sábado, fevereiro 10, 2007

14 a 17 de Fevereiro, no Porto
Clube Literário do Porto
com José Afonso - "20 Anos de Caminho"

C o n v i t e

Para qualquer diligência informativa:
José Carlos Pereira
(91 609 00 33)

Paulo Esperança
91 771 19 64
e-mail: ajanorte@gmail.com


Porto, 9 de Fevereiro de 2007.

Ex.mos Senhores:

Junto temos a honra de lhes dar conhecimento do programa de quatro dias dedicados a José Afonso - entre os próximos dias 14 e 17 (entre a próxima quarta-feira e sábado) -, convidando-os para o evento denominado "COM JOSÉ AFONSO - 20 ANOS DE CAMINHO", no Clube Literário do Porto (CLP), sito na Rua Nova da Alfândega, n.º 22, no Porto, numa iniciativa levada a efeito, em parceria, pelo CLP e pelo Núcleo do Norte da Associação José Afonso (AJA).

Para qualquer informação ou diligência, agradecemos que contacte José Carlos Pereira (91 609 00 33), que dará imediato encaminhamento do solicitado.

Mais abaixo, enviamos o referido programa.

Sem mais nada de momento, agradecendo a divulgação e a presença dos senhores no referido evento, despedimo-nos endereçando os melhores cumprimentos.

José Carlos Pereira
Paulo Esperança

Em anexo: cartaz do evento.

“COM JOSÉ AFONSO – 20 ANOS DE CAMINHO”

14 Fevereiro

- 21h30m: Inauguração de exposição temática sobre José Afonso;
- 22h: Debate “JOSÉ AFONSO- TESTEMUNHOS”, com a participação de Alípio de Freitas e Benedicto Garcia Villar.

15 Fevereiro

- 22h: Tertúlia “O PRAZER DO TEXTO”, com intervenções poéticas e musicais a decorrer no “Piano-Bar” do CLP.

16 Fevereiro

- 21h30m: Debate “JOSÉ AFONSO-A LÍRICA”, com a participação de José António Gomes e Elfriede Engelmayer.

17 Fevereiro

- 21h30m: Debate “JOSÉ AFONSO-A MÚSICA”, com a participação de Francisco Fanhais e José Mário Branco.

Actas do Primeiro Encontro de Protocolo Universitário em Espanha
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O Primeiro Encontro de Responsáveis pelo Protocolo e Relações Internacionais das Universidades Espanholas

Nos dias 06 e 07 de Março de 2006 decorreu na Universidade de Granada o primeiro encontro de responsáveis pelo protocolo e cerimonial universitário em Espanha.
As comunicações e propostas formuladas foram publicadas em 1997 num volume de 168 páginas de actas.
A leitura dos diversos textos, citações documentais e recomendações é deveras instrutiva.
O Hábito Talar docente, o modelo de Insígnias, as cores oficiais e os distintivos são matéria relativamente uniformizada à escala nacional e centralizada através de sucessivos instrumentos legais, independentemente de estarmos em presença de universidades medievais, quinhentistas ou recentes, estabelecimentos públicos ou privados, universidades ou politécnicos.
Algumas universidades espanholas, particularmente as mais recentes, seguem o protocolo de Estado praticado na Corte, nas sedes das Regiões Autónomas e nos Municípios, prescindindo de instrumentos como a Toga preta, a Murça e o Barrete, o Anel, o Bastão e os cortejos de investidura. Tudo se resume a uma exteriorização baseada na constituição de uma tribuna civil, cuja autoridade entrega ao homenageado um diploma. Esta opção nada tem de invulgar, observando-se em instituições de ensino superior acreditados em França, Brasil, Rússia, Peru ou Guatemala.
Quanto às universidades espanholas de gesta medieval e renascentista, a Coroa admite a existência e prática de peculiarismos como os bedéis com suas maças de prata, o Vítor dos novos doutores salmantinos, o despojamento do Reitor velho perante o Reitor novo em Salamanca, o “Osculum Pacis” e os charameleiros. É nestes estabelecimentos pluricentenários espanhóis que mais se nota a vera semelhança com a Alma Mater Conimbrigencis. A leitura de fragmentos de vários estatutos promulgados até finais da União Ibérica de 1580-1640 permite-nos concluir pela existência de autênticos decalques normativos no território peninsular.
A Universitas Studii Salamantini é, de entre todas as instituições espanholas, o exemplo que mais se aproxima do antigo Splendor Conimbrigencis. Enquanto Salamanca perdeu o ancestral Hábito Talar e viu as insígnias nacionalizadas na década de 1850, Coimbra mantém no essencial a herança multissecular do seu riquíssimo e único Cerimonial. Do que se perdeu e actualizou apenas são dados a conhecer aspectos epidérmicos. A um nível bem mais profundo, nidifica toda uma dimensão sacral e místico-simbólica transmitida oralmente entre praticantes a quem poderíamos chamar com plena propriedade “sacerdotes de Minerva”.
A Universidade de Coimbra tem sabido zelar por um património cultural de difícil compreensão que se assume em plenitude quando praticado no seu cenário natural.
O referido tomo de actas pode ser lido on line e contém as seguintes intervenções:

-Palavras de Abertura
-Conferência Inaugural: “Implicaciones Sociológicas del Protocolo”, por Júlio de Usel, Decano da Faculdade de Ciências Políticas e Sociologia da Universidade de Granada
-“El Espiritu del Cerimonial Universitário. Precedências e antiguidades", por D. Francisco Galino Nieto, do Gabinete de Protocolo da Universidade Complutense de Madrid
-“El Protocolo en los Actos Universitários. Actos proprios del protocolo universitario. La costumbre en la universidad. La figura del Rector”, por Alicia de la Iglesia Martínez de Toda, do Gabinete de R. I. da Universidade Pública de Navarra
-“Actos historicos. El doctorado honoris causa. Algunos aspectos del Doctorado Honoris Causa”, por Alberto Darias Príncipe, Mestre de Cerimónias da Universidade de Laguna
-“Actos Patronales. La festividad de Santo Tomás de Aquino”, por Silvia Núnez Moro, da Universidade de Salamanca
-“El papel del Consejo Social y su integración protocolaria”, por Manuela Suárez Pinilla, do Gabinete de R. I. da Universidade de Granada
-“Precedencia y disposición de Autoridades en Actos Universitarios”, por Daniel Rivadulla Barrientos, Director de R. I. da Universidade de Alcalá
-“Participación y Precedencia en actos universitarios. Precedencia en asistencia por delegación”, por Isabel Garcia Malet, da Universidade de Barcelona
-“El Traje Académico. Rituales y Símbolos. Ritual y uso del Traje Académico”, por Ana Martín Villegas, da Universidade de Zaragoza
-“Libros ritules: el libro de oro, honores, condecoraciones y tomas de posesión”, por José Sanchez, da Universidade de Almería
-“Soporte informatico en la preparación de actos universitarios”, por Margarita Rodríguez Cotelo, do Gabinete de R. I. da Universidade de Granada
-“Congresos e Exposiciones. Funcionamiento de la seccion de organización de congresos y exposiciones de la Universidad Complutense de Madrid”, por Ana González Limón
-“Propuesta para la creación de la Asociación para el Estudio y la Investigación del Protocolo Universitario”, por Teresa Ferrón Jiménez, da Universidade de Granada
-“Resumen y Conclusiones”
Fonte: Asociación para el Estudio y la Investigación del Protocolo Universitario, http://www.protocolouniversitario.ua.es/
António Manuel Nunes

