domingo, março 25, 2007

Dias Ferreira
José Dias Ferreira (Arganil, 1837-Vidago, 1909) foi um aluno brilhante das Faculdades de Teologia e de Direito da UC (1852-1859). Protegido pelo lente liberal Vicente Ferrer, doutorou-se em 29/06/1860. Começou a trabalhar como lente substituto em 10/05/1861, tendo ascendido a lente catedrático de Direito Civil em 1866.
Em paralelo, JDF exercitava-se na advocacia e na política. Radicado em Lisboa com a família no ano de 1865, abandonaria a docência na UC para se dedicar à advocacia,à actividade política e à gestão de negócios.
Na constância de um segundo casamento, em 1882, foi pai de José Eugénio Dias Ferreira, o candidato reprovado pela Faculdade de Direito da UC nos actos magnos de doutoramento nos dias 27 e 28 de Fevereiro de 1907.
JDF era deputado por Aveiro em 1892 quando estalou a crise do sistema rotativo tradicionalmente repartido entre o Partido Progressista e o Partido Regenerador. Em Janeiro de 1892 o Rei D. Carlos I convidou JDF a formar governo. O "Governo da Acalmação Partidária", chefiado por JDF tomou posse a 17 de Janeiro de 1892 e logrou manter-se em funções até 23 de Fevereiro de 1893.
Durante o governo de JDF, ocorreu na UC uma greve estudantil, corria Maio de 1892. Confrontado com as manifestações de hostilidade ao governo e com a crescente visibilidade da causa republicana no meio académico, JDF mandou encerrar compulsivamente a AAC e exigiu aos grevistas que pretendiam realizar exames e transitar de ano uma declaração escrita, na qual deveriam fazer prova de que só tinham aderido à greve sob coacção de outros colegas.
No meio dos grevistas destacavam-se os estudantes de Medicina António José de Almeida e de Direito Afonso Costa, ambos bem conhecidos pelo desassombro verbal e simpatias republicanas. Constituído um grupo de "46 Incondicionais", JDF não se comoveu nem intimidou. Mobilizou a polícia, que segundo António José de Almeida "deu pranchadas", exiguiu que os estudantes revoltosos abandonassem Coimbra no prazo de 24 horas, e por fim, reabriu a UC, exigindo o documento escrito que tanto indignou a Academia.
António José de Almeida e Afonso Costa integravam os "46 Incondicionais" «que se não prestaram a essa vilíssima comédia», tendo perdido o ano escolar. A rainha D. Amélia, de visita a Coimbra, ainda tentou meter água na fervura a favor da causa estudantil, mas JDF não recuou nem um milímetro.
António José, apesar da sua reconhecida bonomia, não conseguiu encontrar desculpa para a dureza das medidas implementadas por JDF em 1892 e tratou de relembrar o assunto nos debates que travou na Câmara dos Deputados em Março de 1907. Quando chamou à ordem do dia a Crise Académica de 1907, não conseguiu evitar a comparação entre o José Dias Ferreira de 1892 e o João Franco de 1907. Na opinião de António José, a má lembrança da acção de JDF pairava sobre os acontecimentos de 1907 como um aviso à prudência.
[Coimbra, 1993: causou sensação nos círculos intelectuais a nomeação da economista Manuela Ferreira Leite como Ministra da Educação do governo do PSD liderado por Aníbal Cavaco Silva. O que esperar da bisneta de José Dias Ferreira e neta de José Eugénio Dias Ferreira, o primeiro ligado à Greve Académica de 1892, o segundo considerado causa directa da Crise Académica de 1907? Vivamente contestada pelo teor das medidas implementadas entre 1993-1995 à frente da Pasta da Educação, foi justamente nos círculos conimbricenses que começou a correr o epíteto de "Dama de Ferro"...]
Informação disponível na Internet:
-"José Dias Ferreira", http://pt.wikipedia.org/wiki/Jose_Dias_Ferreira (foto de 1870);
-"José Dias Ferreira", http://www.sgmf.pt/;
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