
Um ganho significativo, em termos de capacidade de resposta, decorreu da ancoragem da Imprensa no espaço físico e no quadro de pessoal do Serviço de Documentação e Publicações.A primeira obra editada pela Imprensa da Universidade, nesta nova fase , intitula-se Reitorando 1, da autoria de Rui Alarcão e foi lançada em 23 de Junho de 1999. Até ao presente (2001) foram publicadas obras nas séries Documentos, Investigação e Ensino. A colecção “O Estado da Arte” também foi aberta aos autores.
Procurando diversificar os suportes em função dos conteúdos e do público alvo, a Imprensa já editou em CD-ROM uma das suas obras da série Investigação.

O regresso do espólio da Imprensa à Universidade de Coimbra
A Imprensa da Universidade, desde o reinício de actividades, teve como intenção recuperar o que fosse possível do seu passado. Para isso, estabeleceu os necessários entendimentos com a Imprensa Nacional, na pessoa do seu Presidente Brás Teixeira, o que permitiu, em 2001, o regresso à Universidade de Coimbra de parte do seu antigo espólio, que se encontrava, desde 1934, à guarda daquela instituição. Nesse espólio, para além de documentos diversos, encontram-se nomeadamente, gravuras em cobre, tipos em madeira, tipos em metal e vinhetas, sendo que, algumas destas são, presumivelmente, restos do material oriundo da antiga imprensa dos Jesuítas.

A catalogação das obras impressas e editadas pela Imprensa da Universidade
A Imprensa da Universidade tema actualmente em curso o trabalho de catalogação das obras por si impressas ou editadas, desde a sua fundação até à actualidade. Pelo número de títulos já lançados, na primeira fase do trabalho, o catálogo deverá vir a comportar cerca de uma dezena de milhares de títulos.
[texto elaborado por Miguel Ângelo Pardal, João Carlos Marques e Manuel Augusto Graça, extraído do endereço «http://www.imp.uc.pt/», HISTÓRIA, o qual constitui uma síntese do colectivo "Imprensa da Universidade de Coimbra. Uma História dentro da História", 2001. AMNunes]

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