FADO DAS ALMINHAS











































Música: Paulo de Sá (1893-1952), dedicada “Ao Nuno Quental”
Letra: 1ª e 2ª quadras populares
Incipit: Pelas alminhas te peço
Origem: Santa Maria da feira (?)
Data: ca. 1927-1928

Pelas alminhas te peço
Dá devagar os teus passos
Que debaixo dos teus pés
Anda minh’alma em pedaços.

Ando triste como a noite
Nada me alegra o sentido...
Ninguém sabe o bem que perde
Senão depois de perdido.

Canta-se o 1º dístico, repete-se; canta-se o 2º e bisa-se.

Informação complementar
Canção estrófica em compasso quaternário e tom de Sol Maior, da 2ª metade da década de 1920, obedecendo ao convencional efeito de repetição muito em voga no Período Clássico. A letra é de teor mórbido-decadentista, bem ao gosto de época.
Esta composição conheceu impressão musical na Sassetti & Cª., Lisboa, Rua do Carmo, 54 – 58, com a dedicatória supra, copyright de 1929, trazendo capa ilustrada por Stuart de Carvalhais.
Para a 1ª quadra veja-se “Enciclopédia das Famílias”, Ano XXI, nº 247, de 1907, pág. 536, “Mil Trovas”, e ainda em Jaime Cortesão, “O que o Povo Canta em Portugal”, p. 125; a 2ª copla já era popular em 1893, constando de recolhas como o “Cancioneiro Geral dos Açores”, Volume III, pág. 120, “Cancioneiro Transmontano e Alto-Duriense”, pág. 289, “Cancioneiro Popular Português e Brasileiro”, pág. 4, “Cancioneiro de Músicas Populares”, de César das Neves/Gualdino de Campos, “Cancioneiro”, de Fernando Pires de Lima e o já citado “Mil Trovas”, editado em 1903.
Composição gravada em Lisboa, nas sessões que decorreram entre 10 de Agosto e 03 de Setembro de 1928 pelo Dr. Elísio da Silva Mattos (1893-1978), acompanhado à guitarra em afinação natural pelo Dr. Paulo de Sá (Santa Maria da Feira, 05703/1891; Porto, 26/04/1952) e em violão de cordas de aço pelo Prof. Doutor José Carlos Martins Moreira (Porto, 1895; Coimbra, 1977), que preferiu que o seu nome não figurasse no disco (disco de 78 rpm His Master’s Voice, E.Q. 149, master 7-62210).
Uma versão instrumental desta melodia foi gravada em guitarra solo pelo célebre executante de Gouveia José Parente, no Teatro São Luís, Lisboa, a 29 de Outubro de 1928: 78 rpm His Master’s Voice BN 144. Desconhecemos se a referida matriz chegou a ser comercializada.
Após o registo efectuado por Elísio Matos, “Fado das Alminhas” não voltaria a ser gravado por nenhum outro cantor até finais do século XX, pelo que se pode considerar um espécime caído no esquecimento.
Texto: José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes
Agradecimentos ao José Paracana por ter cedido a partitura original.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Digressão do Orfeon
Rosto do prospecto de uma digressão do Orfeon a Estremoz em Março de 1951. Nas páginas interiores contava-se a história do célebre Pirata.
Imagem enviada por Augusto Mota.
AMNunes

Decretus
Decretus da autoria de Augusto Mota, reproduzido na contracapa do livro de caricaturas dos Quartanistas de Letras-1957. Há uma digitalização no Blog ALCATRUZ, http://alcatruz.blogspot.com/, edição de 01/05/2005.
Imagem enviada por Augusto Mota.
AMNunes

Gala das Bodas de Prata do Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra no passado sábado no Casino da Figueira da Foz. Diário as Beiras de hoje. Fotos de Carlos Jorge Monteiro.

Gala do Coro dos Antigos Orfeonistas no Casino da Figueira da Foz, no sábado passado. Diário as Beiras de hoje, com texto de Rosette Marques e foto de Carlos Jorge Monteiro.

Mário Nunes, Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, evoca o concerto do Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra, no passado sábado, no Casino da Figueira da Foz. Diário as Beiras de hoje.

Cristina Cruz apresenta amanhã o seu disco "Coimbra Menina do meu Olhar". Notícia do Diário de Coimbra de hoje.

A Guitarra Portuguesa e o Conservatório

A Guitarra Portuguesa atravessa actualmente um processo de transformação relativamente ao seu ensino, tendo justificado diversas e variadas intervenções.
Fado vs Guitarra Portuguesa formam uma espécie de “Canon”, o caminho de um encontra-se com o caminho do outro. Contudo o contrário (Guitarra Portuguesa vs Fado) já sofre excepções, estando as mesmas evidentemente comprovadas em composições de Carlos Paredes, Pedro Caldeira Cabral e Ricardo Rocha, criando um repertório solista que poderá ter como consequência a direcção musical da Guitarra Portuguesa para outras componentes estéticas.
Desta forma vamos pensar na Guitarra Portuguesa como um instrumento completamente distanciado e diferenciado do Fado.
A partir deste ponto de separação, que é de extrema dificuldade intelectual, a Guitarra Portuguesa estará preparada para absorver qualquer tipo de corrente musical.
Assim, a inclusão do curso de Guitarra Portuguesa nos Conservatórios de Música só fará sentido se for dedicado ao aprofundamento e aperfeiçoamento metódico de repertório solista nas suas mais diversificadas vertentes (Guitarradas de Lisboa, Guitarradas de Coimbra, Musica Antiga, Clássica, Contemporânea, Jazz, …). Só assim a Guitarra Portuguesa será um instrumento com futuro, não sendo para sempre encarado como um instrumento popular.
Num futuro próximo provavelmente um curso de Guitarra Portuguesa que adopte este tipo de ensino irá sofrer um caminho de isolamento e exclusão parcial, recebendo críticas contraproducentes de personalidades enraizadas no meio Fadista que desejariam ver incluída a vertente de acompanhamento ao Fado. Mas se seguíssemos esse mesmo princípio, então o curso de Viola Dedilhada nos Conservatórios de Música ou nas Escolas Superiores de Música teria que ter acompanhamento ao Flamengo, acompanhamento ao Fado, repertório solista para Guitarra Clássica, repertório de Música Popular Portuguesa, Bossa Nova, entre outras vertentes, o que se tornaria um absurdo.
Ora o objectivo de Conservatórios de Música e Escolas Superiores de Música é preparar Músicos aptos para se apresentarem em Recitais, Orquestras, Direcção Musical, Composição, etc.
Relativamente ao acompanhamento ao Fado pela Guitarra Portuguesa, este reveste-se de extrema importância, existindo locais com grande dignidade para o seu ensino como são a Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra, o Museu do Fado em Lisboa, entre outras instituições e professores de Guitarra Portuguesa particulares, mas pelas razões expostas em cima, não os Conservatórios de Música ou as Escolas Superiores de Música.
Relativamente à organização do referido curso, há que dizer que quando qualquer curso se inicia, por muito que tudo pareça estar preparado para principiar, existem sempre lacunas das mais diversas ordens, desde as programáticas às metodológicas. Basta ter como exemplo o programa dos cursos superiores de Direito, Engenharia, Gestão, … que existem há muitos anos e que sofrem reestruturações permanentes. Deste ponto de vista os cursos de Guitarra Portuguesa nos Conservatórios de Música, estando numa fase embrionária, ainda têm que se adaptar às exigências de futuro.
Não acredito que exista um só caminho para a Guitarra Portuguesa, nem uma só técnica de execução, nem uma só forma de a pensar, mas acredito que num futuro próximo o instrumento que eu toco e de que tanto gosto, possa, em termos musicais, ser equiparado a qualquer outro instrumento já instituído no meio musical universal.

