terça-feira, abril 17, 2007

17 de Abril de 1969





Há 38 anos atrás, Coimbra estava em ebulição, naquela manhã de 17 de Abril de 1969, por ocasião da inauguração do Edifício da Matemática. Vieram a Coimbra os Ministros das Obras Públicas, da Educação (o hoje famoso Prof. Hermano Saraiva) e o então Presidente da República, Almirante Américo Tomás.
Foram recebidos na Reitoria, depois, em conjunto com o então Reitor, Doutor Andrade Gouveia, recentemente falecido já nonagenário, seguiram pela Rua Larga até ao Largo D. Dinis onde se fez barulho e ergueram cartazes contra a Ditadura. Diz-se que Tomás julgando que era uma manifestação de apoio ainda olhou para lá e os saudou sorrindo, enquanto o Saraiva estava incomodado. Depois, foi a benção do edifício em que o Bispo de Coimbra quando lia o texto era constantemente interrompido por gargalhadas e ataques de tosse propositados. Seguidamente, foi a inauguração do edifício, não deixaram entrar mais ninguém, a certo momento o Presidente da AAC, hoje deputado Alberto Martins a quem lhe disseram anteriormente que não podia usar da palavra levanta-se e pede ao Tomás para usar, este não sabe o que fazer, tem uma saída: "Agora fala o Ministro das Obras Públicas" (nisto, Hermano Saraiva, como se pode ver em fotos, dirigia um olhar insistente para a Brigada da Pide que estava na sala). Tudo esperava que após o discurso do Ministro das Obras Públicas, Tomás desse a palavra a Alberto Martins, enquanto cá fora, como existem fotos, o hoje Dr. Celso Cruzeiro às cavalitas de um colega dizia que podiam todos entrar. Acabado o discurso os governandes saíram em debanda, sendo completamente enxovalhados, com gritos de VERGONHA, PALHAÇOS, etc ...
Depois, por causa de um simples pedido de palavra, a cidade viu-se cercada pela Polícia, foi a greve às aulas e exames em que se destinguiram alguns alunos, alguns hoje famosos ...
A Associação Académica foi demitida e os seus dirigentes suspensos da UC, houve assembleia Magna, nela compareceram Professores Sonantes em apoio aos estudantes pondo a sua carreira em perigo, o Doutor Orlando de Carvalho e o Doutor Paulo Quintela que, com a sua voz que mais parecia vozeirão, disse para os estudantes: "Só quem vos elegeu vos poderá demitir".
Foram dias quentes. A Briosa foi à final da Taça, a Academia está de luto académico e quis jogar de branco (côr do luto académico) mas não foi autorizada a tal. Subiram ao campo de capa ao ombro para defrontarem o Benfica. Nas bancadas, o jogo era outro, os estudantes que vieram em autêntica caravana de Coimbra traziam cartazes que clamavam por democracia e liberdade para exibir no jogo, que a PIDE tentava capturar, mas os cartazes sumiam ante a presença da PIDE e surgiam no lado contrário, além disso, pela primeira vez, o jogo da Final da Taça não foi transmitido na TV, pois não convinha ao Regime. Foram tempos dignificantes para os Estudantes de Coimbra e é por causa de tempos como estes que hoje podemos dizer que para a Liberdade e Democracia do País a Capa e a Batina dos estudantes também deu o seu contributo.
Quem quiser aprofundar o tema, pode ler a obra de Celso Cruzeiro sobre a Crise Académica.

Legenda das Fotos:
1- Assembleia Magna no Pátio da Universidade.
2 - A Briosa em Campo, de Capa ao ombro para defrontar o Benfica.
3 - Desfile Militar no Largo D. Dinis, onde se avistam os cartazes com palavras de ordem contra o regime.
4 - Uma Assembleia Magna
5 - A Assistência na Final da Taça de Portugal em 1969.
Rui Lopes

relojes web gratis