sexta-feira, abril 06, 2007

Guerras de Lentes
A Questão das Insígnias

A - «Na carreira universitária há várias provas importantes, mas uma delas é indubitavelmente fundamental – o doutoramento. No caso concreto de Coimbra, a partir daí o docente universitário tem a condição necessária para começar a usar insígnias. Necessária, mas não suficiente. A tradição manda que volte a passar pela Sala dos Capelos para que lhe sejam solenemente impostas essas insígnias.
A cerimónia de imposição de insígnias a um doutor é uma espécie de doutoramento «Honoris Causa», já que o protocolo é praticamente igual. Também há o cortejo, o «padrinho», os elogios ao candidato e ao «padrinho», a entrega da borla, do anel e do livro feita pelo Presidente do Conselho Directivo da Faculdade. Frequentemente, juntam-se vários doutores e fazem a cerimónia em conjunto. A festa pode ser um pouco mais demorada, mas não por causa dos discursos, uma vez que o bom senso aconselha a que se reduzam os elogios.
(...) Está (...) a aumentar o número de doutores sem insígnias. Isso nota-se cada vez mais na Sala dos Capelos, onde, nas mais importantes cerimónias, se sentam lado a lado doutores com insígnias e doutores sem insígnias. Este facto chegou a criar problemas de melindre quando em cerimónias muito concorridas havia doutores sem insígnias nos cadeirais e doutores, mais antigos, de Faculdades mais recentes, com insígnias há muitos anos, em baixo, na «teia».
Pouco depois de ter tomado posse como Reitor em 1998, senti-me triste ao ver professores dos mais antigos saindo da Sala porque, pela primeira vez, não tinham conseguido lugar nos cadeirais. Para evitar que isso voltasse a acontecer, levei logo a Senado, e com êxito, uma proposta de proporcionalidade «mitigada» de doutores por Faculdade que permitia a representação de todas as Faculdades nos cadeirais, em caso de cerimónias com grande afluência de doutores. Graças à quota aprovada para cada Faculdade e porque os doutores se sentam consoante a sua antiguidade, os mais antigos ficam sempre nos cadeirais.
(...) Nos desfiles de professores em que estive envolvido, fosse na Itália, fosse na Inglaterra, com doutores de vários países, cada qual com as suas insígnias, as nossas eram especialmente apreciadas pela riqueza da sua elaboração.
(...) As praxes académicas estiveram esquecidas durante alguns anos. Doutorei-me na Sala dos Capelos em 1975, de fato e gravata... Só mandei fazer a Capa e Batina em 1978, quando as praxes estavam a regressar por influência do então Reitor, Prof. Ferrer Correia. Mas as imposições de insígnias demoraram a instalar-se de novo com alguma frequência. Como em 1985 tive de usar insígnias para discursar num doutoramento «Honoris Causa», fiquei automaticamente dispensado da cerimónia. Há muitos casos como o meu, registados em livro próprio».
[Transcrição ampla do artigo assinado pelo ex-Reitor da Universidade de Coimbra, Fernando Rebelo, no diário As Beiras, de 10 de Fevereiro de 2004, com o título «Reflexões sobre a vida universitária» e o subtítulo «45. As imposições de insígnias», o que me faz supor que se trate de uma coluna semanal numerada em que o autor tenha já tratado antes de outros 44 temas da academia coimbrã de importância comparável a este.] Ivan Nunes: «Não farei grandes comentários. Só assinalo que nos lugares mais insuspeitos o período da Revolução nos surge como o breve intervalo da lucidez», Blog A Praia, httpp://www.a-praia.blogspot.com/.

B - “Borla e Capelo
"Na Praia, Ivan Nunes transcreve longamente, com impiedoso gozo, um texto do ex-reitor da Universidade de Coimbra, Fernando Rebelo, sobre as “insígnias”, ou seja, a borla e o capelo coloridos que a tradição prescreve aos professores da UC. Sou dos que não usam tais insígnias, mas somente o simples traje académico preto. Por duas razões: primeiro, porque as acho demasiado “carnavalescas” no seu neobarroco revivalista; segundo, porque, confesso, não as tendo, fico dispensado de intervir nas cerimónias em que elas são exigidas, designadamente nos doutoramentos “honoris causa”, que frequentemente são uma "seca".
O ex-reitor acha que as insígnias são deslumbrantes. E há muita gente que se não sente verdadeiramente professor de Coimbra sem elas. Eu não partilho da primeira apreciação nem da segunda. Penso mesmo que é chegada a altura de uma reforma do trajo e das insígnias académicas, de modo a simplificar um e outras. É verdadeiramente incómodo o seu transporte para fora de Coimbra, e ainda mais para o estrangeiro (é preciso uma mala grande só para isso), bem como ter de mudar integralmente de indumentária para participar em qualquer evento académico (doutoramentos, agregações, cerimónias solenes, etc.).
Também penso que o trajo académico devia ser dispensado nas provas de doutoramento. O seu uso poderia ter algum sentido quando tais provas eram prestadas só por candidatos à carreira docente. Mas hoje essa conexão tem cada vez mais excepções, e ainda bem que assim é. Acho uma violência (e não só financeira...) que se exija esse atavio aos que não têm nenhum projecto de se dedicar ao ensino universitário. Tal como não se exige uniforme académico nas provas de mestrado, também deveria ser dispensado nas provas de doutoramento".
[Vital Moreira, Blog Causa Nossa, texto de Vital Moreira, edição de 17/02/2004, http://causa-nossa.blogspot.com/, edição de 17/02/2004, translado dos textos por AMNunes].

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