Hugo Reis (Aluno do curso de Guitarra Portuguesa do Conservatório de Música do Porto)

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

BARCAS NOVAS

Música: Adriano Maria Gomes Correia de Oliveira (1942-1982) e Rui de Melo da Rocha Pato
Letra: Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007)
Incipit: Lisboa tem suas barcas
Origem: Coimbra
Data: 1967






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I
Lisboa tem suas barcas,
Agora lavradas de armas.

São de guerra as Barcas Novas
Sobre o mar com sua guerra.

(Refrão)
Barcas Novas levam guerra
E as armas não lavram terra. (bis)

II
De Lisboa, sobre o mar
Barcas Novas são mandadas.

Barcas Novas levam guerra
Sobre o mar com suas armas.

(Refrão)
Barcas Novas levam guerra
E as armas não lavram terra. (bis)

Os dísticos cantam-se e repetem-se como nas composições estróficas convencionais. No refrão só é bisado o 2º verso.

Informação complementar:
Canção com texto de inspiração medieval e refrão. Melodia original em compasso 4/4 e tom de Lá Menor, com passagem a maior (“com a guitarra afinada à Coimbra”, Rui Pato).
Espécime gravado pela primeira vez em 1967 por Adriano Correia de Oliveira no EP ELEGIA, Orfeu, ATEP 6175, acompanhado por Rui Pato na viola nylon. “A técnica de acompanhamento é o que se usava habitualmente nas baladas, mas são tentados uns adornos entre as estrofes, do tipo escala com trémolo dedilhado, de inspiração «flamenga»” (declarações de Rui Pato em 21/01/2007). Esta canção integra-se no Movimento da Trova, sendo bem evidente o teor interpelativo da letra quanto ao sentido e devir da Guerra Colonial (1961-1974).
Na ficha técnica do primeiro registo de 1967 há omissões. Quanto à autoria da música, não é claro se é de Luís Oliveira de Andrade (1935-1993), Rui Pato, Adriano, ou conjuntamento de Rui Pato/Adriano. O nome da poetisa Fiama Brandão também não consta da ficha do referido EP. As autorias correctas são as que constam do cabeçalho deste verbete de inventariação.
Reedições:
-LP MEMÓRIA DE ADRIANO, ORFEU, RT LP 18011, ano de 1982, Disco 1, face A, Faixa Nº 4, com pormenorização das autorias;
-antologia CD ADRIANO. Obra Completa, Lisboa, Movieplay 35.003, ano de 1994 (cd Adriano. A Noite dos Poetas, Movieplay 35.010, ano de 1994, faixa nº 5). Nesta antologia cd, coordenada por José Niza, a música aparece correctamente atribuída a Adriano/Rui Pato.
Fiama H. P. Brandão nasceu em Lisboa no ano de 1935 e faleceu na sua cidade natal em 20 de Janeiro de 2007. Estudante de Literatura na Universidade de Lisboa, não chegaria a completar os estudos superiores. Dedicou-se à produção poética e ao teatro. Revelada nos finais da década de 1950, foi considerada figura de relevo do Movimento Poesia 61. O poema apareceu no livro “Barcas Novas”, Lisboa, Ulisseia, 1966.
Transcrição musical: Octávio Sérgio (2007)
Texto: José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes
Agradecimentos: Dr. Rui Pato

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Marcha dos Cavalinhos


Manuel José Vidigal foi um afamado guitarrista que viveu nos últimos anos do século XVIII e princípios do século XIX. Não existem notícias biográficas deste músico, mas um livro publicado por um viajante inglês fez larga referência ao seu merecimento e qualidades, apresentando ao mesmo tempo, como espécimen da música portuguesa, uma modinha, Cruel saudade, composta por Vidigal (Sketches of Portuguese Life, etc. by A. P. D. G. Cap. 12.º pág. 221.).
Em 4 de Janeiro de 1796 deu um concerto em seu benefício anunciado na Gazeta de Lisboa, em 19 de Dezembro anterior, nos seguintes termos:
"Segunda feira 4 do mez que vem se ha de fazer hum Concerto vocal e instrumental no Palacio do Excellentissimo D. José Lobo á Boa-vista, em beneficio de Manoel José Vidigal, no qual cantarão os musicos de S. M. Capranica, Longarini e Bertocci; tocará o dito Vidigal na Guitarra ingleza, Grua no Rabecão e Legras na Rabeca. Os bilhetes se achão no Café do Largo de S. Carlos e na loja da Gazeta, pelo preço de 1.600 réis cada um."
P.S.Esta referência à guitarra inglesa tocada por Vidigal é importante para que não haja dúvida quanto ao instrumento utilizado na presente obra, dada a frequente ambiguidade entre os termos 'viola' e 'guitarra'. A viola referida em obras impressas da mesma época (por exemplo no Jornal de Modinhas, n.º 19, 1796) será a viola de cinco ordens; a guitarra inglesa, 'instrumento importado' como refere Manuel Morais [Morais, 2003], terá surgido em Portugal na segunda metade do século XVIII e acabou por se tornar, algumas décadas mais tarde e sujeita a algumas transformações, no instrumento hoje designado por guitarra portuguesa.”O texto em causa é da responsabilidade de Catarina Latino - Responsável do Centro de Estudos Musicológicos (clicar). Baseado ao que li e ouvi de Pedro Caldeira Cabral, há aqui falta de verdade que a senhora Catarina deve corrigir.
Do Blog do Manel.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Francisco Martins

SEGUE, NA MINHA MODESTA OPINIÃO, UMA INTERPRETAÇÃO CARICATURADA , DUM DOS MAIORES INTÉRPRETES E COMPOSITORES DA GUITARRA DE COIMBRA - INOVADOR, FRESCO, LÍRICO...

José Maria Oliveira

Mais uma preciosidade para enriquecer o espólio da Guitarra de Coimbra. Parabéns, amigo José Maria.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

O Coro dos Antigos Orfeonistas esteve este sábado no Casino da Figueira da Foz, na comemoração dos seus 25 anos.
Hove lugar a homenagens a Luiz Goes e Henrique Veiga, dois ilustres cultores da canção de Coimbra.
Diário as Beiras de hoje, com texto de Rosette Marques e Foto de Carlos Jorge Monteiro.

O Estatuto da Universidade Livre de Coimbra (1925-1933)
Por António Manuel Nunes

I - Introdução
Neste artigo falamos sobre as origens remotas da Universidade Livre de Coimbra (ULC), o seu projecto educativo, os seus mentores e o seu modus faciendi. A contextualização histórica serve de antecâmara à transcrição do manuscrito contendo o “Estatuto” que regeu a instituição no período 1925-1933.

II - A Sociedade de Instrução dos Operários
No rescaldo da Ilustração afirmaram-se na Europa letrada projectos votados à formação de cidadãos. À medida que seduzia adeptos, o ideário republicano apelava à responsabilização e consciencialização dos cidadãos de ambos os sexos. Aos olhos dos liberais e republicanos da 2ª metade de oitocentos, as universidades clássicas, demasiados burocratizadas e elitistas, não estavam aptas a responder aos desafios da democratização do ensino.
As elites mais directamente comprometidas com projectos de instrução e promoção das condições de vida do operariado, reclamavam escolas profissionais, cartilhas e manuais de leitura popular e ensino laico progressivamente generalizado a todos os grupos sociais. Simultaneamente discutia-se a questão da gratuitidade do ensino.
A ideia da criação de extensões universitárias informais surgiu na Inglaterra oitocentista, graças aos esforços desenvolvidos por James Stuart, docente da Universidade de Cambridge. Seguiram-se, ainda no século XIX, as experiências britânicas designadas por “Universtity Stettlements”, promovidas por estudantes universitários que realizavam sessões de esclarecimento em bairros operários.
No entardecer do século XIX, Georges Deherme instituiu em França no ano de 1898 as universidades populares. A experiência seria prontamente adoptada em Viena de Áustria, Turim, Milão, Oviedo e Valência. As universidades livres de inspiração católica surgiram na Bélgica em 1834, na sequência do Congresso de Viena e da Revolução de 1830, por força das crispações entre liberais e católicos[1].
Em Coimbra, as preocupações com a ilustração popular percorreram longo caminho desde meados do século XIX. Com hesitações e avanços souberam agregar estudantes universitários, lentes da Alma Mater e operários que, acreditando nas mais valias da instrução, se reviam nos valores demo-liberais, republicanos, igualitaristas e laicos.
A Universidade Livre de Coimbra (ULC) foi antecedida por um conjunto de iniciativas informais sensíveis à instrução popular, numa cidade onde a egrégia Universidade mantinha uma estrutura fortemente elitista e conservadora, que se auto-revia nos normativos tridentinos e na herança da reforma pombalina[2].
No alvorecer da Regeneração surgira em Lisboa a Associação dos Operários (1850), promovida por políticos, jornalistas e escritores receptivos à causa do ensino operário gratuito. Em 1851 foi fundada em Coimbra a Sociedade de Instrução dos Operários (SIO), directamente inspirada no exemplo lisboeta, numa iniciativa que congregou estudantes universitários liberais e notáveis locais como o antigo operário e jornalista Joaquim Martins de Carvalho[3]. Apelando aos valores inscritos na legislação produzida no rescaldo da Revolução Francesa de 1789, a SIO organizou um montepio operário, cursos primários e de nível secundário preenchidos por disciplinas como História da Democracia, Direito, Economia Política, marcando assim flagrante distanciamento face aos currículos liceais[4]. Alguns dos voluntários com activa participação nestes cursos eram lentes progressistas da UC como Filipe do Quental (Medicina, 1824-1892), António José Teixeira (Matemática, 1830-1900) e Albino Augusto Giraldes (Filosofia). As aulas decorriam em espaços provisórios, havendo notícias de salas arrendadas no antigo edifício da Misericórdia. Os cerca de 200 operários que frequentavam estes cursos primários e secundários viam as aulas regularmente enriquecidas com concertos musicais disponibilizados por três filarmónicas da Alta, e sessões dramáticas representadas por grupos amadores no Teatro do Colégio da Graça ou no Teatro do Largo da Sé Velha. No espectro dos frequentadores incluíam-se tipógrafos, alfaiates, serigueiros, sapateiros, carpinteiros, barbeiros e o mestre de violaria Francisco Rodrigues Bruno.
Acarinhados por periódicos como “O Conimbricense” e o “O Liberal do Mondego”, os associados da SIO conseguiram que em 1852 a Câmara Municipal lhes cedesse instalações anexas à Torre de Almedina, tendo adoptado como base de aprendizagem dos adultos do primeiro nível o “Método da Leitura Repentina” de António Feliciano de Castilho. A introdução deste método ficou a dever-se ao antigo estudante e colaborador da SIO Francisco Castanheira das Neves, que tinha ligações à loja maçónica “Pátria e Caridade”. O prestígio da SIO motivou mesmo a transferência dos cursos para o salão do Colégio da Graça, à Rua da Sofia, em luzidio cortejo aberto por uma filarmónica que executava o “Hino do Trabalho” (Castilho).
A SIO encerrou as portas em finais de 1853, mas os esperantos de instrução popular continuaram localmente muito viçosos. Em 1856 surgiu em Lisboa o projecto Associação Promotora da Educação Popular (APEP), com estatutos aprovados em 1858. Vocacionada para a institucionalização de cursos e recrutamento de formadores, de que se abriu filial em Coimbra, a APEP chegou a manter em Coimbra e em Ançã cursos de instrução primária ao longo de 1859.
O fim da SIO não evitou a crescente afirmação de um espírito de “apostolado” laico, mantido entre as décadas de 1860-1880 por diletantes locais como Joaquim Martins de Carvalho e Adelino Veiga. A consciencialização cívica e a crença nos benefícios da escolarização permitiram alimentar projectos que passaram pela encenação de grupos dramáticos amadores, romagens cívicas ao Cemitério da Conchada, discursos, declamação de poemas-homenagem e publicação de livros de versos[5].

III – A Escola Livre das Artes e do Desenho
Em 1878 era fundada em Coimbra a Escola Livre das Artes e do Desenho (ELAD), cuja figura de proa foi António Augusto Gonçalves (1848-1932). AAG, discípulo de Viollet-le-Duc esteve ligado à formação de uma série de técnicos especializados em restauros e imitações de estilos antigos, nomeadamente românico, gótico e manuelino. Verdadeira escola “técnica”, os cursos da ELAD proporcionavam formação em cantaria, escultura na pedra, talha e ferro forjado. Os alunos desta escola garantiram os trabalhos de cantaria e madeiras do Hotel do Buçaco, diversas vivendas neo na Região Centro e o restauro da Sé Velha de Coimbra[6]. O conhecido republicanismo de AAG não prejudicou o seu muito amor à causa do restauracionismo arquitectónico, nem a sua integração no corpo docente da Faculdade de Filosofia Natural antes de 1910. Por volta de 1900 reformou do Selo da UC, sendo de sua autoria as duas matrizes sigilares que ainda hoje se usam[7].
Era tal o prestígio regional e nacional atingido pela escola dirigida por AAG que o Ministro da Instrução D. António da Costa a ela se referiu elogiosamente como a primeira “universidade do povo”[8].

IV – Os Cursos para Operários (Instituto de Coimbra)
No declinar da centúria de oitocentos teria acção de relevo no relançar da instrução popular o Instituto de Coimbra (IC), conhecido no meio académico pela designação depreciativa de Clube dos Lentes. Instituído em 1852, após ter coabitado com a Academia Dramática e o Teatro Académico, encontrava-se instalado a meio da Rua Larga, no antigo Colégio de São Paulo-o-Eremita. O Instituto preenchia o pavimento térreo com um rico Museu de Antiguidades, cujas colecções albergavam objectos oriundos da UC, extintos colégios e diversos das ruínas de Conimbriga (acervo doado ao nascente Museu Nacional Machado de Castro, cujo primeiro director foi AAG). No andar nobre funcionavam o arquivo, a biblioteca, a redacção da revista “Instituto” e as sessões. O IC inaugurou na sala grande do andar nobre um Curso para Operários, corria o dia um de Fevereiro de 1897. Sob a presidência do lente da Faculdade de Filosofia Bernardino Machado, marcaram presença Luís Viegas e Eugénio de Castro. O lente de Medicina Adriano Lopes Vieira discorreu sobre “A glorificação do trabalho pela higiene”[9]. A ilustração musical da sessão de abertura esteve a cargo da TAUC.
Diversos cursos mistos foram postos a funcionar ao longo de 1897, sempre com as aulas lotadas ou fortemente concorridas: Trigueiros Sampaio (Leitura e Escrita), F. Ribeiro e João Ribeiro (Instrução Primária), Olímpio Cruz (Caligrafia), Manuel da Silva Gaio (Português), Eugénio de Castro (Francês), Bernardo Aires (Geometria), Geografia e História (Bernardino Machado), Educação Cívica e Economia (Afonso Costa).
Após esta experiência de 1897, que nos revela um IC distanciado da imagem conservadora que prevaleceu na década de 1920, Coimbra tomou contacto com experiências encetadas pela Extensão Universitária da Liga da Educação Nacional (EULEN, 1908-1909) e por uma delegação das Universidades Populares da Renascença Portuguesa. Em relação à primeira, a Junta Regional de Coimbra da Liga da Educação Nacional conseguiu promover um conjunto de palestras ao longo de 1909, ministradas por figuras como Marnoco e Sousa, Mendes dos Remédios, Serras e Silva, Machado Vilela e Sobral Cid. Em Maio de 1909 a estrela convidada da EULEN foi o sociólogo francês Poinsard, seguindo-se Sidónio Pais, Afonso Lopes Vieira, Bissaia Barreto e António Augusto Gonçalves (entre outros cargos, técnico do Museu de Antiguidades do Instituto de Coimbra)[10]. Ao longo de 1909 a EULEN promoveu conferências e visitas de estudo, a que andaram ligados nomes como Ferraz de Carvalho, Mira Fernandes, Alberto da Rocha Brito, Daniel de Matos e Charles Lepierre.

V – A Universidade Livre de Coimbra
A Universidade Livre de Coimbra (ULC), fundada em 05 de Fevereiro de 1925 foi uma instituição de curta duração[11]. À semelhança de outros projectos democratizantes, de inspiração republicana e orientação laica, a ULC viu-se condenada a curto prazo pela emergência do vigilante Estado Novo, regime que não estava disposto a tolerar a existência de projectos de instrução alheios à sua filosofia centralizadora. O modo como eram interpretados e expostos temas como a sexualidade ou a santidade não era de molde a agradar aos intelectuais da Igreja Católica.
Sem sede social própria, a ULC ficou instalada na Torre de Almedina (arquivo, reuniões, conferências, correspondência), recorrendo a espaços contíguos aos Paços do Conselho, Ateneu Comercial e Associação dos Artistas para realizar as palestras.
Na sessão inaugural, realizada no Salão Nobre dos Paços do Concelho estiveram presentes Bernardino Machado e o Vice-Reitor da UC Manuel Fernandes Costa. Bernardino Machado foi de opinião que a ULC era a legítima continuadora das experiências encetadas em 1897 no Instituto de Coimbra[12]. O discurso inaugural coube a Aurélio Quintanilha que, fazendo jus aos valores republicanos, laicos e libertários, elogiou o operariado, a aproximação entre operários e intelectuais, o papel da instrução enquanto ferramenta de promoção das classes populares, o combate ao fanatismo e à ignorância.
As futuras sessões de abertura repartiram-se entre a Torre de Almedina, o Ateneu Comercial e o salão da Associação dos Artistas. Além dos discursos solenes, podiam ser lidos relatórios de actividades como aconteceu em 1932 na voz de Tomás da Fonseca[13].A ULC debateu-se desde cedo com a falta de instalações bastantes, tendo chegado a solicitar à edilidade a cedência de salas do edifício da Inquisição que haviam estado ocupadas pelos Cartórios Judiciais da comarca. A falta de sócios originava dificuldades orçamentais aos gestores da ULC. Em Março de 1925 a ULC não conseguira atingir a meta dos 1.000 sócios[14], cuja quota era de 1$00 mensal[15]. No ano lectivo de 1929/1930 avolumavam-se as dificuldades financeiras, fragilidade que inviabilizou o cabal cumprimento do programa[16].
Ao longo da sua existência (1925-1933) participaram nos corpos directivos da ULC 10 lentes universitários, 9 docentes de outros níveis de ensino, 3 estudantes, 2 militares, 2 operários, 1 empregado de comércio, 1 polícia e um industrial. Durante esse período de tempo, a ULC conseguiu realizar cerca de 205 palestras, além de visitas de estudo e concertos musicais. No grupo dos fundadores contavam-se Joaquim de Carvalho (1892-1958), Aurélio Quintanilha, Manuel Reis, Almeida Costa, Tomás da Fonseca, Álvaro Viana de Lemos, António de Sousa e operários/funcionários como Adolfo de Freitas e Floro Henriques.
Quanto aos conferencistas mais representados, Maria Gracinda Marques refere nomes como Álvaro Viana de Lemos (13), Tomás da Fonseca (11), Fernando Falcão Machado (7), Alberto da Rocha Brito (7), Aurélio Quintanilha (6), poeta António de Sousa (5), Coronel Belisário Pimenta (5), Antero Seabra (5), Afonso Duarte (4), José Pinto Loureiro (4), Vitorino Nemésio (3), José Pinto Loureiro, Arquitecto Edmundo Tavares, Maximino Correia e Sílvio Pélico. Apesar da sua costela republicana, maçónica e democrática, a direcção da ULC não deixou de convidar oradores conservadores como o Arquitecto Edmundo Tavares que numa conferência realizada a 19 de Março de 1929 na Delegação da ULC na Figueira da Foz falou sobre “O valor da arquitectura. O mau gosto da arquitectura moderna”.
Os cursos mistos ministrados versaram História, Francês, Escrituração Comercial, Botânica, Dactilografia, Aritmética, num total de 19 especializações.
Em 05 de Abril de 1929 a ULC conseguiu inaugurar na Figueira da Foz uma extensão, cuja apresentação solene ocorreu nos Paços do Concelho. Apenas na fase final a Delegação da Figueira da Foz obteve uma sede (Janeiro de 1933), tendo permanecido a maior parte da sua curta existência no edifício da Associação da Classe dos Carpinteiros Civis Figueirenses.
Mas a ULC encaminhava-se a passo estugado para o fim. A derradeira palestra seria proferida por Joaquim Manso nos Paços do Concelho de Coimbra em 1933. Ao longo das suas intervenções os conferencistas haviam exaltado os valores do republicanismo, da democracia, da educação sexual esclarecida e o direito a debaterem livremente questões como a santidade. A ULC responsabilizou por certas lacunas estruturais da instrução portuguesa a Monarquia Constitucional e a Companhia de Jesus, reivindicando um ensino laico, o direito à educação sexual, a aproximação entre as elites e o operariado, o acesso das mulheres à escolarização, a implementação dos infantários, a necessidade do ensino técnico-profissional e da formação pedagógica dos ensinantes.
Vistos como um “baluarte da liberdade”, confessadamente republicanos, laicos e/ou maçónicos, os elementos mais radicais da ULC ter-se-ão defrontado com dificuldades internas e crescentes investidas externas. Em Janeiro de 1930 surgiu em Coimbra o Instituto de Estudos Livres (IEL), instituição a que prestaram activa colaboração Vitorino Nemésio, Sílvio Lima e Mário Cal Brandão[17]. Este organismo funcionou até 1933, podendo conjecturar-se se não terá representado uma espécie de dissidência fase às orientações da ULC[18]. Asperamente criticados pelo teor das conferências onde defendiam a necessidade de uma educação sexual esclarecida que permitisse combater a transmissão de doenças veneras, os ataques subiram de tom na passagem de 1932 para 1933 a pretexto de uma intervenção de Tomás da Fonseca sobre “O Santo Condestável”. Fustigado pelos estudantes católicos do CADC, que se envolveram num agressivo boicote a uma das palestras, Tomás da Fonseca viu-se a braços com acusações exaradas por Trindade Salgueiro[19].
Encerrada a ULC, seguiram-se as purgas. Joaquim de Carvalho permaneceu na Faculdade de Letras da UC, mas a Imprensa da Universidade foi encerrada em 1934[20]. Sílvio Lima e Aurélio Quintanilha foram alvo de saneamentos, no decurso do positivado no Decreto Nº 25.317, de 13/05/1935[21]. O Secretário da UC, José de Oliveira Neves, que a pedido da ULC proferira em 1933 virulenta palestra no Salão dos Artistas contra o fascismo, o nazismo e o nacional-sindicalismo, viu-se igualmente demitido. No dizer de Belisário Pimenta, Nemésio transferiu-se para Lisboa e aspirando à cátedra procurou dar mostras de lhano comportamento[22].
Dos poucos documentos internos da ULC a que conseguimos aceder, concitam as atenções o Boletim de Inscrição para Sócio, impresso nos inícios de Janeiro de 1925, sem qualquer selo ou timbre no cabeçalho. No meio de alguns papéis soltos encontrámos o rosto de um envelope de remessa de documentos/ou livros, de Espinho para o Director da ULC, com data de 1925, onde consta a frase publicitária “Ciência para todos”. Aparecem ainda facturas soltas relativas ao fornecimento de materiais eléctricos pela casa Caetano da Cruz Rocha (Rua Ferreira Borges, 129, Coimbra), trabalhos de pintura de madeiras (casa Saul de Almeida, 25$00 em 09/01/1926), programas de “Concertos Populares” e facturas municipais de consumos de energia eléctrica.
Selos e carimbos encontram-se omissos nas rarefeitas amostragens a que conseguimos aceder. Contudo, um postal impresso em 1930 confirma que a ULC-Instituto de Educação Popular adoptou entre 1925 e 1933 como símbolo oficial um círculo no interior do qual se inscrevia uma mão aberta, de cuja concha nasciam chamas e raios.
No estudo de mestrado realizado em 1999 na Universidade do Minho, Maria Gracinda Marques aprofunda a existência da ULC e sua Delegação da Figueira da Foz, recorrendo exaustivamente aos jornais da época 1925-1933. Porém, não dá conta dos “Estatutos” que regiam a instituição, sendo de admitir que o projecto não tenha sido impresso por necessidade de poupança de fundos. Contudo, jornais como “A Batalha”, de 20/12/1924, a “Gazeta de Coimbra”, de 20/12/1924 e “O Despertar”, de 01/01/1925 referem expressamente os “estatutos” da ULC.
Os documentos que nos propomos publicar incluindo impressos soltos e as folhas manuscritas do “Estatuto”, são provenientes de um acervo particular conimbricense, a que tive acesso por intermédio de Carlos Alberto Dias.

VI – O Estatuto da ULC
Universidade Livre de Coimbra
(Instituto de Educação Popular)

Artigo 1º - A Universidade Livre, com sede em Coimbra e secções ou delegacias em quaisquer localidades, é um instituto de educação popular que actua fora de qualquer escola política ou religiosa e que tem por função:
a) fomentar a cultura e a educação moral e social;
b) promover a aproximação dos trabalhadores manuais e intelectuais;
c) auxiliar a obra de extensão universitária.

Artigo 2º - Para atingir as suas finalidades, a Universidade Livre exerce a sua actividade:
1) promovendo conferências, cursos, lições, palestras, excursões e viagens de estudo, espectáculos e sessões cinematográficas, festas de carácter educativo, concertos musicais;
2) organizar, auxiliar e manter bibliotecas e salas de leitura, bem como museus de carácter pedagógico;
3) vender e editar livros, estampas, folhetos e quaisquer outras publicações cuja doutrina se coadune com os propósitos da Universidade Livre;
4) colaborar com todas as escolas na realização de uma mais intensa e extensa acção educativa no seio das classes de trabalho manual;
5) manter relações com organismos congéneres e com aqueloutros que tenham por finalidade alguns dos objectivos da Universidade Livre;
6) finalmente, exercer qualquer outra actividade atinente à cultura moral e social das massas populares.

Dos Sócios
Artigo 3º - A Universidade Livre é constituída por todos os indivíduos maiores de 16 anos, seja qual for o seu sexo ou nacionalidade, que se proponham cooperar na sua obra de educação.
Artigo 4º - Cada sócio obriga-se ao pagamento de uma quota mensal mínima de 1$00 e a prestigiar por todas as formas ao seu alcance este instituto de educação.
Único – Com designação de sócios fundadores serão inscritos todos os indivíduos que até 31 de Dezembro de 1925 contribuam com a importância mínima de 10$00, além da quotização, paga de uma só vez ou em prestações.
Artigo 5º - Os sócios têm os seguintes direitos:
1º - tomar parte em todos os trabalhos de divulgação científica e educativos da Universidade e votar ou ser eleito [ou] nomeado para qualquer cargo social;
2º – assistir às prelecções, leituras públicas, conferências, cursos livres, aulas e congressos, e bem assim às visitas, excursões, sessões cinematográficas, representações populares, concertos musicais e festas educativas;
3º - frequentar a sede, a biblioteca e as salas de leitura da Universidade;
4º - tomar parte nos trabalhos das assembleias gerais, discutindo, votando e propondo[23].
Único: pertence ao C[onselho] A[dministrativo] organizar e estabelecer as condições de entrada nos festivais estabelecidos no nº 2 deste artigo.
Artigo 6º - os sócios obrigam-se a:
1º - pagar pontualmente as suas quotas, e o Estatuto no acto de admissão;
2º - observar e cumprir o Estatuto e regulamentos da Universidade e cooperar na sua acção e desenvolvimento.
Artigo 7º - O sócio perde os seus direitos quando estiver em atraso de apagamento de seis meses de quotas, sendo eliminado quando não efectuar o respectivo pagamento após dois avisos a fazerem-se dentro dum mês.
Único – A Assembleia Geral ou o Conselho Administrativo podem, todavia, atender a quaisquer circunstâncias comprovadas que forcem o sócio ao não pagamento pontual da sua quotização, competindo-lhes determinar as condições d pagamento das quotas em débito.
Artigo 8º - O sócio que contrarie ou prejudique a obra da Universidade Livre pode ser eliminado pelo Conselho Adm[inistrativo].
Único – Desta resolução cabe recurso para a Assembleia Geral que resolverá então definitivamente.

Da Assembleia Geral
Artigo 9º - A Assembleia Geral é constituída por todos os sócios efectivos, em pleno gozo dos seus direitos.
Artigo 10º - A Assembleia Geral reúne ordinariamente até 15 de Novembro de cada ano para apreciar o relatório de contas do ano social anterior e proceder às eleições gerais dos corpos administrativos.
Único – A Assembleia Geral reúne na primeira convocação com maioria absoluta de sócios em efectividade de direitos e na segunda, decorridos 8 dias, com qualquer número.
Artigo 11º - Extraordinariamente, a Assembleia Geral reúne-se:
1º - por convocação do Conselho Administrativo;
2º - a requerimento de 20 sócios em gozo pleno dos seus direitos. Este requerimento é dirigido ao C. A. que a convocará dentro do prazo de 8 dias a contar da data de recepção do ofício-requerimento.
Artigo 12º - As A[ssembleias] G[erais] extraordinárias são convocadas com a indicação do assunto nela a tratar e reúnem à primeira convocação com qualquer número de sócios que nessa data usufruam os direitos que o Estatuto lhe consigna.
Artigo 13º - As A[ssembleias] G[erais] são dirigidas por uma mesa eleita em cada sessão[24].

Da Administração
Artigo 14º - A Universidade Livre é dirigida por um Conselho Administrativo e fiscalizada na sua receita e despesa por um Conselho Fiscal.
Artigo 15º - O C. A. é composto de 11 membros efectivos e 4 suplentes, eleitos anualmente por escrutínio secreto, fixando-se o critério de ser organizado, sendo possível, com elementos de diferentes ocupações.
Artigo 16º - Ao C. A. compete executar e fazer executar as disposições do Estatuto e os votos das As[ssembleias] Gerais, manter e defender a boa ordem e decoro da Universidade e promover o seu engrandecimento e a eficácia da sua obra.
Artigo 17º - O C. A. reúne ordinariamente todos os meses e em dia previamente marcado, e extraordinariamente por iniciativa própria ou a convite do seu secretariado.
Único – Em qualquer caso, o C. A. só poderá funcionar com a presença da maioria dos seus membros.
Artigo 18º - Quando um vogar do C. A. falte a três reuniões sucessivas sem motivo justificado, peça recusa fundada ou por qualquer imperiosa razão não possa continuar a fazer parte deste organismo administrativo, será chamado um suplente, segundo a ordem decrescente da sua votação e da sua idade.
Artigo 18º, 1º - Ao C. A. pertence a elaboração do regulamento ou regulamentos necessários à boa execução deste Estatuto e a nomeação de comissões especiais de sócios para estudo, preparação e consulta de quaisquer assuntos, e dissolvê-las ou reconstituí-las quando entender ser conveniente.
Artigo 19º - Como seu agente de acção, o C. A. elegerá de entre os seus componentes um Secretariado composto de cinco membros, ao qual compete a realização das deliberações do C. A., ao qual pertence a permanente administração da U. L. e a boa ordem e desenvolvimento da sua actividade pedagógica.
Artigo 20º - O Secretariado terá um secretário geral, que é também o presidente do C. A., e quatro secretários adjuntos aos quais pertence a gerência dos assuntos que o C. A. por proposto do Secretariado estabelecer.
Artigo 21º O Secretariado reúne anualmente e em dia determinado e a sua acção é permanente.
Artigo 22º - O C[onselho] Fiscal é constituído por 3 membros eleitos anualmente, cumprindo-lhe examinar a escrituração e os respectivos documentos, verificar todos os valores sociais, zela pela vida financeira da Universidade, cooperar com o C. A. nas questões de carácter meramente administrativo e apresentar à A[ssembleia] Geral ordinária o parecer sobre o relatório de contas do C. A.

Dos Fundos
Artigo 23º - os fundos da Universidade são constituídos pelas quotizações, venda de publicações, donativos, subsídios e qualquer outra receita eventual.
Único – Fica criado um fundo de reserva para a construção dum edifício para sede social da Universidade, constituído, pelo menos, por 10% da receita de cada ano.

Disposições Gerais
Artigo 24º - A Universidade Livre só pode ser dissolvida em A[ssembleia] Geral para tal fim convocada e com a comparência de 2/3 dos sócios em completo gozo dos seus direitos.
Único – Em caso de dissolução, revertem os seus fundos em benefício das associações congéneres existentes no país.
Artigo 25º - Sobre qualquer caso omisso neste Estatuto, resolve o C. A.
ANOTAÇÕES
[1] Dados sumários em J. Victor de Sá, “Universidades Populares na 1ª República”, Universidade(s). História. Memória. Perspectivas. Actas 1, Coimbra, 1991, pp. 471-476; no mesmo sentido, embora sinalizando em primeiro lugar a Pontifícia Universidade de Roma, Joaquim Veríssimo Serrão, “História das Universidades”, Porto, Lello & Irmão Editores, 1983, pp. 167-169.
[2] Para o período vintista, veja-se Luís Reis Torgal, “Universidade, Conservadorismo e Dinâmica de Mudança nos primórdios do Liberalismo em Portugal”, Revista de História das Ideias, Nº 12, 1990, pp. 129-219. Para os finais da Monarquia Constitucional, Elzira Machado Rosa, “Bernardino Machado e a Universidade de Coimbra”, Revista de História das Ideias, Nº 12, 1990, pp. 257-267; Joaquim Ferreira Gomes, “A ideologia oficial da Universidade de Coimbra em 1910, antes da proclamação da República: uma mistura do serviço de Deus e do serviço de Minerva”, Universidade(s). História. Memórias. Perspectivas. Actas 1, Coimbra, 1991, pp. 429-448; Rui Manuel Afonso da Costa, “A Universidade entre o conservadorismo e a mudança nos primórdios do século XX”, Universidade(s). História. Memórias. Perspectivas. Actas 1, Coimbra, 1991, pp. 449-470. Para uma reflexão mais actualizada sobre a Reforma Pombalina, leia-se o colectivo coordenado por Ana Cristina Araújo, “O Marquês de Pombal e a Universidade”, Coimbra, Imprensa da Universidade, 2000.
[3] Joaquim Martins de Carvalho, “Apontamentos para a História Contemporânea”, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1868, pp. 219-220.
[4] Rogério Fernandes, “Instrução Operária e intervenção estudantil em Coimbra nos começos da Regeneração”, Revista de História das Ideias, Nº 12, 1990, pp. 221-556, em particular pp. 235-238.
[5] Caso do poeta-operário e actor amador Adelino Veiga, figura que nas décadas de 1920-1930 ainda era considerada o patrono espiritual do operariado local. Cf. António Gonçalves, “Vida e obra de Adelino Veiga, poeta-operário conimbricense”, Coimbra, GAAC, 1993.
[6] Margarida Donas Botto e Nuno Rosmaninho, “O restauro da Sé Velha de Coimbra (1893-ca. 1935)”, VÉRTICE, II Série, Nº 54, Maio-Junho de 1993, pp. 23-31.
[7] Leituras de apoio em António de Vasconcelos, “O Selo Medieval da Universidade”, Coimbra, Coimbra Editora, Lda., 1938; António Gomes da Rocha Madahil, “Novos documentos para a história da insígnia e do selo da Universidade de Coimbra”, Coimbra, Tipografia da Coimbra Editora, 1949.
[8] “Auroras da Instrução pela iniciativa particular”, 2ª edição, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1885, p. 188.
[9] Relatos em “O Tribuno Popular”, de 03/02/1897; “O Conimbricense”, de 03/02/1897; “Gazeta de Coimbra”, 07/02/1925.
[10] Assunto escalpelizado por Maria Gracinda Leonês Dantas Gonçalves Marques, “As Universidades Livres e Populares Portuguesas em Coimbra e no Porto (Dos finais do século XIX à década de trinta do século XX)”, Braga, Universidade do Minho/Instituto de Ciências Sociais, 1999, Tomo I, pp. 107-111 (tese de Mestrado orientada pelo Prof. Doutor Norberto Cunha).
[11] A ULC encontra-se exaustivamente estudada por Maria Gracinda Marques, op. cit. Tomo I, Capítulo IV (As Universidades Livres e Populares em Coimbra), pp. 114-167. Idem, Tomo II, com diversos anexos referentes aos palestrantes, cronologia das comunicações e levantamento das notícias de imprensa.
[12] “Gazeta de Coimbra”, de 07/02/1925.
[13] “Diário de Coimbra”, de 25/06/1932.
[14] “Voz de Coimbra”, de 10/05/1925.
[15] “O Despertar”, de 24/03/1928.
[16] “Diário de Coimbra”, de 17/09/1930.
[17] “O Despertar”, de 29/01/1930.
[18] Hipótese aflorada por Maria Gracinda Marques, pese embora sem dados comprovativos. Cf. op. cit., Tomo I, p. 165.
[19] Vide “Correio de Coimbra”, de 18/02/1933, jornal que defendia a posição dos católicos.
[20] Luís Reis Torgal, “O contexto político da extinção da Imprensa da Universidade pelo Estado Novo”, in Imprensa da Universidade de Coimbra. Uma história dentro da História, Coimbra, Imprensa da Universidade, 2001, pp. 93-124.
[21] Contextualização em Luís Reis Torgal, “A Universidade e o estado Novo. O caso de Coimbra (1926-1961)", Coimbra, Minerva, 1999, pp. 87-92.
[22] Nuno Rosmaninho, “Vitorino Nemésio no Diário de Belisário Pimenta”, Revista da Universidade de Aveiro-Letras, 19/20, 2002-2003, pp. 317-343.
[23] Acrescentado na margem direita da 4ª folha.
[24] À frente da frase seguia a anotação manuscrita “Nelas vide a soberania dos associados”.


Universidade Livre de Coimbra (5)
Folha de rosto do manuscrito do "Estatuto".
AMNunes


Universidade Livre de Coimbra (4)
Apesar da evidente má qualidade da fotocópia, não resistimos a publicar este bilhete postal, em cujo cabeçalho figura o emblema da ULC, um círculo com uma mão aberta, de cujo interior brotam chamas de sabedoria.
AMNunes

Universidade Livre de Coimbra (3)
Segundo concerto musical realizado no Teatro Sousa Bastos sob a direcção do Prof. de Música do Liceu Dr. Manuel da Câmara Reis.
AMNunes


Universidade Livre de Coimbra (2)
Factura dos serviços municipalizados de electricidade relativa a 1928.
AMNunes


Universidade Livre de Coimbra (1)
Boletim de inscrição de sócio, impresso em inícios de 1925.
AMNunes

domingo, fevereiro 04, 2007

José Henrique Dias no jornal Despertar de 2-2-2007, continuando os seus artigos com o título genérico"A Outra Face do Espelho".

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